Mundo
Companheiro de Luaty Beirão em risco de vida após 11 dias sem comer
O luso-angolano entra esta segunda-feira no dia 29 desde que iniciou uma greve de fome contra o que diz ser uma detenção arbitrária. Luaty Beirão, que foi entretanto transferido para uma clínica privada na capital Luanda, não é contudo o único membro do grupo de 15 activistas detidos a 20 de Junho que radicalizou a sua luta contra o governo de Eduardo dos Santos: Albano Bingobingo também iniciou há onze dias uma greve de fome.
De acordo com o site independente do movimento Maka Angola, os onze dias de greve de fome de Albano Bingobingo têm sido vividos sob o signo da tortura na Penitenciária de São Paulo, em Luanda.
O site acrescenta que, sem os cuidados a que o mediatismo obriga as autoridades angolanas no caso de Luaty Beirão, as agressões e condições de encarceramento colocam Bingobingo em claro risco de vida.
Grupo dos 15
Sob a acusação de estarem a preparar um golpe de Estado e um atentado contra o Presidente José Eduardo dos Santos, 15 activistas foram detidos a 20 de junho. Esgotado o prazo de 90 dias previsto de prisão preventiva, o rapper luso-angolano Luaty Beirão iniciou um protesto com uma greve de fome que já leva 29 dias.Nélson Dibango, Benedito Jeremias, Afonso Matias “Mbanza Hamza”, Hitler Jessy Chiconde, Albano Bingobingo são outros dos membros do Grupo dos 15 que estará a sofrer violentas represálias neste período de detenção.
O protesto de Luaty Beirão extravasou as fronteiras angolanas e este fim de semana levou à cama de hospital do rapper uma delegação de diplomatas da União Europeia, Espanha, Reino Unido, Suécia e Portugal.
Trata-se do caso mais mediático no âmbito das detenções de junho passado, mas Luaty Beirão não está só nesta forma de luta.
Mais distante dos holofotes, Albano Bingobingo vai já no seu décimo primeiro dia sem ingerir alimentos.
A diferença – revela o jornalista e activista dos Direitos Humanos Rafael Marques - tem a ver com a deferência com que vem sendo tratado pelos serviços prisionais: a tortura.Maka Angola é um movimento que se define “contra a corrupção e defesa da democracia em Angola, fundada e dirigida pelo jornalista Rafael Marques de Morais”.
Citando fontes dentro da própria penitenciária, pode ler-se no artigo publicado este domingo por Rafael Marques no site "Maka Angola" que “os olhos de Bingobingo afundaram-se. Está muito doente, tem uma perna inchada e permanece encerrado num chiqueiro humano sem qualquer assistência médica”.
Mónica Almeida, mulher de Luaty Beirão, revelou já esta segunda-feira em declarações exclusivas à Antena 1 que há ainda um outro detido que entrou em greve de fome, sem adiantar no entanto a sua identidade e há quantos dias iniciou o protesto.
Rafael Marques revela ainda que os actos de tortura não estavam reservados apenas a Bingobingo. De acordo com a mulher de Bendito Jeremias, este membro do Grupo dos 15 terá também sofrido maus tratos por parte dos guardas a mando do subdirector da Penitenciária de São Paulo, Aldivino Oliveira, que terá feito questão de filmar as sevícias.
“Bingobingo foi atacado com bastões eléctricos. Os polícias despiram-no na cela, nu mesmo, e torturaram-no assim e arrastaram-no despido para o pátio”, explicou ao Maka Angola uma activista, Rosa Conde, depois de ter falado com o próprio Albano Bingobingo. Questionado por Rafael Marques sobre estas acusações, o subdiretor da prisão remeteu esclarecimentos para os serviços centrais do governo.
Preso rico - preso pobre
Luaty Beirão já pediu para ser transferido da clínica de luxo na capital para um hospital mais modesto.As notícias relativas às práticas levadas a cabo pelos serviços prisionais estão a levantar outra questão - a diferença de tratamento reservada para os elementos do grupo dos 15: Luaty Beirão internado numa clínica privada e os restantes confinados a celas sem condições humanitárias, espaços que dividem com dezenas de outros prisioneiros que se amontoam, baratas e doenças.
Trata-se de um cenário que levanta fortes reservas no caso de Albano Bingobingo, por se tratar de um preso em greve de fome e - de acordo com várias fontes - em risco iminente de morte.
