Galáxia brilhante com milhões de anos batizada como CR7

por Nuno Patrício - RTP
criação artística da Galáxia CR7 que se encontra a 13 mil milhões de anos luz da Terra. Foto: ESO/M. Kornmesser

Brilha com mais intensidade e estima-se que seja das primeiras galáxias a nascer após o Big Bang. A denominada galáxia CR7 foi descoberta por uma equipa de astrónomos internacionais liderada por um cientista português: David Sobral.

A ideia partiu de um grupo de cientistas e astrónomos internacionais do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), liderado pelo cientista português David Sobral.


Esta imagem da CR7, obtida diretamente com o telescópio espacial Hubble e com o telescópio Subaru, em Mauna Kea, mostra as três componentes da galáxia CR7. A componente mais azul (A) é a que mostra sinais da primeira geração de estrelas, extremamente quentes e massivas, e que iluminam e ionizam o gás primordial à sua volta (a verde). As componentes C e B, mais vermelhas, mostram enxames de estrelas já enriquecidas com elementos mais pesados do que os formados no Big Bang, onde as estrelas de primeira geração se formaram. Créditos: David Sobral
Redshift: Medida de distância muito utilizada pelos astrónomos. Quanto maior é o desvio para o espectro vermelho de uma galáxia, maior é a distância face à Terra, bem como o seu tempo de existência.

De nome COSMOS Redshift 7 (CR7), a denominação partiu da conjugação da palavra “Cosmos” e “Redshift”, que significa desvio para o vermelho. No entanto o nome foi também inspirado no jogador de futebol Cristiano Ronaldo, que é conhecido como CR7.
Uma galáxia primordial

A equipa internacional de astrónomos, liderada por David Sobral, do IA e da FCUL, descobriu aquela que é a galáxia mais brilhante alguma vez encontrada no início do Universo. A equipa encontrou ainda, pela primeira vez, fortes indícios da existência da primeira geração de estrelas.

Há muito que os astrónomos suspeitavam da existência de uma primeira geração de estrelas formadas a partir do material primordial resultante do Big Bang.

 
Segundo os astrónomos, julga-se que as primeiras estrelas devem ter sido enormes - várias centenas ou mesmo milhares de vezes mais massivas que o Sol - extremamente quentes, e com um tempo de vida de apenas alguns milhões de anos.

Às primeiras estrelas que se formaram no Universo dá-se o nome de População III. Este nome surgiu porque os astrónomos já tinham classificado as estrelas da Via Láctea como População I (estrelas como o Sol, ricas em elementos pesados) e População II (estrelas mais velhas, com poucos elementos pesados).
Estas primeiras estrelas, extremamente brilhantes, até agora enquadradas em cenários celestes teóricos, estiveram na origem dos primeiros elementos necessários para formar novas estrelas como o Sol e para a restante formação do Universo. 

Teorias agora comprovadas por este grupo de investigadores a trabalhar em Portugal, como explicou David Sobral. 

"Decidimos seguir um caminho totalmente diferente do resto do mundo e fizemos um mapeamento de grandes áreas do céu", descreveu o cientista.
 
"Sabíamos que o risco de procurar onde ninguém procura era facilmente compensado por descobertas inesperadas, algo importantíssimo em ciência. Foi fantástico quando descobrimos a galáxia CR7, a mais luminosa alguma vez encontrada no Universo primitivo", acrescentou.
Uma descoberta, várias surpresas

A brilhante galáxia CR7 não foi o único aglomerado estelar que esta equipa descobriu. A análise deste ponto no espaço revelou ainda outras galáxias, extremamente distantes e surpreendentemente brilhantes. 

Mas a que designaram como CR7 foi, segundo os investigadores, de longe a galáxia mais brilhante alguma vez observada no Universo primitivo. Por si só, esta descoberta já constituía um enorme sucesso. Contudo, novas observações revelaram algo ainda mais surpreendente.


A galáxia CR7 é três vezes mais intensa do que a última galáxia brilhante descoberta e está a cerca de 13 mil milhões de anos-luz da Terra, quando o Universo tinha apenas 800 milhões de anos de existência.

“Ao juntarmos as diferentes peças do puzzle, percebemos que tínhamos encontrado algo muito mais profundo e que estávamos a ver, pela primeira vez, um santo graal da astronomia – as primeiras estrelas”, afirma David Sobral.

Para o líder desta investigação “foram estrelas como esta que permitiram a nossa existência. Depois de inúmeras observações e imenso trabalho, com um método diferente e planeado por nós, é fabuloso obter estes resultados tão importantes”, disse.

A descoberta resultou de várias observações obtidas com o Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO), com os telescópios W.M.Keck, Subaru e ainda com o Telescópio Espacial Hubble (HST).
Investigadores maravilhados

Jorryt Matthee, do Observatório de Leiden e o segundo autor do estudo, explica que sempre se interrogou de onde provinham os elementos químicos como o cálcio dos ossos, o carbono dos músculos ou o ferro existente no sangue. 

Matthee diz que agora pode provar essa teoria: "Descobri mais tarde que foram as primeiras estrelas que os fabricaram, mas até hoje nunca tinham sido vistas, até as descobrirmos. Pela primeira vez, podemos começar a estudá-las no Universo real e não apenas teoricamente."

Também Sérgio Santos, da IA e da FCUL, coautor da descoberta, comenta: "Foi fantástico poder participar numa descoberta com esta relevância durante o meu projeto de investigação ainda como estudante de licenciatura. É um privilégio poder trabalhar com uma equipa de tão grande qualidade e quero destacar o nível da investigação científica que se faz hoje em dia em Portugal, capaz de rivalizar com qualquer outro país".

De acordo com os investigadores, estão previstas novas observações com os melhores telescópios do mundo, a que Portugal e os seus astrónomos têm acesso, para estudar com maior detalhe a galáxia CR7.

Procurar e identificar outros exemplos destas galáxias nunca antes vistas é agora a nova prioridade para estes investigadores internacionais.
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