Como o mundo vê António Guterres na ONU

por RTP
Mohamed Azakir - Reuters

"Extremamente satisfeito" com o "enorme triunfo pessoal" de António Guterres, foi assim a reação do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, à vitória de Guterres. Já antes, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, tinha dito que era "um orgulho para a Europa". Mas há outras reações como: "uma vitória transparente, uma boa notícia para as Nações Unidas, sábia decisão, brilhante vitória, mudança significativa" e até um "resultado agridoce".

Foi já esta quinta-feira que o presidente da Comissão Europeia felicitou António Guterres pela sua nomeação, para o cargo de secretário-geral das Nações Unidas.
 
"O facto de ter emergido como a escolha unânime do Conselho de Segurança das Nações Unidas, depois de um processo de seleção de uma transparência sem precedentes, representa um enorme triunfo pessoal e o reconhecimento da sua longa experiência em gerar consensos no domínio dos assuntos internacionais", escreve na missiva, em português, dirigida a Guterres, e à qual a Lusa teve acesso.

O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, também felicitou António Guterres pela sua eleição para a liderança das Nações Unidas, que considera "um orgulho para Europa".
 
"Ele será um sensacional secretário-geral das Nações Unidas. Um orgulho para a Europa", completou o presidente da assembleia europeia.

Na sua conta na rede social twitter, o socialista alemão Martin Schulz escreveu que já teve oportunidade de falar ao telefone com António Guterres e felicitá-lo "pelas boas notícias que chegam de Nova Iorque".

Vitória transparente
Reunidas na campanha "1 for 7 Billion" (1 por 7 mil milhões), cerca de 750 organizações não-governamentais (ONG) de todo o mundo acreditam que a indicação de António Guterres para próximo secretário-geral da ONU constitui uma vitória da transparência do processo.

"O anúncio é um testamento do impacto do processo mais aberto e inclusivo pelo qual o “1 for 7 Billion” fez campanha. Guterres não era visto como um favorito no início da corrida, era dito que tinha o género e a origem regional errada", disse à agência Lusa a cofundadora da ONG, Natalie Samarasinghe.

A "1 for 7 Billion", que reúne diferentes organizações, como a Amnistia Internacional ou a Federação das Associações de Comércio Internacional (FITA), e personalidades como o antigo secretário-geral da ONU Kofi Annan, foi uma das vozes mais influentes na exigência de maior transparência na eleição para secretário-geral.


A organização continua, no entanto, a pedir mais reformas no processo: "Continuamos a desejar que o processo seja melhorado. Esperamos que seja instaurado um mandato único, mais longo, o que fortaleceria muito fortemente a capacidade de António Guterres ser o líder inspirador de que a ONU precisa".
"Boa notícia para as Nações Unidas”
O embaixador de França no Conselho de Segurança, François Delattre, declarou que a escolha de António Guterres é uma "boa notícia para as Nações Unidas", no final da sexta votação informal dos 15 países.

A embaixadora dos Estados Unidos junto da ONU disse que os 15 países membros do Conselho de Segurança decidiram unir-se em volta de António Guterres devido às provas que deu ao longo da sua carreira e durante a campanha, sublinhando a necessidade de um líder eficaz ao leme da ONU numa altura de múltiplas crises globais.

"Estamos unidos na compreensão da gravidade das ameaças existentes", afirmou Samantha Power.


O presidente do Conselho de Segurança da ONU, o embaixador russo Vitaly Churkin, disse no final da sexta votação do Conselho de Segurança para secretário-geral que o organismo espera recomendar "por aclamação" o nome de António Guterres esta quinta-feira.
Resultados agridoces
Vários dos 12 candidatos a secretário-geral da ONU já deram os parabéns a António Guterres e elogiaram a sua candidatura.

"Resultados agridoces hoje. Amargos: não é uma mulher. Doces: venceu o melhor homem na corrida. Parabéns, António Guterres. Estamos todos contigo", escreveu no Twitter a candidata da Costa Rica, Christiana Figueres, que desistiu da corrida no mês passado.


Kristalina Georgieva, que entrou na corrida apenas na semana passada, e fez correr muita tinta por causa da sua candidatura, já deu os parabéns ao português e desejou "a melhor das sortes na procura de uma agenda ambiciosa para a ONU."


Já Helen Clark lembrou que conhece António Guterres desde que ele era primeiro-ministro de Portugal e ela era primeira-ministra da Nova Zelândia, tendo trabalhado juntos na ONU nos últimos anos.

Irina Bokova, que durante muito tempo foi tida como favorita, desejou "os mais sinceros parabéns" ao seu colega da ONU, onde dirige a UNESCO, e disse estar "mais do que confiante de que será um excelente secretário-geral."

