Mundo
Alemanha dividida quer acelerar deportações de imigrantes
Dois ministros do Governo de Angela Merkel propuseram esta terça-feira um endurecimento das penas atribuídas a estrangeiros que cometam crimes em solo alemão. O ministro do Interior, o conservador Thomas de Maiziére, e o ministro da Justiça, o social-democrata Heiko Maas, propõem que estrangeiros considerados culpados de agressões físicas e sexuais, que resistam à polícia ou que destruam propriedade, possam ser deportados.
Sob a atual legislação alemã, a maioria destes crimes é punida com sentenças que não implicam expulsão.
A chanceler Angela Merkel aplaudiu a proposta feita pelos ministros que representam ambos os partidos, conservador e social-democrata, da coligação governamental.
"Temos de garantir que a lei possa entrar em vigor o mais depressa possível. Primeiro, temos de pensar como podemos acelerar o processo parlamentar tão depressa como pudermos", reagiu Merkel.
A chanceler afirmou já que a vaga migratória está a deixar a Europa "vulnerável" por ainda não possuir a ordem e o controlo necessários para a administrar.
Governo e polícia "debaixo de fogo"
A proposta dos dois ministros procura responder ao sucedido em Colónia e noutras cidades alemãs na noite do fim de ano.
Em 11 dias foram apresentadas em várias cidades alemãs mais de 600 queixas de mulheres por agressão sexual ocorrida nessa noite. Os testemunhos coincidem ao referir que, mesmo se acompanhadas pelos companheiros, muitas mulheres foram rodeadas por dezenas de homens que as agrediram e molestaram.
Em Colónia, a investigação policial, que ainda decorre, provou que mais de 1.000 homens, quase exclusivamente estrangeiros e requerentes de asilo, foram os responsáveis pelo sucedido.
A polícia mostrou-se incapaz de conter e de controlar a violência, tendo detido apenas 23 dos seus alegados responsáveis. O comandante da polícia de Colónia foi entretanto demitido.
Tempestade nos media
Mas não são só os governantes e as forças de segurança que estão na corda-bamba. Os próprios media, que 'acordaram' tarde para a gravidade dos acontecimentos em Colónia, estão a ser acusados de tentar encobrir o sucedido para não denegrir a imagem dos imigrantes e dos refugiados.
Em menos de duas semanas, a Alemanha ficou dividida por ódios e acusações mútuas. Nas redes sociais, os debates e discussões, recheados de insultos, de ameaças e de apelos infrutíferos à calma e à tolerância, sucedem-se.
Um portal de notícias terminou mesmo um artigo sobre o assunto - todos os dias se publicam múltiplos textos sobre o que está a suceder - avisando para o facto de ter bloqueado os comentários:
"Caras leitoras e leitores, pedimos a vossa compreensão para o facto de, ao contrário de vários outros artigos do nosso portal, não haver no fim deste artigo uma função de comentário. Infelizmente chegam-nos sobre este tema tantos comentários insensatos e ofensivos, que deixou de ser possível um controlo consciencioso e justo segundo as regras da nossa Netiquette", explicou o Merkur.Merkel, "desaparece"
Todo o caso da noite de fim de ano tem sido aproveitado por diversos grupos anti-imigração para mostrar os erros da política de acolhimento de Merkel. E encontram eco em muitos alemães, chocados com o comportamento adotado por alguns estrangeiros.
A repressão musculada das manifestações anti-imigrantes e anti-muçulmanos, como sucedeu num recente protesto em Colónia, também pode lançar lenha na fogueira da contestação às autoridades.
Desde a semana passada, quase todos os dias se registam ataques contra abrigos de refugiados.
A noite passada, em Leipzig, cerca de 250 hooligans de extrema-direita lançaram uma onda do que o burgomestre de Leipzig Burkhard Jung (SPD) classificou como "terror de rua", em nome do grupo Legida (Cidadãos de Leipzig contra a Islamização do Ocidente).
Os 250 mascarados invadiram o bairro de Connewitz, conhecido como baluarte da esquerda, usando very lights e partindo montras de lojas. Tentaram ainda improvisar barricadas.


O bairro estava desprotegido porque muitos dos seus habitantes tinham ido participar numa manifestação anti-xenófoba e pela tolerância no centro da cidade. A polícia levou a cabo 211 detenções em Connewitz e teve cinco agentes feridos.
