Administração Obama lança violento ataque verbal contra Israel

por RTP
James Lawler Duggan, Reuters

O secretário de Estado John Kerry lançou uma série de críticas a Israel e de vaticínios sombrios sobre o futuro do Médio Oriente. A três semanas de deixar o cargo.

Kerry reafirmou a tradicional doutrina norte-americana, segundo a qual "a solução dos dois Estados [israelita e palestiniano] é a única a garantir uma paz justa e duradoura".

Segundo citação do seu discurso de fundo no diário israelita Haaretz, Kerry reiterou também que essa solução "é a única via para assegurar o futuro de Israel como país judeu e democrático (...), é a única via para assegurar o furuto da liberdade e dignidade para o povo palestiniano e é uma importante para promover os interesses dos EUA no Médio Oriente".

O que havia de novo no discurso de Kerry era um profundo cepticismo sobre a sinceridade de Israel nas profissões de fé que também tem emitido até agora, a favor da referida solução dos "dois Estados".

Assim, e depois de ter reafirmado a amizade americano-israelita, Kerry sublinhou: "Os amigos têm de dizer uns aos outros as verdades difíceis". E concretizou: "A votação na ONU destinou-se a proteger uma solução viável de dois Estados (...), Israel a viver lado a lado com um Estado palestiniano (...) É isso que estamos a tentar preservar".

Também segundo Kerry, "nenhuma Administração americana fez mais pela segurança de Israel que a [Administração] de Barack Obama. O próprio primeiro-ministro israelita notou a cooperação sem precedentes em matéria de inteligência militar".

Aludindo ao debate em curso no seio da direita israelita, que pretende assumir a rejeição da perspectiva biestatalista para a região, Kerry profetizou: "Se a opção for por um Estado só, Israel não poderá ser judeu ou democrático; não pode ser ambos e nunca viverá em paz".

Para além do debate sobre a declarada rejeição de um Estado palestiniano, existem os factos consumados. Ainda segundo Kerry, "a decisão sobre um Estado ou dois Estados está efectivamente a ser feita no terreno dia após dia, apesar das opiniões da maioria do povo".

Depois de ter condenado em termos veementos o que classificou como terrorismo palestiniano, Kerry rotulou o Governo de Netanyahu como "o mais à direita na história de Israel" e acrescentou que as suas prioridades são definidas pelos "elementos mais extremistas".

E ilustrou esta afirmação com a atitude do Governo de Netanyahu sobre os colonatos, considerando-o "mais empenhado nos colonatos do que qualquer um na história de Israel". E sustentou que o problema é "se a terra [na Cisjordânia] pode ser ligada ou separada em pequenas partes como um queijo suíço".

Kerry exibiu o seu conhecimento de uma realidade que durante anos tem sido ignorada pelas sucessivas equipas da Casa Branca: "As quintas israelitas florescem no Vale do Jordão e resorts israelitas sucedem-se ao longo do Mar Morto, onde não é permitido qualquer desenvolvimento palestiniano".

O discurso de Kerry tem sido aguardado com expectativa e poderá ser tomado como ponto de partida para a conferência de paz agrendada para 15 de janeiro em Paris, cinco dias antes da tomada de posse do novo presidente norte-americano, Donald Trump.

Trump, por seu lado, já anunciou que reconhecerá o direito de Israel a construir indiscriminadamente colonatos em território palestiniano ocupado, o que equivale a reconhecer a obsolescência da doutrina dos dois Estados.
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