Japão para contribuição à Unesco apesar de ameaça por documentos sobre massacre

por Lusa

Tóquio, 22 dez (Lusa) -- O Japão pagou a sua contribuição para a Unesco depois de ameaçar não o fazer pela inscrição na Memória do Mundo daquela organização de documentos relacionados com o Massacre de Nanjing, cometido pelas tropas japonesas entre 1937 e 1938.

O pagamento foi realizado no início da semana, depois de o Japão ter observado melhorias no sistema de registo de documentos na ONU, revelou hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros, Fumio Kishida, numa conferência de imprensa, citado pela agência japonesa Kyodo.

O país asiático tinha solicitado à agência da ONU para a Educação, Ciência e Cultura una revisão do processo de seleção de documentos depois da integração no programa Memória do Mundo da Unesco de documentos da China relacionados com o Massacre de Nanjing, uma ofensiva militar japonesa que Pequim diz ter matado 300 mil pessoas em 1937.

Tóquio tinha retido a sua contribuição este ano, de cerca de 3.850 milhões de ienes (31,4 milhões de euros), normalmente pagos na primavera, por oposição ao reconhecimento pela Unesco.

O país argumentou que o organismo registou "unilateralmente" os documentos sem permitir ao Japão verificar a sua autenticidade e acusou a organização de falta de equidade e transparência.

O Japão tem sido o principal contribuinte "de facto" da Unesco desde que os Estados Unidos congelaram a sua contribuição de 22% em 2011, em oposição à entrada da Palestina como membro.

A contribuição japonesa representa 9,6% do orçamento da Unesco este ano.

O massacre de Nanjing é um tema sensível nas relações entre o Japão e a China, com Pequim a acusar Tóquio de nunca ter sido capaz de se redimir dessas atrocidades.

Os militares japoneses invadiram a China nos anos 1930 e os dois países estiveram em guerra entre 1937 e 1945, quando o Japão foi derrotado na II Guerra Mundial.

A China afirma que 300 mil pessoas morrerem nas seis semanas de matanças, violações e destruição após os japoneses entrarem em Nanjing, apesar de alguns especialistas estrangeiros defenderem que o número de vítimas foi inferior.

O historiador da China Jonathan Spence, por exemplo, estima que 42 mil soldados e civis tenham sido mortos e 20 mil mulheres violadas, muitas que acabaram por morrer.

Esta versão é contestada no Japão. A posição oficial de Tóquio é que morreu "um vasto número de não-combatentes" e houve "pilhagens e outros atos", mas considera que "é difícil determinar" o número correto de vítimas.

O programa Memória do Mundo, iniciado em 1992, tem como objetivo preservar a herança documental da humanidade e inclui atualmente 348 documentos e arquivos vindos de países de todo o mundo.

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