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Missão europeia ExoMars aterra em Marte

Depois do sucesso da missão espacial Rosetta, a Agência Espacial Europeia (ESA) volta a estar em destaque com a missão ExoMars. A missão espacial europeia a Marte está dividida em duas fases e a sonda ExoMars I - Trace Gas Orbiter, que transportou o módulo de aterragem Schiaparelli, é apenas o início de uma exploração que vai durar até 2020. Objetivo primordial: encontrar vestígios de vida.

Já passaram sete meses desde o lançamento da sonda do programa espacial ExoMars - Trace Gas Orbiter (TGO), que levou à boleia a sonda marciana Schiaparelli.

Depois da longa viagem, de mais de 500 milhões de quilómetros pelo espaço, entre a Terra e Marte, a sonda europeia chegou finalmente aos arredores de Marte.

Foi no passado dia 16 de outubro, domingo, que foi dada a ordem do centro de controlo da ESA, para separar a sonda TGO da sonda de fabrico italiano "Schiaparelli", tendo esta começado a efetuar a descida programada para o Planeta Vermelho.

De acordo com a Agência Espacial Europeia, a  Schiaparelli vai entrar na atmosfera marciana esta quarta-feira, por volta das 15h42, hora de Lisboa, (GMT14h42) protegida por um disco ovalado de 1,65 metros de diámetro e 577 quilos de peso, antes da abertura dos páraquedas e "amartagem" final.

Esta é a primeira de duas partes da missão do programa ExoMars, uma parceria entre a Agência Espacial Europeia, a congénere russa Roscomos e Agência Espacial Norte Americana - NASA.

A principal missão é procurar sinais de vida de tipo bacteriano na superfície de Marte.

A segunda fase do projeto consiste em fazer aterrar um "rover"- um veículo todo o terreno - do tipo Curiosity e Opportunity da Nasa , no planeta vermelho, no ano 2020.

Três dias e 900 mil quilómetros até Marte
Desde o passado domingo, dia 16 de outubro, que a sonda europeia TGO (Trace Gas Orbiter), da Agência Espacial Europeia (ESA) se separou do módulo de descida Schiaparelli.

O relógio marcava as 15h42 em Lisboa (GMY 14h42), nove minutos e 36 segundos depois da separação real, quando a informação chegou ao centro de controlo da ESA em Darmstadt, na Alemanha.A Schiaparelli não tem painéis solares e depende exclusivamente da energia proveniente das baterias que carrega, ou seja, está destinada apenas para sobreviver na superfície de Marte por apenas alguns dias.

Ainda a uma distância de quase 900 mil quilómetros do Planeta Vermelho, o módulo espacial que transportava a Schiaparelli dava assim início à longa descida até ao solo marciano.

A sonda Schiaparelli, durante o seu trajeto final e descendente, tinha a ordem de permanecer em modo de hibernação, no sentido de reduzir o seu consumo de eletricidade, sendo apenas ativada poucas horas antes de entrar na atmosfera, a uma altitude de 122,5 quilómetros e a uma velocidade de aproximadamente 21 mil quilómetros por hora.

Uma viagem que terá o seu final precisamente esta quarta-feira, dia em que a ExoMars entrará na órbita do Planeta Vermelho e a ESA retransmitirá as manobras desde Darmstadt.

E porquê Schiaparelli?

O nome dado a sonda europeia que esta quarta-feira vai se instalar no solo marciano foi escolhido em homenagem ao astrónomo italiano Giovanni Schiaparelli.

Este astrónomo, nos finais do século XIX, desenhou um primeiro mapa do planeta vermelho, após várias observações feitas por telescópio.

Foto: reddit/DR

Schiaparelli, neste primeiro esboço cartográfico, desenhou algumas linhas que o astrónomo dizia serem representações das linhas de água existentes no planeta.


Uma descida sobre Marte às escuras
Desde a entrada na atmosfera de Marte até à descida ao solo vermelho e empoeirado de Marte vão decorrer cerca de seis minutos.Sol: nome dado aos dias em Marte (um dia marciano é de 24 horas e 37 minutos.

A esse período somar-se-á o ativar dos aparelhos da sonda Schiaparelli, em que a ESA não saberá efetivamente o que está a acontecer.



O sinal rádio entre a sonda, o ExoMars (TGO) e a Terra é interrompido. Até ao restabelecimento do emissor de comunicação da sonda, já no solo, os cientistas em Darmstadt, na Alemanha, vão estar completamente às escuras.

