Contra-golpe turco põe em causa adesão à União Europeia

por RTP
Merkel, Hollande e Erdogan: uma imagem que poderá não se repetir Kacper Pempel, Reuters

Angela Merkel tem tolerado tudo a Erdogan, para salvar o acordo sobre os refugiados. Mas agora multiplicam-se as vozes alemãs favoráveis à interrupção das conversações para a adesão da Turquia à UE.

A amplitude das purgas na Justiça, no Ensino, nas Forças Armadas, na imprensa, e agora o cancelamento "temporário" da assinatura turca na Convenção Europeia dos Direitos Humanos são factos concretos, que se existem antes mesmo da votação parlamentar para restabelecer a pena de morte na Turquia, por muito que esta tenha uma carga simbólica sem paralelo.

Na Alemanha, o Bundestag (Parlamento Federal) e o próprio Governo encontram-se cada vez mais fracturados pelo efeito do violento contragolpe levado a cabo pelo presidente turco, REcep Tayyip Erdogan. A questão mais imediata refere-se à continuação, ou não, das negociações para a adesão da Turquia à UE, que correm desde 2005.

O site de Der Spiegel cita declarações de proeminentes políticos como Florian Hahn, perito social-cristão (CSU) na área da Defesa, que considera ser "completamente frouxa, nesta situação, uma política de apaziguamento" e, em conformidade, afirma que as negociações de adesão, "pelo menos deste modo, já não têm sentido" e que "também a chanceler federal deveria pronunciar-se claramente".

Em sintonia com Hahn, também o secretário-geral da CSU, Andreas Scheuer, propôs em entrevista à televisão ZDF "congelar" as negociações.

Na CDU, o partido democrata-cristão da chanceler, também o líder da "Jota", Paul Ziemiak, reclamou palavras clares da Merkel: "Quem ainda sonha com uma adesão da Turquia à UE, devia despertar. Eu reclamo um encontro de chefes de Governo europeus. As negociações para a adesão à UE deviam ser interrompidas".

Niels Annen, o porta-voz para a política externa do SPD, afirma a mesma coisa, embora na forma condicional: "Se prosseguirem os desenvolvimentos dos últimos dias, teremos de suspender as negociações com a Turquia sobre a adesão à UE".

Igualmente, o vice-chefe da bancada parlamentar do SPD, Axel Schäfer, afirmou: "Os governantes de Ankara fazem tudo para que as negociações para uma possível adesão à UE sejam definitivamente congeladas". Mas acrescentou a ressalva: "Se um dia a Turquia se voltar novamente para a Europa, não deveríamos fechar para sempre ao país uma perspectiva de adesão".

O líder dos verdes, Cem Özdemir, descolou também da tradicional política do seu partido a favor da adesão turca, afirmando que, mesmo sem restabelecimento da pena de morte, deixou de ter sentido negociar sobre essa adesão.

A chefe de bancada dos verdes, Katrin Göring-Eckardt, explicou além disso: "Enquanto a Turquia estiver em estado de excepção não pode, de todo, haver negociações de adesão". Indo ao fundo do problema, Göring-Eckardt acrescentou que o acordo sobre os refugiados poderia também ser cancelado.

Mas, tanto o ministro dos Negócios Estrangeiros social-democrata, Frank-Walter Steinmeier, como a chanceler Angela Merkel, procuram a todo o transe salvar esse acordo, em que apostaram como pilar essencial da política externa alemã - e europeia.
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