Turquia reforça purga na educação e suspende Convenção dos Direitos Humanos

por RTP
Kenan Gurbuz - Reuters

Professores, reitores de universidades, generais e juízes são os principais alvos do presidente turco, na sequência da tentativa de golpe de Estado. Esta quinta-feira, o país suspendeu a Convenção Europeia dos Direitos Humanos.

A caça ao homem continua na Turquia. O golpe de estado falhado da última sexta-feira deu origem a uma verdadeira purga nos serviços controlados pelo Estado. Mais de 58 mil pessoas foram afastadas, detidas ou suspensas por suspeitas de envolvimento na tentativa de golpe militar. O jornal Le Monde e a agência Reuters detalham esta quinta-feira quem foram os alvos da grande limpeza.

O principal alvo da fúria de Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia, foi o setor da Educação. Mais de 42 mil funcionários, a maior parte dos quais professores e reitores de universidades, foram suspensos, o que equivale a 4,2 por cento de um efetivo total de 989 mil pessoas.

Os professores universitários foram impedidos de deixar o país e obrigados a cancelar as férias.

Segundo um membro do governo turco citado pelo Washington Post, o governo considera que “as universidades sempre foram cruciais para as juntas militares na Turquia, e acredita-se que alguns indivíduos estejam em contacto com células militares”.


Na polícia, foram mais de nove mil os efetivos afastados, cerca de 2,7 por cento da força policial turca. Já no exército, o número de soldados detidos ascende aos seis mil, o que não ultrapassa os 0,8 por cento do total. Mais impressionantes são os números referentes aos generais. 99 foram detidos pelas forças de Erdogan, o que equivale a 27,5 por cento de um total de 360 generais.

Estão ainda 755 juízes sob custódia das autoridades, cerca de 12,7 por cento de um total que ascende a 5941 juízes.

A purga foi assumida pelo presidente turco, que apelidou a ação de “limpeza dos golpistas”, prometendo “desenterrar pelas raízes” aqueles que tentaram derrubar o governo.

No total, segundo números da Reuters, foram suspensas até ao momento 52 264 mil pessoas, às quais se juntam 9500 afastadas do seu posto de trabalho e ainda 6400 detidas. Convenção dos Direitos Humanos suspensa
Já esta quinta-feira foi decretado o estado de emergência na Turquia por três meses, que implica a suspensão da Convenção Europeia dos Direitos Humanos.

O presidente turco justificou a adoção da medida com a necessidade de “lidar rapidamente com todos os elementos da organização terrorista” e de “tomar os passos mais eficientes para afastar esta ameaça o mais depressa possível”.



A medida replica a que foi adotada em França em novembro do ano passado, após os ataques do Estado Islâmico em Paris.

Naquele que é o primeiro estado de emergência no país desde a década de 1980, surgiram imediatamente os receios sobre a restrição às liberdades dos cidadãos.

A oposição turca respondeu desde logo, acusando o Governo de Erdogan de criar “uma forma de governar que abre caminho aos abusos”.

O vice-presidente do governo turco, Numan Kurtulmus veio garantir que o estado de emergência não vai implicar a aplicação da lei marcial nem afetar o direito de reunião e de manifestação. Afiançou ainda que não haverá recolher obrigatório nem qualquer retrocesso nos direitos democráticos.

Kurtulmus adiantou ainda que o estado de emergência deverá prolongar-se por apenas 30 ou 45 dias, menos que anunciado pelo presidente.

O governante admitiu que na noite da tentativa de golpe, no qual morreram pelo menos 246 pessoas e mais de 1500 ficaram feridas, existiram falhas estruturais nos serviços de informações do país e que na sequência da ação o exército turco está a ser completamente reestruturado.
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