O módulo vai testar durante a entrada um escudo térmico, que por sinal é mais grosso, caso a entrada da sonda ocorra durante uma tempestade de areia.

A 11 quilómetros do solo e decorridos três minutos e 21 segundos, é acionado um páraquedas de 12 metros de diâmetro, bem como os sistemas de comando, navegação e controle, assim como a estrutura deformável para fixá-lo no solo, refere a ESA.

Está prevista que, uma vez instalada na superfície de Marte, a sonda europeia Schiaparelli funcione entre dois e oito sóis, dependendo da duração das baterias.





ESA conta com tempestade de areia
O planeta Marte pode não estar acolhedor à chegada da sonda europeia Schiaparelli.

Segundo a NASA, conhecedores do ambiente marciano avisam que nesta altura, no Planeta Vermelho, surgem algumas tempestades de areia, algo que ocorre com alguma regularidade em determinadas épocas do ano.

Contudo a ESA acredita que esse fator não deve atrapalhar a descida da sonda na região conhecida como Meridiani Planum.

Alguns dos cientistas da missão ExoMars estão inclusive animados com essa previsão.

"Sempre soubemos da possibilidade de existir uma tempestade de areia durante aterragem da Schiaparelli. Aliás, ela foi projetada pensando nisso", disse Jorge Vargo, cientista da Agência Espacial Europeia.


Esta imagem disponibilizada pela NASA captada pelo telescópio Hubble revela como fica a atmosfera marciana durante uma forte tempestade de areia - Foto: NASA/JPL/MSSS

Vargo explica numa entrevista dada no site da ESA que até "pode ser uma oportunidade interessante para recolher dados sobre a eletrificação da atmosfera marciana com a presença de areia", explicou.

Já a contar com essa possibilidade a ESA instalou na Schiaparelli um instrumento científico dedicado a esse propósito. De qualquer maneira, os cientistas europeus garantem estar preparados.

É conhecido o resultado que a areia existente na atmosfera pode provocar no escudo protetor da sonda, aumentando a abrasividade no escudo de calor da Schiaparelli e no páraquedas que será usado para reduzir a velocidade.

Mas a agência europeia está ciente de que a zona onde a sonda vai aterrar é suficientemente larga e plana para evitar acidentes, mesmo que o procedimento ocorra fora do local exato previsto por causa dos ventos fortes causados pela eventual tempestade.

O diretor de voo da ESA, Michel Denis, explica que "a única coisa que pode ser afetada é a captação de imagens durante a descida, bem como a visibilidade da superfície, se a quantidade de vento e poeira for muito grande".
Sensores de engenharia e ciência
A vida útil da sonda europeia não é longa. A Schiaparelli, contrariamente à maioria das sondas espaciais, não tem painéis solares e depende exclusivamente da energia proveniente das baterias que carrega, ou seja, está projectada para sobreviver na superfície de Marte por apenas alguns dias.

Apesar da curta duração, a missão desta sonda de 600 quilos é classificada de extrema importância na recolha e processamento de dados para a Terra e que servirão como complemento no seguimento da missão europeia ExoMars, que em 2020 fará chegar um Rover ao terreno marciano.


Protótipo do Rover IARES da ESA que se espera em Marte no ano 2020 - Foto: CNES/DR

Ainda durante a descida, os sensores da Schiaparelli começarão a trabalhar e vão realizar uma primeira análise ao ambiente local.

Já no solo, a Schiaparelli efetuará os restantes testes com os aparelhos científicos que transportou até ao Planeta Vermelho.

Esta pequena mas útil bagagem científica, batizada de Dreams (Sonhos), vai permitir a caracterização de poeiras, a avaliação de riscos e analisador de ambiente na superfície marciana, no estudo ambiental.

O sistema Dreams consiste num conjunto de sensores para medir a velocidade dos ventos locais e direção (MetWind), humidade (Dreams-H), pressão do vento (Dreams-P), temperatura atmosférica perto da superfície (MarsTem), a transparência da atmosfera (Sensor de Irradiação Solar, SIS) e atmosféricos campos elétricos (Radiação Atmosférica e Sensor de Eletricidade; MicroARES) em Marte.


Créditos: ESA/DR

Para além das várias análises ambientais, a sonda também vai recolher e enviar para a Terra imagens da superfície, bem como detetar acidentes geográficos que podem estar relacionados com emissões de gases, como os vulcões.

Além disso, a Schiaparelli conta ainda com um pacote de instrumentação adicional, COMARS +, que irá monitorar o fluxo de calor no escudo térmico que atravessa a atmosfera.

