Rússia e Síria acusam aviação turca de violar espaço aéreo sírio

por RTP
Grigory Dukor, Reuters

Num contexto de tentativas turcas para apaziguar a Rússia, surgem agora acusações de Moscovo e Damasco: o bombardeiro russo SU-24 não só foi abatido no espaço aéreo sírio, como o foi por um aparelho turco que violou esse espaço aéreo. Em Ankara, a oposição curda apoia a versão russa e fala num incidente orquestrado.

A Rússia declara que não vai desencadear uma guerra contra a Turquia por causa do incidente com o SU-24, mas que irá "rever as relações" com o país vizinho. No quadro desta atitude dura de Moscovo, surgem novas achegas para a versão russa, culpabilizante da Turquia.O depoimento do sobrevivente russo
Algumas, são retiradas do depoimento do piloto-navegador sobrevivente, Konstantin Murakhtin, que nega ter entrado em espaço aéreo turco e que nega ter recebido avisos por rádio e intimações para mudar de rota, como parece documentado em excertos de uma gravação divulgados pelo Governo turco.

Como para dar crédito ao depoimento do militar resgatado, o site da televisão russa RT cita um seu jornalista, Roman Kosarev, com Murakhtin depois do salvamento: "O piloto foi levado para a base durante a noite. Pelo menos à vista parece bem. Os médicos dizem que a saúde dele não está em perigo".

E cita o próprio Konstantin Murakhtin, a dizer: “É impossível termos violado o espaço aéreo deles, por um segundo que fosse. Estávamos a voar a uma altitude de 6.000 metros, com um tempo completamente limpo, e eu tinha um controlo total sobre a nossa rota".

A mesma RT cita, sem comentários, mas em tom claramente céptico, a carta do Governo turco à ONU, alegando que dois aparelhos russos haviam sido avisados dez vezes em cinco minutos e também que do lado turco se desconhecia a nacionalidade desses aparelhos.Acusações de violação da sobernia síria
Também segundo a RT, o Estado-Maior russo precisou agora que o SU-24 não só foi abatido em espaço aéreo sírio, mas que o foi também por aparelhos turcos que tinham entrado nesse espaço aéreo. Esta versão é agora apoiado pelo ministro sírio dos Negócios Estrangeiros, Walid Muallem, que acusou a Turquia de "ajudar terroristas na Síria", ao entrar em espaço aéreo sírio para abater o bombardeiro russo.

Segundo Muallem, "o esforço para destruir as forças do 'Estado Islâmico' e outros grupos terroristas incomodava a Turquia. É por isso que eles violaram agressivamente a sobernia síria e atacaram o SU-24 no seu espaço aéreo".

A Rússia acusa também a Turquia de, logo após o incidente, se ter posto em contacto com a NATO e de ter ignorado os pedidos russos para estabelecer comunicação entre ambas as partes.Suspeitas de premeditação
O ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, disse por outro lado: "Temos sérias dúvidas de que este acto não tenha sido intencional. Tem todo o ar de uma provocação preparada de antemão". E argumentou estas suspeitas com a recusa de comunicação por parte da Turquia e com a abundante filmagem que foi feita da ocorrência.

Em Ankara, multiplicam-se, por outro lado, nos arraiais da oposição, as vozes que apoiam as suspeitas russas sobre uma provocação premeditada. A agência noticiosa russa SputnikNews dá, naturalmente, considerável destaque a essas vozes, como faz ao citar Kani Xulam, o líder da Rede de Informação Curdo-Americana: "O presidente turco Recep Tayyip Erdogan recusou um acordo com o dirigente sírio Bashar Assad porque quer a Frente al-Nusra Front e outros grupos terroristas financiados por Ankara tomem o poder no país árabe dilacerado pela guerra".

E acrescenta: "O ataque turco ao avião russo pode ter sido motivado pelas conversações em curso em Viena ... Um acordo de paz com Assad não é algo que Erdogan queira para a Síria".

O diário turco Hurryiet, por sua vez, dá conta das declarações de İdris Baluken, presidente e deputado curdo do Partido Democrático do Povo (HDP), que pôe em causa a justificação turca. Segundo Baluken, o ataque ao avião russo não foi motivado pela preocupação de defender as populações turcomanas em território sírio: "Esta visto que a acção de abater o caça russo foi decidida e planeada de antemão e só levada a cabo ontem. O que ontem vimos foi uma cena de uma política planeada".

E lembrou que o Governo do AKP "não levantou a sua voz quando os turcomanos estavam a ser mortos em Mossul e Telafar em 2014".
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