Radovan Karadzic condenado a 40 anos de prisão

por Ana Sofia Rodrigues - RTP
Robin Van Lonkhuijsen - EPA

O antigo líder dos sérvios da Bósnia foi esta quinta-feira condenado por dez dos 11 crimes de que estava acusado. O Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia considerou Radovan Karadzic culpado de genocídio. O acusado já anunciou que vai recorrer da decisão.

Karadzic, fundador do Partido Democrático Sérvio (SDS) da Bósnia e primeiro presidente da Republika Srpska (RS), foi dado como culpado do genocídio de Srebrenica, em 1995, e que o massacre se inscrevia no plano de "limpeza étnica" planificado por Karadzic, em conjunto com Milosevic e Mladic.

O juiz considerou que o acusado tinha a intenção de, de facto, eliminar os homens muçulmanos de Srebrenica. Este é considerado o maior massacre na Europa desde a II Guerra Mundial.

Radovan Karadzic foi ilibado de uma segunda acusação de genocídio, em várias cidades da Bósnia. Os juízes consideraram que neste caso não tinham provas suficientes.

De acordo com a sentença, Karadzic quis dividir o país e "caçar para sempre os muçulmandos e os croatas do território reivindicado pelos sérvios da Bósnia".
Karadzic tem agora 70 anos. Ouviu a sentença de cabeça baixa.
Os crimes de guerra e contra a humanidade de que é acusado provocaram 100 mil mortos entre 1992 e 1995 e 2,2 milhões de deslocados.

"Radovan Karadzic é responsável, como indivíduo do crime de tomada de reféns”, afirmou o juiz O-Gon Kwon, acrescentando que é igualmente responsável de mortes, violações, tratamentos inumanos e perseguições em vários municípios da Bósnia e em Sarajevo. Foi ainda culpado do cerco à capital bósnia, que durou vários anos.

O massacre de Srebrenica e o cerco a Sarajevo foram acontecimentos que transformaram a opinião pública e levaram a NATO a realizar ataques aéreos que ajudaram a terminar a guerra.

O veredicto é conhecido no dia em que se comemora o aniversário do início dos ataques aéreos da NATO, em 1999.
Karadzic vai recorrer
O advogado de defesa Peter Robinson veio já garantir que irá recorrer da condenação. O advogado assegurou que Radovan Karadzic está "desapontado e surpreendido" e diz que foi acusado com base em deduções.

Após a guerra, o ex-líder sérvio-bósnio desapareceu durante mais de uma década, apesar dos mandados internacionais de prisão contra ele. Foi detido em Belgrado, em 2008, onde vivia disfarçado de médico de medicinas alternativas, sob uma farta barba branca e atrás de espessos óculos escuros.

Em entrevista concedida na quarta-feira ao BIRN, uma rede digital de jornalistas da região balcânica, o ex-líder sérvio bósnio disse que espera ser "absolvido" e assegurou que manteve um "combate permanente pela paz", considerando que a "ingerência de potências estrangeiras na crise" impeO julgamento durou 497 dias e teve 586 testemunhas.diu um acordo político antes do início da guerra, em abril de 1992.

Com a confirmação desta acusação, Karadzic é o primeiro indiciado do TPIJ a ser condenado por genocídio durante as guerras jugoslavas, uma sentença que poderá ter um enorme impacto para as organizações das vítimas e a opinião pública de Sarajevo, que em 2008 celebrou a sua detenção.

O antigo Presidente sérvio, Slobodan Milosevic morreu na prisão em 2006, antes do tribunal ter chegado a um veredicto. Ratko Mladic, o general que comandou as forças dos sérvios da Bósnia, foi o último suspeito a ser detido e está detido à espera de julgamento.
"Julgamento extremamente importante"
O secretário-geral da ONU considerou este um “dia histórico para a justiça internacional”. Ban Ki-moon diz que o veredicto envia um “sinal forte para aqueles que estão em posições de responsabilidade, indicando-lhes que lhes serão pedidas contas pelos seus atos”, acrescentando que os fugitivos não conseguem escapar à vontade coletiva da comunidade internacional de assegurar que a justiça é feita.

O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos já manifestou apreço pela sentença. Zeid Ra'ad Al-Hussein veio afirmar, em comunicado, que a decisão mostra que mesmo poderosos perpetradores deste tipo de crimes “têm de saber que não vão escapar à justiça”.

Al-Hussein acrescentou que o julgamento deve servir de exemplo aos líderes na Europa e em todo o mundo que procuram “explorar sentimentos nacionalistas e usar as minorias como bodes expiatórios”.

O procurador do Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia, Serge Brammertz, considerou que "foi feita justiça". Em comunicado, o procurador veio dizer que "milhares de pessoas vieram a tribunal contar as suas experiência e corajosamente confrontar os perseguidores. Com esta condenação esta verdade foi respeitada".

Os sobrevivente do massacre de Srebrenica reagiram, dizendo que o veredicto não foi suficientemente duro e chegou tarde demais. “Estou tão desiludida”, diz Bida Smajlovic, de 64 anos à Reuters. O marido morreu no massacre. “Gostava que tivesse sido aplicada uma pena capital”, acrescentou Vasva Smajlovic, de 73 anos. “O meu marido está morto há 20 anos e Karadzic ainda está vivo. Pelo menos, esperava uma prisão perpétua”, sublinha.

“A condenação a 40 anos de prisão é injusta e não contribuir, nem para a verdade, nem para a confiança na região”, refere, em sentido inverso, Mladen Bosic, o líder do Partido Democrático Sérvio que Karadzic fundou em 1990. “O tribunal de Haia mostrou novamente que é um tribunal político”, rerforçou.

Os críticos ao Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia têm acusado o tribunal de arguir desproporcionadamente os sérvios, já que 94 dos 161 réus são do lado sérvio, enquanto 29 eram croatas e nove muçulmanos bósnios.


c/agências
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