Ao mesmo tempo, também em Leipzig, cerca de 2.000 pessoas manifestaram-se pacificamente com cânticos a pedir a demissão da chanceler. Erguiam cartazes com uma imagem de Merkel envergando um véu e a frase "Merkel, pega nos teus muçulmanos e desaparece".



Alemães contra alemães
O ministro federal da Justiça, Heiko Maas (SPD), repudiou já "o incitamento generalizado contra estrangeiros" e, concretamente, as violências cometidas no domingo à noite em Colónia por um grupo de 20 pessoas contra seis paquistaneses, bem como por um grupo de cinco pessoas contra um sírio. Os grupos de agressores seriam, segundo o diário "Express", bandas de rock, holligans e seguranças, que se combinaram via Facebook.
O chefe da polícia de Colónia, Norbert Wagner, disse no fim-de-semana que se tratou de violência xenófoba, "um sinal alarmante, que levamos muito a sério". Em poucas horas, a polícia terá interpelado 153 pessoas ligadas à extrema-direita, para averiguar a origem das violências de domingo.
Já dia 8, sexta-feira, uma manifestação em Colónia juntou algumas centenas de extremistas de direita, incluindo hooligans violentos. Segundo o Pegida, um movimento popular anti-imigração, do seu lado estariam 3.000 manifestantes. A manifestação do Pegida era apoiada pelo partido de extrema-direita Pro-Köln.
De acordo com o Merkur, uma porta-voz da polícia federal disse que o ambiente era "de grande exaltação". Um porta-voz da polícia de Colónia falou mesmo de um "ambiente de agressividade". Segundo o mesmo porta-voz, foram mobilizados 1.700 polícias, quase todos de intervenção. Foram apreendidos aos manifestantes machados de incêndio e artefactos de pirotécnia.
Outra manifestação de sinal contrário juntou também dia 8, em Colónia, 1.300 pessoas "contra o racismo e o sexismo". As palavras de ordem eram "Não à agitação racista! Não à violência sexual!" Na sua maioria, eram mulheres que se manifestavam.
Na segunda feira à noite registaram-se também violências em Potsdam, quando um encontro do Pegida foi atacado à pedrada e com bolas de neve por contramanifestantes. A polícia interveio com gás-pimenta, e registou cinco agentes feridos. Não se registaram feridos entre os manifestantes. Algum tempo antes, tinha havido no centro de Potsdam uma manifestação de algumas centenas contra o Pegida.
Delitos "organizados"
As próprias autoridades estão divididas sobre a avaliação ao sucedido em Colónia e noutras cidades - além da Alemanha, também Helsínquia, capital da Finlândia, conheceu uma noite de agressões e a polícia finlandesa reconheceu depois que tinha sido avisada de que algo se preparava.
Informações que pareceram dar crédito ao que defendeu de início o ministro Heiko Maas. "Quando uma horda assim se encontra para cometer delitos, isso parece ter sido planeado de alguma forma. Que ninguém me venha contar que isso não foi combinado ou preparado", afirmou o ministro federal da Justiça.
Contudo, até agora, as investigações não lhe dão razão, como referiu o procurador-geral Dieter Schürman à Comissão parlamentar do Land Renânia-Norte Vestefália. "Até agora não há resultados de investigações que mostrem ter sido organizado ou comandado o comportamento da totalidade ou de parte dos grupos da noite de ano novo em Colónia", referiu.
"O facto de ter havido delitos semelhantes a nível federal leva antes a concluir que se tratou de delitos que não foram cronológica ou hierarquicamente pré-programados", acrescentou.
Partidos anti-imigração sobem
A pressão contra Merkel, que tem tentado convencer os alemães de que "vai ser possível" acolher este fluxo súbito de migrantes, aumentou exponencialmente nos últimos dias.


O deputado conservador Michael Grosse-Broemer apelou à limitação de imigração vinda de Marrocos, da Argélia e da Tunísia. No passado, uma medida semelhante imposta aos Balcãs resultou numa diminuição drástica de entradas de nacionais dos países dessa zona europeia.
A Alemanha é o país que, até agora, acolheu maior número de imigrantes - mais de um milhão só em 2015. Exemplos como a Dinamarca, que tem endurecido a sua política contra os refugiados, ou como a Hungria, que apela à proibição absoluta de mais entradas, começam a chamar a atenção dos alemães.
A violência do fim do ano reflete-se já, aliás, no apoio popular ao Governo de Merkel, que desceu um ponto percentual para os 35 por cento, enquanto o Alternativa para a Alemanha, de direita e crítico severo da política de Merkel para os refugiados, subiu dois pontos, para os 11,5 por cento.


