Polícia turca invade sede do grupo de media do imam Fethullah Gülen

por Graça Andrade Ramos - RTP
Imagens do site da televisão turca Bügun TV do clérigo Fethullah Gülen que transmitiu em direto a invasão das suas instalações pela polícia em cumprimento de uma ordem judicial para assumir o controlo do grupo Koza Ipek DR

A apenas quatro dias das eleições legislativas na Turquia, a polícia invadiu esta manhã em Istambul as instalações do grupo de media Koza Ipek Holding, próximo do clérigo Fethullah Gulen, ex-aliado e agora inimigo e rival do Presidente Recep Tayyip Erdogan.

No local funcionam duas cadeias de televisão, Bugün TV e Kanaltürk, e dois jornais, Bugün e Millet.

Os agentes cortaram as correntes e cadeados que impediam a abertura dos portões e usaram gás lacrimogéneo e canhões de água para dispersar empregados que protestavam no exterior do edifício.

A invasão e os confrontos foram filmados e transmitidos pelas televisões do Koza Ipek. O correspondente da Antena1, José Pedro Tavares, relata o que se passou.
José Pedro Tavares, Antena1

Acompanhado pela polícia, um grupo de administradores recém-nomeados pelo tribunal entrou depois nas zonas de controle de emissão de ambas as televisões, apesar dos protestos do editor princial da Bügun TV, Tarik Toros.

"Caros telespetadores, não se admirem se virem a polícia no nosso estúdio nos próximos minutos", avisou Toros diante das câmaras, antes de a emissão ser retirada do ar por breves instantes.

"É uma vergonha. Assistimos aos últimos instantes da emissão livre da Bügun TV", denunciou por seu lado o deputado da oposição Baris Yarkadas presente no local no momento da invasão. "Todos os que são responsáveis por esta decisão deverão responder perante os seus crimes perante a história", acrescentou, de acordo com media turcos.

A holding Koza Ipek é acusada por um procurador de Ancara de "financiar", "recrutar" e "fazer propaganda" a favor do iman Fethullah Gülen, que dirige a partir dos Estados Unidos uma rede de Organizações Não Governamentais, media e empresas que as autoridades qualificam como "organização terrorista".

A Bugün TV mantém ainda na internet uma emissão ininterrupta. No exterior do edifício-sede centenas de pessoas, incluindo várias mulheres, reuniram-se em protesto contra a invasão.

A polícia invadiu o edifício sede do grupo de media Koza Ipek Holding, próximo do clérigo Fethullah Gulen, ex-aliado e agora inimigo e rival do Presidente Recep Tayyip Erdogan.

Fotos: Agências de Notícias Cihan e Reuters


Ex-aliado do presidente Recep Tayyip Erdogan, Gülen tonou-se "inimigo público nº1" depois de um escândalo de corrupção que atingiu em 2013 os homens fortes do regime turco.

O chefe de Estado turco acusa agora o imam de ter construído um "Estado paralelo" para o depor, intentando diversas ações judiciais e purgas contra os seus seguidores.

Desde o mês passado que se haviam realizado buscas em 23 locais pertencentes ao Koza Ipek, no quadro de um inquérito "anti-terrorista".

A 14 de dezembro de 2014 a sede do jornal diário Zalman e a TV Samanyolu, próximas de Fethullah Gülen, foram também invadidos pela polícia turca, tendo sido detidas 23 pessoas em todo o país, numa operação contra o que o presidente Erdogan descreve como uma rede de conspiradores para o derrubar. Foto: Reuters

Segunda-feira passada um tribunal de Ankara colocou o grupo de media sob a tutela do Estado, decisão denunciada como atentado à liberdade de imprensa a apenas quatro dias das eleições legislativas marcadas para domingo.

Akin Ipek, o patrão do grupo, atualmente no estrangeiro, negou categoricamente na terça-feira qualquer atividade ilegal e denunciou aquilo que apelidou de "mentiras".

Esta não é a primeira vez que o governo de Erdogan tenta silenciar jornais e televisões ligadas ao antigo aliado.

A Embaixada dos Estados Unidos na Turquia reagiu na sua conta Twitter, considerando que, "quando a panóplia de pontos de vista ao serviço dos cidadãos se reduz, em particular na véspera de umas eleições, é uma fonte de inquietação".
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