Danilo Turk e Vuk Jeremic também recorreram ao Twitter para dar os parabéns a António Guterres. "Parabéns a António Guterres ao tornar-se no próximo secretário-geral da ONU. Desejo-lhe o melhor na concretização das suas novas funções", escreveu Jeremic, o sérvio que chegou a estar em segundo lugar na corrida.
Mudança significativa dos direitos humanos
O diretor para a ONU na Human Rights Watch defendeu que António Guterres tem "o potencial de garantir uma mudança significativa na abordagem dos direitos humanos".

Numa reação enviada à Lusa por correio eletrónico, Louis Charbonneau escreveu que, "com António Guterres, o Conselho de Segurança optou por um defensor dos refugiados com o potencial de garantir uma mudança significativa na abordagem dos direitos humanos num momento de grandes desafios".

"Em última análise, o próximo secretário-geral da ONU será avaliado pela sua capacidade de confrontar as próprias forças que o escolheram, seja em questões sobre a Síria, Iémen, Sudão do Sul, a crise dos refugiados, as alterações climáticas ou sobre qualquer outro problema que venha a cruzar o seu caminho", acrescentou o responsável da organização, sediada em Nova Iorque.
"Sábia decisão de todos"
O antigo presidente de Timor-Leste e Nobel da Paz António Ramos-Horta aplaudiu "a sábia decisão de todos" na indicação de António Guterres como favorito para secretário-geral das Nações Unidas.

"Parabéns António Guterres! Parabéns Portugal! Parabéns Conselho de Segurança! Parabéns ONU! Sábia decisão de todos!", considerou o antigo dirigente timorense numa reação por escrito enviada à Lusa.

O primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Baciro Djá, classificou como "uma grande vitória" a eleição de António Guterres como secretário-geral das Nações Unidas.

"Era expectável, é uma grande vitória para a comunidade internacional, para Portugal e para os países de língua oficial portuguesa, tratando-se de um cidadão da nossa comunidade", referiu o líder do governo guineense.

Baciro Djá considera que António Guterres é "um homem sensato, inteligente, equilibrado e que vai conseguir compreender as dinâmicas existentes na nova ordem política internacional".

O governo da Guiné-Bissau "está feliz", sublinhou o primeiro-ministro, "e certamente o povo" também, acrescentou.
"Brilhante vitória"
O ex-primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, também felicitou António Guterres no Twitter pela "brilhante vitória" na corrida para o cargo de secretário-geral das Nações Unidas, sublinhando ainda que foi uma "realização histórica" para Portugal.


Numa publicação na sua página pessoal na rede social Facebook, José Maria Neves afirmou-se "radiante" com a indicação, por parte do Conselho de Segurança, do antigo primeiro-ministro português para o cargo de secretário-geral das Nações Unidas.

"Desde o primeiro momento, ainda antes do anúncio público, recebi António Guterres em Lisboa, para manifestar-lhe todo o apoio pessoal, do Governo e de Cabo Verde à sua candidatura ao mais elevado cargo de secretário-geral das Nações Unidas. Hoje, aqui de novo, para dar-lhe os parabéns pela brilhante vitória e felicitar Portugal por esta histórica realização", escreveu José Maria Neves.
Eleição de mulher "pendente"
A ministra dos Negócios Estrangeiros da Argentina, Susana Malcorra, felicitou o seu ex-rival António Guterres por ter sido indicado como favorito na corrida a secretário-geral da ONU.

"Felicitações a António Guterres pela sua eleição como secretário-geral. Desejo-lhe o melhor na sua gestão à frente da nossa ONU", escreveu a ministra, que concorreu ao cargo e desistiu, na sua conta do Twitter.


Susana Malcorra alertou ainda que a eleição de uma mulher para secretária-geral das Nações Unidas é uma "questão pendente".
Eleição importante para África
O ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chikoti, afirmou em declarações à Lusa, que a eleição de António Guterres como secretário-geral das Nações Unidas é "muito importante" para África e em particular para a lusofonia.

"Esta eleição é muito importante para África, para a CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] para Angola e para a comunidade internacional em geral. O engenheiro Guterres tem sido um lutador incansável pelas causas importantes da comunidade internacional, em particular dos refugiados", disse o chefe da diplomacia angolana.

António Guterres ficou à frente com 13 votos de "encorajamento" e não recolheu nenhum veto na sexta votação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, em Nova Iorque, para eleger o próximo secretário-geral da organização.

O Conselho de Segurança, com a presença de todos os embaixadores, anunciou que o português era o "vencedor claro" e que avançava já esta quinta-feira para a aprovação de uma resolução que propõe o nome de Guterres para aprovação pela Assembleia Geral.

Depois de cinco votações em que os votos dos 15 membros eram indiscriminados, os votos dos membros permanentes (China, Rússia, França, Reino Unido e Estados Unidos) foram destacados pela primeira vez, sendo assim possível confirmar se havia algum veto.


c/Lusa
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