A leitura que está a ser feita pelos activistas aponta no sentido das origens familiares: Luaty Beirão é filho de um falecido quadro do MPLA, partido no poder em Angola há quatro décadas, e antigo director-geral da Fundação José Eduardo dos Santos. Com duas licenciaturas tiradas nas melhores escolas da Europa, Luaty era um privilegiado que se movia no círculo do presidente Eduardo dos Santos.
Já Bingobingo é um angolano de origens humildes, que foi até 2011 motorista da Presidência angolana; nesse ano integrou um protesto por melhores condições e foi dispensado.
A jornalista e analista política Luísa Rogério defende que “o governo deve tratar toda a gente de igual modo. Luaty e Albano são companheiros na sua luta, foram detidos juntos e não devem ser tratados de forma diferente (…) É exactamente contra estas injustiças que Luaty e os seus companheiros têm vindo a lutar”.
De acordo com Rafael Marques, o próprio Luaty Beirão já manifestou o desejo de ser transferido da clínica da capital para um hospital mais modesto.
Da ditadura até à democracia
Mas o que está aqui em causa com o Grupo dos 15? Um livro: “From Ditactorship to Democracy”, obra escrita por Gene Sharp. O autor, ele próprio detido nos Estados Unidos por se ter manifestado contra o recrutamento obrigatório para a Guerra da Coreia, aponta formas pacíficas de resistência e combate contra os regimes ditatoriais.Gene Sharp, professor na Universidade de Massachusetts desde 1972, foi várias vezes nomeado para Nobel da Paz. Fundou a Albert Einstein Institution, uma organização sem fins lucrativos dedicada à investigação e estudos sobre as ações políticas não violentas.
O livro foi publicado em 1993 para o movimento democrático de Myanmar (antiga Birmânia) após a detenção de Aung San Suu Kyi, a resistente à junta militar e Prémio Nobel da Paz.
Foi num dia em que discutiam as ideias desta obra que o grupo de activistas angolanos foi preso pela polícia. A notícia é agora também que o livro vai ser traduzido para Português, pela editora Tinta da China.
À agência Lusa, Bárbara Bulhosa, responsável da editora, explicou que o livro será editado em Português até final do ano e que o autor vai ceder os direitos de publicação aos detidos angolanos: “Expliquei a situação ao Gene Sharp e ele cedeu os direitos de autor. Ele não quer receber nada da edição portuguesa. Cede os direitos de autor aos presos e às famílias”.
No mesmo sentido, Bárbara Bulhosa anunciou ainda que também a Tinta da China “vai ceder o produto das vendas do livro aos 15 jovens e às famílias dos que se encontram presos”.
O site acrescenta que, sem os cuidados a que o mediatismo obriga as autoridades angolanas no caso de Luaty Beirão, as agressões e condições de encarceramento colocam Bingobingo em claro risco de vida.
Grupo dos 15
Sob a acusação de estarem a preparar um golpe de Estado e um atentado contra o Presidente José Eduardo dos Santos, 15 activistas foram detidos a 20 de junho. Esgotado o prazo de 90 dias previsto de prisão preventiva, o rapper luso-angolano Luaty Beirão iniciou um protesto com uma greve de fome que já leva 29 dias.Nélson Dibango, Benedito Jeremias, Afonso Matias “Mbanza Hamza”, Hitler Jessy Chiconde, Albano Bingobingo são outros dos membros do Grupo dos 15 que estará a sofrer violentas represálias neste período de detenção.
O protesto de Luaty Beirão extravasou as fronteiras angolanas e este fim de semana levou à cama de hospital do rapper uma delegação de diplomatas da União Europeia, Espanha, Reino Unido, Suécia e Portugal.
Trata-se do caso mais mediático no âmbito das detenções de junho passado, mas Luaty Beirão não está só nesta forma de luta.
Mais distante dos holofotes, Albano Bingobingo vai já no seu décimo primeiro dia sem ingerir alimentos.
A diferença – revela o jornalista e activista dos Direitos Humanos Rafael Marques - tem a ver com a deferência com que vem sendo tratado pelos serviços prisionais: a tortura.Maka Angola é um movimento que se define “contra a corrupção e defesa da democracia em Angola, fundada e dirigida pelo jornalista Rafael Marques de Morais”.
Citando fontes dentro da própria penitenciária, pode ler-se no artigo publicado este domingo por Rafael Marques no site "Maka Angola" que “os olhos de Bingobingo afundaram-se. Está muito doente, tem uma perna inchada e permanece encerrado num chiqueiro humano sem qualquer assistência médica”.
