Escutas a Dilma e Lula inflamam protestos e abalam Governo do Brasil

Uma noite de sobressalto no Brasil antes de um dia que também promete ser longo. Esta quarta-feira, a justiça brasileira autorizou a divulgação de escutas telefónicas entre Lula da Silva e Dilma. Na gravação, a Presidente informa o seu antecessor que lhe enviará um “termo de posse” para que seja usado “em caso de necessidade”. O Governo brasileiro e o advogado de Lula já criticaram a divulgação das escutas. Nas ruas, os protestos foram violentos durante a noite e há já mudanças no Executivo: o PRB anunciou a saída da coligação governamental.

Christopher Marques - RTP /
Adriano Machado - Reuters

“Estou mandando o Messias junto com o papel para a gente ter ele e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse”. É a frase mais marcante de uma curta conversa telefónica entre Lula da Silva e Dilma Roussef, agora tornada pública.

Na gravação, Dilma Roussef avisa Lula de que lhe vai enviar o subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil, Jorge Rodrigo Araújo Messias, com o termo de posse do ex-Presidente como ministro para ser usado em caso de necessidade.

As conversas foram gravadas pela Polícia Federal com autorização judicial antes de Dilma Roussef anunciar publicamente que Lula seria ministro chefe da Casa Civil.

Divulgadas as escutas, a Presidência brasileira emitiu um comunicado para repudiar a iniciativa do juiz Sérgio Moro. O Planalto classifica a divulgação de “uma afronta” aos direitos e garantias do ex-Presidente.

As declarações da Presidente brasileira nas gravações foram interpretadas como uma possível "combinação" para garantir a imunidade de Lula, que está a ser investigado pelos procuradores que conduzem a operação Lava Jato.

No entanto, o Governo brasileiro alega que Lula iria tomar posse na sexta-feira e não na próxima terça-feira, como havia sido veiculado por alguns líderes do PT.

"Uma vez que o novo ministro, Luiz Inácio Lula da Silva, não sabia ainda se compareceria à cerimónia de posse coletiva, a Presidente encaminhou para sua assinatura o devido termo de posse. Este só seria utilizado caso confirmada a ausência do ministro", alega a Presidência.

O texto acrescenta que "todas as medidas judiciais e administrativas cabíveis serão adotadas para a reparação da flagrante violação da lei e da Constituição da República, cometida pelo juiz autor do vazamento".

Ao ser empossado ministro, Lula passará a ter imunidade e só poderá ser preso por ordem do Supremo Tribunal Federal, já não pelos procuradores de Ministério Público que apuram os casos de corrupção da Petrobras.
PRB abandona coligação
Lula foi nomeado oficialmente ministro da Casa Civil numa edição especial do Diário Oficial da União publicada na noite de quarta-feira.

Entretanto, a nomeação de Lula já provocou a saída de um dos partidos da coligação liderada por Dilma.

O Partido Republicano Brasileiro anunciou que saía da aliança governamental, com o ministro do desporto, que representava o PRB, a demitir-se. "Não vemos norte para a situação do país", justificou o líder do PRB.

Esta é uma pasta sensível no Governo brasileiro, numa altura em que o país se prepara para receber os Jogos Olímpicos já em agosto. O PRB é um dos nove partidos que integra a coligação governamental.
Protestos nas ruas

Durante a noite, milhares de pessoas saíram à rua para pedirem a demissão da presidente Dilma Roussef. Em Brasília, a Polícia Militar usou bastões e gás pimenta para separar os manifestantes que estão a favor dos que estão contra a Presidente. Um grupo tentou mesmo entrar no palácio do Planalto, a sede do Governo brasileiro, mas sem sucesso.

Em São Paulo, milhares de pessoas bloquearam a avenida paulista, pedindo a renúncia da Presidente. Houve ainda manifestações contra Dilma no Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife.

Em Curitiba, a manifestação foi de apoio ao juiz que investiga o mega processo de corrupção que envolve o partido de Dilma Roussef e Lula da Silva.

A temperatura também subiu no Parlamento brasileiro. Dezenas de deputados da oposição gritaram "renúncia" no plenário da Câmara dos Deputados esta quarta-feira, referindo-se à Presidente Dilma Rousseff, após ter sido divulgada a conversa telefónica.

Após a divulgação do áudio, deputados da oposição a Dilma Rousseff inflamaram-se e a sessão foi encerrada. Mas mesmo depois disso, alguns permaneceram no plenário, gritando palavras de ordem contra Dilma.

Houve também palavras contra Lula, a quem alguns deputados chamaram "ladrão", dizendo que "o seu lugar é na prisão." Poucos deputados do Partido dos Trabalhadores, que apoia Dilma e Lula, tentaram defender a Presidente, chamando "golpistas" aos elementos da oposição.

c/ Lusa
PUB