Votação do terceiro resgate criou divisões nos partidos do poder da Alemanha e Grécia

por Andreia Martins - RTP
Hannibal Hanschke/Reuters

Depois do acordo alcançado no início da semana após a maratona de negociações em Bruxelas, as os parlamentos nacionais votam um acordo que define os parâmetros do terceiro resgate. A Grécia e a Alemanha conseguiram, com contradições no seio dos principais partidos, aprovar os termos das negociações, mas há mais países europeus que ainda terão de levar o acordo a votos nos respetivos parlamentos.

Alexis Tsipras levou ao Parlamento helénico um acordo que obrigou à remodelação de pastas no executivo e no seio do próprio partido. Dos 300 parlamentares, 229 aprovaram as novas medidas de austeridade, enquanto 64 (metade destes do Syriza) votaram contra a proposta apresentada pelo próprio representante partidário.

A aprovação do acordo de Bruxelas acabou por ficar mesmo dependente dos partidos da oposição, nomeadamente a Nova Democracia e o PASOK, anteriormente no Governo.
Dos 149 deputados do Syriza, quase um quarto votou contra ou absteve-se.

Em Berlim, o parlamento alemão aprovou por larga maioria a negociação do terceiro plano de resgate à Grécia. Ao todo, 439 deputados votaram a favor e 119 votaram contra o pedido do Governo para poder negociar o terceiro resgate financeiro a Atenas, que poderá chegar aos 86 mil milhões de euros.

Apesar da luz verde concedida pelo Bundestag, os maiores sinais de discordância chegaram do próprio partido de Angela Merkel. Um quinto dos deputados da CDU alemã (48 deputados) votou contra o acordo apresentado pela chanceler, tendo também votado contra 13 deputados do partido-irmão CSU, e havendo  cinco abseções da CDU a registar.

Os socialistas do SPD, encabeçados por Sigmar Gabriel, foram mesmo o partido mais consistente e unido na aprovação do acordo, com apenas quatro votos contra entre os 175 deputados.

Enquanto Atenas vê nas novas medidas de austeridade, opostas às promessas eleitorais do Syriza, um agravamento das dificuldades económicas e sociais, na Alemanha predomina a leitura dos credores, que revela sobretudo a desconfiança em relação ao futuro pagamento das dívidas que já existem.

De todas as entidades europeias e internacionais que emprestaram dinheiro à Grécia, Berlim é mesmo a que mais contribuiu nos dois anteriores resgates concedidos à Grécia, num total de 56 mil milhões de euros.

Com maior ou menor dificuldade, a aprovação nos dois parlamentos abre caminho a um acordo que evita no imediato um cenário de “Grexit”.

No debate que antecedeu a votação, Angela Merkel apelou à aprovação do acordo e excluiu por completo a hipótese de um Grexit, ainda que temporário, que o seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, voltou a defender: “A alternativa a este acordo não seria um time-out do euro, mas antes um caos previsível. Seria negligente e irresponsável se não tentássemos seguir com este acordo”.  
Parlamentos que ainda não votaram o acordo
Para além das votações decisivas que já tiveram lugar esta semana, outros países são constitucionalmente obrigados a levar a votos os termos para o início das negociações de um novo resgate.

Mesmo nos países europeus que não determinam obrigatoriamente a votação, as posições quanto à crise na Grécia poderão representar um foco de cisões e divisões importantes no que diz respeito à política interna dos Estados-membros e marcar a agenda nos calendários eleitorais.

Áustria, Espanha, Estónia e Letónia são os restantes quatro países cuja Constituição obriga à votação em Parlamento, onde é esperado que o acordo seja aprovado, tal como aconteceu na Grécia e na Alemanha, dada a enorme fragilização a que seriam expostas as economias referidas em caso de um Grexit, em especial os dois países do Báltico.

No parlamento francês, a votação não era de caráter obrigatório mas ditou também a aprovação do acordo, com 412 votos a favor num total de 577 assentos. Também na Finlândia, onde a votação era facultativa, as bases para a negociação foram aprovadas.
pub