Mónica Almeida, mulher de Luaty Beirão, revelou já esta segunda-feira em declarações exclusivas à Antena 1 que há ainda um outro detido que entrou em greve de fome, sem adiantar no entanto a sua identidade e há quantos dias iniciou o protesto.
Rafael Marques revela ainda que os actos de tortura não estavam reservados apenas a Bingobingo. De acordo com a mulher de Bendito Jeremias, este membro do Grupo dos 15 terá também sofrido maus tratos por parte dos guardas a mando do subdirector da Penitenciária de São Paulo, Aldivino Oliveira, que terá feito questão de filmar as sevícias.
“Bingobingo foi atacado com bastões eléctricos. Os polícias despiram-no na cela, nu mesmo, e torturaram-no assim e arrastaram-no despido para o pátio”, explicou ao Maka Angola uma activista, Rosa Conde, depois de ter falado com o próprio Albano Bingobingo. Questionado por Rafael Marques sobre estas acusações, o subdiretor da prisão remeteu esclarecimentos para os serviços centrais do governo.
Preso rico - preso pobre
Luaty Beirão já pediu para ser transferido da clínica de luxo na capital para um hospital mais modesto.As notícias relativas às práticas levadas a cabo pelos serviços prisionais estão a levantar outra questão - a diferença de tratamento reservada para os elementos do grupo dos 15: Luaty Beirão internado numa clínica privada e os restantes confinados a celas sem condições humanitárias, espaços que dividem com dezenas de outros prisioneiros que se amontoam, baratas e doenças.
Trata-se de um cenário que levanta fortes reservas no caso de Albano Bingobingo, por se tratar de um preso em greve de fome e - de acordo com várias fontes - em risco iminente de morte.
A leitura que está a ser feita pelos activistas aponta no sentido das origens familiares: Luaty Beirão é filho de um falecido quadro do MPLA, partido no poder em Angola há quatro décadas, e antigo director-geral da Fundação José Eduardo dos Santos. Com duas licenciaturas tiradas nas melhores escolas da Europa, Luaty era um privilegiado que se movia no círculo do presidente Eduardo dos Santos.
Já Bingobingo é um angolano de origens humildes, que foi até 2011 motorista da Presidência angolana; nesse ano integrou um protesto por melhores condições e foi dispensado.
A jornalista e analista política Luísa Rogério defende que “o governo deve tratar toda a gente de igual modo. Luaty e Albano são companheiros na sua luta, foram detidos juntos e não devem ser tratados de forma diferente (…) É exactamente contra estas injustiças que Luaty e os seus companheiros têm vindo a lutar”.
De acordo com Rafael Marques, o próprio Luaty Beirão já manifestou o desejo de ser transferido da clínica da capital para um hospital mais modesto.
Da ditadura até à democracia
Mas o que está aqui em causa com o Grupo dos 15? Um livro: “From Ditactorship to Democracy”, obra escrita por Gene Sharp. O autor, ele próprio detido nos Estados Unidos por se ter manifestado contra o recrutamento obrigatório para a Guerra da Coreia, aponta formas pacíficas de resistência e combate contra os regimes ditatoriais.Gene Sharp, professor na Universidade de Massachusetts desde 1972, foi várias vezes nomeado para Nobel da Paz. Fundou a Albert Einstein Institution, uma organização sem fins lucrativos dedicada à investigação e estudos sobre as ações políticas não violentas.
O livro foi publicado em 1993 para o movimento democrático de Myanmar (antiga Birmânia) após a detenção de Aung San Suu Kyi, a resistente à junta militar e Prémio Nobel da Paz.
Foi num dia em que discutiam as ideias desta obra que o grupo de activistas angolanos foi preso pela polícia. A notícia é agora também que o livro vai ser traduzido para Português, pela editora Tinta da China.
À agência Lusa, Bárbara Bulhosa, responsável da editora, explicou que o livro será editado em Português até final do ano e que o autor vai ceder os direitos de publicação aos detidos angolanos: “Expliquei a situação ao Gene Sharp e ele cedeu os direitos de autor. Ele não quer receber nada da edição portuguesa. Cede os direitos de autor aos presos e às famílias”.
No mesmo sentido, Bárbara Bulhosa anunciou ainda que também a Tinta da China “vai ceder o produto das vendas do livro aos 15 jovens e às famílias dos que se encontram presos”.