Com legislação mais dura para quem cometa crimes, o Governo da chanceler tenta assim recuperar o apoio dos seus eleitores, após a violência registada no fim do ano, a qual está a gerar uma enorme controvérsia no país e ameaça desencadear uma onda de violência contra quaisquer estrangeiros
A chanceler Angela Merkel aplaudiu a proposta feita pelos ministros que representam ambos os partidos, conservador e social-democrata, da coligação governamental.
"Temos de garantir que a lei possa entrar em vigor o mais depressa possível. Primeiro, temos de pensar como podemos acelerar o processo parlamentar tão depressa como pudermos", reagiu Merkel.
A chanceler afirmou já que a vaga migratória está a deixar a Europa "vulnerável" por ainda não possuir a ordem e o controlo necessários para a administrar.
Governo e polícia "debaixo de fogo"
A proposta dos dois ministros procura responder ao sucedido em Colónia e noutras cidades alemãs na noite do fim de ano.
Em 11 dias foram apresentadas em várias cidades alemãs mais de 600 queixas de mulheres por agressão sexual ocorrida nessa noite. Os testemunhos coincidem ao referir que, mesmo se acompanhadas pelos companheiros, muitas mulheres foram rodeadas por dezenas de homens que as agrediram e molestaram.
Em Colónia, a investigação policial, que ainda decorre, provou que mais de 1.000 homens, quase exclusivamente estrangeiros e requerentes de asilo, foram os responsáveis pelo sucedido.
A polícia mostrou-se incapaz de conter e de controlar a violência, tendo detido apenas 23 dos seus alegados responsáveis. O comandante da polícia de Colónia foi entretanto demitido.
Tempestade nos media
Mas não são só os governantes e as forças de segurança que estão na corda-bamba. Os próprios media, que 'acordaram' tarde para a gravidade dos acontecimentos em Colónia, estão a ser acusados de tentar encobrir o sucedido para não denegrir a imagem dos imigrantes e dos refugiados.
Em menos de duas semanas, a Alemanha ficou dividida por ódios e acusações mútuas. Nas redes sociais, os debates e discussões, recheados de insultos, de ameaças e de apelos infrutíferos à calma e à tolerância, sucedem-se.
Um portal de notícias terminou mesmo um artigo sobre o assunto - todos os dias se publicam múltiplos textos sobre o que está a suceder - avisando para o facto de ter bloqueado os comentários:
"Caras leitoras e leitores, pedimos a vossa compreensão para o facto de, ao contrário de vários outros artigos do nosso portal, não haver no fim deste artigo uma função de comentário. Infelizmente chegam-nos sobre este tema tantos comentários insensatos e ofensivos, que deixou de ser possível um controlo consciencioso e justo segundo as regras da nossa Netiquette", explicou o Merkur.Merkel, "desaparece"
Todo o caso da noite de fim de ano tem sido aproveitado por diversos grupos anti-imigração para mostrar os erros da política de acolhimento de Merkel. E encontram eco em muitos alemães, chocados com o comportamento adotado por alguns estrangeiros.
A repressão musculada das manifestações anti-imigrantes e anti-muçulmanos, como sucedeu num recente protesto em Colónia, também pode lançar lenha na fogueira da contestação às autoridades.
Desde a semana passada, quase todos os dias se registam ataques contra abrigos de refugiados.
A noite passada, em Leipzig, cerca de 250 hooligans de extrema-direita lançaram uma onda do que o burgomestre de Leipzig Burkhard Jung (SPD) classificou como "terror de rua", em nome do grupo Legida (Cidadãos de Leipzig contra a Islamização do Ocidente).
Os 250 mascarados invadiram o bairro de Connewitz, conhecido como baluarte da esquerda, usando very lights e partindo montras de lojas. Tentaram ainda improvisar barricadas.
O bairro estava desprotegido porque muitos dos seus habitantes tinham ido participar numa manifestação anti-xenófoba e pela tolerância no centro da cidade. A polícia levou a cabo 211 detenções em Connewitz e teve cinco agentes feridos.
Ao mesmo tempo, também em Leipzig, cerca de 2.000 pessoas manifestaram-se pacificamente com cânticos a pedir a demissão da chanceler. Erguiam cartazes com uma imagem de Merkel envergando um véu e a frase "Merkel, pega nos teus muçulmanos e desaparece".
