António Guterres diz que há falha na proteção contra o terrorismo

por RTP
Manuel Elias - EPA

António Guterres, ex-primeiro-ministro português, foi um dos candidatos ao cargo de secretário-geral das Nações Unidas a ser entrevistado perante os 195 países que integram a organização. Na sua intervenção, na sede da ONU em Nova Iorque, o candidato defendeu que a comunidade internacional está a falhar na prevenção e resolução de conflitos e na proteção global contra o terrorismo.

"Se há algo em que a comunidade internacional está a falhar é na prevenção e resolução de conflitos e na proteção da segurança global contra o terrorismo. É por isso que eu acredito que precisamos de um impulso na diplomacia para a paz", afirmou António Guterres.

Numa intervenção de cerca de dez minutos, em que falou de improviso e em inglês, francês e espanhol, o ex-primeiro-ministro português defendeu que "a liderança dos Estados-membros é essencial" e deu o exemplo recente da "iniciativa liderada pelos Estados Unidos e pela Federação Rússia" para alcançar um cessar-fogo na Síria.
Crise dos refugiados

O candidato a secretário-geral das Nações Unidas António Guterres defende que o "movimento de globalização é assimétrico" porque favorece a circulação de capital e não de pessoas.

O "dinheiro move-se livremente" mas "as pessoas não", afirmou o antigo primeiro-ministro português na audição pública sobre a sua candidatura na sede da ONU, em Nova Iorque, em que defendeu uma política mundial integrada que minimize o impacto das migrações.


O candidato disse que o objetivo deve ser combater os "traficantes" e os que se servem dos migrantes e refugiados, de modo a que a emigração seja "uma opção e não um ato de desespero".

No que respeita aos refugiados, António Guterres defendeu a responsabilização e a partilha de responsabilidades de todos os estados.

"Precisamos de resolver o problema" com uma "resposta integrada", afirmou o candidato, mas prometendo que é possível atingir esse objetivo sem custos muito mais elevados.

"Tornar a ONU mais efetiva é algo que é atingível", disse, recordando a poupança nos custos de organização que imprimiu no Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) ao longo dos últimos dez anos.
Paridade nos cargos de topo da ONU
António Guterres comprometeu-se hoje, caso seja eleito, a estabelecer um roteiro, nos primeiros meses do seu mandato, para garantir a paridade no pessoal da organização, com prioridade para os cargos de topo.

"Se eleito, nos primeiros meses do meu mandato, e depois das consultas necessárias, apresentarei um roteiro para a paridade em todos os níveis com referências e prazos claros, dando prioridade à seleção de cargos mais elevados", anunciou

"As Nações Unidas têm de liderar o esforço da comunidade internacional para a igualdade de género, o que - vamos ser honestos - não foi sempre exatamente o caso", declarou Guterres, defendendo que "a partir de agora, o secretário-geral deve respeitar a paridade" nas escolhas do Conselho Executivo da ONU e nos quadros mais elevados.

Para o candidato português, "é necessária uma mudança na seleção de representantes e enviados especiais", área onde considerou ter ocorrido um retrocesso "nos tempos mais recentes".

Perante os 195 membros da organização, António Guterres subscreveu "o mesmo compromisso para garantir um equilíbrio regional" na seleção de responsáveis.
Candidatos à sucessão de Ban Ki-Monn
António Guterres, que até ao final de 2015 exerceu o cargo de Alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) foi o terceiro candidato à substituição do secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, cujo mandato termina no final de 2016.

As provas foram iniciadas hoje pelo ex-primeiro-ministro e até há pouco o responsável pela diplomacia do Montenegro, Igor Luksic, seguindo-se a diretora-geral da Unesco, a búlgara Irina Bokova.

Pedro Zambujo, Paula Meira - RTP

Para quarta-feira vão ser convocados o ex-presidente esloveno, Danilo Turk, a ex-vice-presidente e ex-ministra dos Negócios Estrangeiros da Croácia, Vesna Pusic, e a ex-ministra da Moldávia Natalia Guerman, que ocupava a mesma pasta.

Na quinta-feira as audições foram reservadas para o macedónio Srgjan Kerim, que presidiu à Assembleia geral da ONU entre 2007 e 2008, e à ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, Helen Clark, que oficializou a candidatura na semana passada.

No processo participam as Nações Unidas, mas também, pela primeira vez, várias organizações não-governamentais e entidades da sociedade civil vão estar presentes para colocar questões e entrevistar os candidatos.

Cada candidato dispõe de duas horas para expor as suas propostas aos representantes da ONU e às distintas organizações não-governamentais e depois daquele encontro também poderá falar com os órgãos de comunicação social.

c/ Lusa
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