Já na superfície, uma matriz de retrorefletores do laser, chamado INRRI, é acionado para auxiliar a localização por parte da nave-mãe TGO (Trace Gas Orbiter) da sonda instalada na superfície de Marte.

Os instrumentos científicos estão programados para operar na superfície de Marte entre dois a oito dias marcianos (Sois).


Sonda Shiaparelli é a oitava a pousar em Marte

A sonda espacial europeia Schiaparelli é a última peça de tecnologia terrestre a pousar no solo marciano.

Trata-se de uma exploração robótica e tecnológica que começou em 1960 com a primeira tentativa humana de colocar uma sonda terrestre no Planeta Vermelho.

Desde então, muitas foram as sondas orbitais e “terrestres” que amartaram no quarto planeta do sistema solar, a contar do Sol.

  • 1963 – Marte 1 (Soviética)
  • 1965 – Mariner 4 (Americana)
  • 1969 – Mariner 6 e 7 (Americana)
  • 1971 – Marte 2 e 3 (Soviética)
  • 1974 – Marte 5 (Soviética)
  • 1976 – Viking 1 e 2 (Americanas e as primeiras a pousar no solo marciano)
  • 1989 – Phobos 2 (Soviética)
  • 1996 - Mars Global Surveyor (Americana)
  • 1997 – Mars Pathfinder (Americana)
  • 1998 – Mars Climate Orbiter (Americana)
  • 1999 – Mars Polar Lander (Americana)
  • 2001 – Mars Odyssey (Americana)
  • 2003 – Mars Express (Europa) / Mars Exploration rover (Americana – Spirit e Opoortunity)
  • 2006 – Mars Reconnaissance Orbiter (Americana)
  • 2008 – Phoenix (Americana)
  • 2012 – Mars Science Laboratory (Americana – Rover Curtiosity)
  • 2013 – MAVEN (Americana) / MOM (Indiana)
  • 2016 - InSight (Americana)

Esta não é a primeira tentativa europeia de colocar um laboratório róbótico em Marte.

Em 2003, a sonda Beagle-2, que foi transportada pela Mars Express, não foi ativada corretamente após o pouso, embora imagens captadas pelo equipamento tenham sido recuperadas no ano passado.

Agora a expectativa é que esta missão, do projeto ExoMars, tenha um final bem sucedido, apesar da curta duração da Schiaparelli na superfície de Marte.

O módulo europeu está programado para descer na região do Meridiano Planum e após a entrada em funcionamento dos aparelhos cientificos obterá, por exemplo, as primeiras medições do campo eletromagnético na superfície de Marte e da concentração de pó atmosférico.

Localização das sondas terrestres enviadas a Marte - Créditos ESA e NASA

Para saber mais sobre as sondas espaciais enviadas da Terra consultar a Chronology of Mars Exploration da NASA.

Sonda Trace Gas Orbiter (TGO)

A sonda orbital europeia ExoMars - TGO, que levou a Schiaparelli, entrará também esta quarta-feira numa órbita elíptica de 96 horas de duração ao redor de Marte.

A sonda TGO, que se localizará entre os 300 e os 96 mil quilómetros, realizará um estudo detalhado dos gases do planeta marciano, com especial interesse no metano, que na Terra é responsável por originar processos biológicos e geológicos.

Este é um dos objetivos da missão da ESA Mars Express, em 2004, vidando compreender os processos de criação e destruição, com uma precisão de três ordens de magnitude superior às medições prévias.
ExoMars uma missão europeia a dois tempos
A missão europeia não terminará após o periodo de vida energético da sonda de fabrico italiano Schiaparelli.

A sonda ExoMars TGO continuará na órbita de Marte e em 2020 a Agência Espacial Europeia conta colocar no solo marciano um "rover", à imagem e semelhança do Curiosity americano, contruido pelo programa espacial britânico.



O custo das duas missões está calculado aproximadamente em 1.300 milhões de euros, mas a ESA necessita de mais recursos.

Segundo o Centro para o Desenvolvimento Tecnológico Industrial, em dezembro será realizada na Suíça uma conferência ministerial, em que o orçamento da ESA será revisto sendo este fundamental para obter luz verde para a boa continuação da missão europeia ExoMars.

Deste projeto europeu ainda faz parte a cooperação científica e tecnológica  russa, com uma relevância política significativa num periodo em que as tensões entre a Europa e Rússia estão exacerbadas pela intervenção de Moscovo na Ucrânia e no conflito sírio.