Alemães contra alemães
O ministro federal da Justiça, Heiko Maas (SPD), repudiou já "o incitamento generalizado contra estrangeiros" e, concretamente, as violências cometidas no domingo à noite em Colónia por um grupo de 20 pessoas contra seis paquistaneses, bem como por um grupo de cinco pessoas contra um sírio. Os grupos de agressores seriam, segundo o diário "Express", bandas de rock, holligans e seguranças, que se combinaram via Facebook.
O chefe da polícia de Colónia, Norbert Wagner, disse no fim-de-semana que se tratou de violência xenófoba, "um sinal alarmante, que levamos muito a sério". Em poucas horas, a polícia terá interpelado 153 pessoas ligadas à extrema-direita, para averiguar a origem das violências de domingo.
Já dia 8, sexta-feira, uma manifestação em Colónia juntou algumas centenas de extremistas de direita, incluindo hooligans violentos. Segundo o Pegida, um movimento popular anti-imigração, do seu lado estariam 3.000 manifestantes. A manifestação do Pegida era apoiada pelo partido de extrema-direita Pro-Köln.
De acordo com o Merkur, uma porta-voz da polícia federal disse que o ambiente era "de grande exaltação". Um porta-voz da polícia de Colónia falou mesmo de um "ambiente de agressividade". Segundo o mesmo porta-voz, foram mobilizados 1.700 polícias, quase todos de intervenção. Foram apreendidos aos manifestantes machados de incêndio e artefactos de pirotécnia.
Outra manifestação de sinal contrário juntou também dia 8, em Colónia, 1.300 pessoas "contra o racismo e o sexismo". As palavras de ordem eram "Não à agitação racista! Não à violência sexual!" Na sua maioria, eram mulheres que se manifestavam.
Na segunda feira à noite registaram-se também violências em Potsdam, quando um encontro do Pegida foi atacado à pedrada e com bolas de neve por contramanifestantes. A polícia interveio com gás-pimenta, e registou cinco agentes feridos. Não se registaram feridos entre os manifestantes. Algum tempo antes, tinha havido no centro de Potsdam uma manifestação de algumas centenas contra o Pegida.
Delitos "organizados"
As próprias autoridades estão divididas sobre a avaliação ao sucedido em Colónia e noutras cidades - além da Alemanha, também Helsínquia, capital da Finlândia, conheceu uma noite de agressões e a polícia finlandesa reconheceu depois que tinha sido avisada de que algo se preparava.
Informações que pareceram dar crédito ao que defendeu de início o ministro Heiko Maas. "Quando uma horda assim se encontra para cometer delitos, isso parece ter sido planeado de alguma forma. Que ninguém me venha contar que isso não foi combinado ou preparado", afirmou o ministro federal da Justiça.
Contudo, até agora, as investigações não lhe dão razão, como referiu o procurador-geral Dieter Schürman à Comissão parlamentar do Land Renânia-Norte Vestefália. "Até agora não há resultados de investigações que mostrem ter sido organizado ou comandado o comportamento da totalidade ou de parte dos grupos da noite de ano novo em Colónia", referiu.
"O facto de ter havido delitos semelhantes a nível federal leva antes a concluir que se tratou de delitos que não foram cronológica ou hierarquicamente pré-programados", acrescentou.
Partidos anti-imigração sobem
A pressão contra Merkel, que tem tentado convencer os alemães de que "vai ser possível" acolher este fluxo súbito de migrantes, aumentou exponencialmente nos últimos dias.
O deputado conservador Michael Grosse-Broemer apelou à limitação de imigração vinda de Marrocos, da Argélia e da Tunísia. No passado, uma medida semelhante imposta aos Balcãs resultou numa diminuição drástica de entradas de nacionais dos países dessa zona europeia.
A Alemanha é o país que, até agora, acolheu maior número de imigrantes - mais de um milhão só em 2015. Exemplos como a Dinamarca, que tem endurecido a sua política contra os refugiados, ou como a Hungria, que apela à proibição absoluta de mais entradas, começam a chamar a atenção dos alemães.
A violência do fim do ano reflete-se já, aliás, no apoio popular ao Governo de Merkel, que desceu um ponto percentual para os 35 por cento, enquanto o Alternativa para a Alemanha, de direita e crítico severo da política de Merkel para os refugiados, subiu dois pontos, para os 11,5 por cento.
Com legislação mais dura para quem cometa crimes, o Governo da chanceler tenta assim recuperar o apoio dos seus eleitores, após a violência registada no fim do ano, a qual está a gerar uma enorme controvérsia no país e ameaça desencadear uma onda de violência contra quaisquer estrangeiros