Estado Islâmico é suspeito número um de atentado na Turquia

por Carlos Santos Neves - RTP
Mais de dez mil manifestantes ocuparam no domingo uma praça de Ancara – perto do local do duplo atentado Sedat Suna - EPA

Sem excluir rebeldes curdos ou a extrema-esquerda, o primeiro-ministro da Turquia isolou esta segunda-feira os extremistas do Estado Islâmico como os principais suspeitos da autoria do duplo atentado de sábado em Ancara, que matou perto de uma centena de pessoas. Ahmet Davutoglu descartou, ao mesmo tempo, quaisquer alterações ao calendário eleitoral: os turcos serão mesmo chamados a votar em legislativas a 1 de novembro.

“Se observarmos a forma com o ataque foi cometido, temos de considerar as investigações sobre o Daesh como a nossa prioridade”, admitiu o número um do Governo turco, em entrevista à estação televisiva NTV.
O último balanço oficial de vítimas do duplo atentado de sábado refere 97 mortos e 507 feridos, dos quais 65 permaneciam no domingo em estado grave.

Sem destapar os detalhes da investigação em marcha, Ahmet Davutoglu adiantou que as autoridades estarão na posse do “nome de uma pessoa” a apontar “para uma organização”.

Sem embargo da tese do extremismo islâmico, Davutoglu não foi ao ponto de excluir do rol de “potenciais suspeitos” o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, na sigla turca), ou o Partido - Frente Revolucionária de Libertação do Povo (DHKP-C), de extrema-esquerda.

“Ainda é muito cedo para sermos definitivos”, enfatizou o governante turco.

As duas explosões da manhã de sábado, presumivelmente provocadas por bombistas suicidas, tiveram lugar nas imediações da estação central de comboios de Ancara, onde decorria uma manifestação de milhares de pessoas de todo o país contra o reacender do conflito curdo. Esta ação fora convocada por sindicatos, organizações não-governamentais e forças de esquerda que apoiam a causa curda.
Contestação a Erdogan agudiza-se

O atentado da capital turca veio incendiar a contestação ao Presidente turco. Recep Tayyip Erdogan, o antigo primeiro-ministro de matriz ideológica islamita, é acusado pelos pró-curdos de ter negligenciado de forma propositada a segurança da manifestação visada pelo atentado.
Luís Filipe Fonseca, Guilherme Brízido - RTP

“O Estado atacou o povo. As condolências deveriam ir para o povo e não para Erdogan”, escrevia ontem na rede social Twitter Selahattin Demirtas, dirigente do Partido Democrático dos Povos (HDP).Um porta-voz de Angela Merkel confirmou que a chanceler alemã visitará no próximo domingo a Turquia, onde abordará os temas da guerra na Síria, da crise dos refugiados e do combate ao terrorismo.

Chamados pelos mesmos movimentos que convocaram a “marcha pela paz”, atingida pelas explosões, mais de dez mil manifestantes ocuparam no domingo uma praça de Ancara – perto do local do duplo atentado. Gritaram palavras de ordem como “Erdogan assassino”, ou “o Estado prestará contas”, sempre cercados pela polícia.

Na entrevista desta segunda-feira à NTV, Ahmet Davutoglu quis afastar do conjunto de cenários de curto prazo um adiamento das legislativas do próximo dia 1 de novembro: “Quaisquer que sejam as circunstâncias, as eleições terão lugar”.

O Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), de Davutoglu e Erdogan, perdeu, no início de junho, a maioria absoluta que detinha no Parlamento há já 13 anos. Sem abertura da oposição para uma aliança governativa, o Presidente turco decidiu antecipar eleições.

Os adversários do AKP acusam Recep Tayyip Erdogan de estar a alimentar o conflito curdo com o objetivo de seduzir o eleitorado mais nacionalista.
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