O prémio Nobel da Paz foi atribuído ao grupo mediador tunisino pela "contribuição para a implementação de uma democracia plural" após a queda do regime de Ben Ali, em 2011.
O organização tunisina é formada pelo Sindicato Geral de Trabalhadores (UGTT), a Confederação da Indústria, Comércio e Artesanato, a Liga Tunisina de Direitos Humanos e, finalmente, a Ordem de Advogados.
Na conferência de imprensa onde foi anunciada a organização laureada, o jurí destacou a importância deste quarteto no estabelecimento da democracia após a mudança de regime em janeiro de 2011, também conhecida por "Revolução de Jasmim". “O Quarteto abriu caminho para o diálogo pacífico entre os cidadãos, os partidos políticos e as autoridades”
O "Quarteto de Diálogo da Tunísia" foi fundado durante o verão de 2013, numa altura em que o país enfrentava forte contestação social e vários crimes políticos. Estabeleceu como prioridades a implementação de um sistema constitucional e a garantia dos direitos fundamentais para toda a população, sem olhar a posições políticas ou crenças religiosas.
Kaci Kullman Five, representante do comité norueguês, justificou a atribuição do prémio pelo papel determinante no estabelecimento do diálogo, numa altura em que o país se encontrava "à beira de uma guerra civil".
"Este prémio serve para encorajar o povo tunisino, que apesar das grandes dificuldades económicas, políticas e de segurança, conseguiu lançar as bases para uma fraternidade nacional", um esforço que o Comité espera que sirva "como um exemplo" para outros países.
Em reação ao anúncio feito esta manhã, o Presidente Béji Caïd Essesbi diz que o prémio consagra o "caminho consensual" escolhido pela Tunísia, apesar das "divergências ideológicas".
Um país frágil “Em vários países, a luta pela democracia e direitos fundamentais continua ou sofreu graves retrocessos. (...) Esperamos que este prémio contribua para salvaguardar a democracia na Tunísia e que seja uma inspiração para todos aqueles que procuram promover a paz e a democracia no Médio Oriente, Norte de África e no resto do mundo."
Foi precisamente na Tunísia que surgiram os primeiros motins de protesto contra regimes de cariz totalitário. A onda revolucionária da "Primavera Árabe" levou ao derrube de Ben Ali do poder, em janeiro de 2011, e varreu do poder algumas das ditaduras do Médio Oriente e Norte de África.
Apesar dos "grandes obstáculos", a Tunísia é, ainda assim um dos países mais estáveis na região que ocupa com um percurso "único e notável". No fim de 2014, procedeu às primeiras eleições democráticas desde 1989, tanto para a escolha de um governo como de um Presidente. Atos eleitorais que, para o comité norueguês, comprovam que a cooperação entre forças islamitas e movimentos políticos seculares é possível.
Mas, mais de quatro anos depois, o país do Magrebe continua a viver um momento social sensível. Apesar dos esforços da sociedade civil, a Turquia é ainda assim um país política e geograficamente frágil e de fracas condições de segurança. Em junho último, sofreu um dos piores atentados da sua história, que acabaria por lesar a imagem do país. O ataque na estância turística de Sousse fez 38 mortos e viria a ser reinvidicado pelo Estado Islâmico, uma das muitas forças rebeldes que tem contribuído para a destabilização social.
O prémio Nobel da Paz é atribuído desde 1901 e distinguiu organizações da sociedade civil ou organizações políticas em várias ocasiões. A última tinha sido em 2013, quando o comité de Oslo destacou o papel conciliador da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ).
Antes do Nobel da Paz, foram anunciados durante a semana os prémios nas várias categorias: Medicina, Física, Química e Literatura. Na próxima segunda-feira é conhecido o Nobel da Economia.