Sondagem chinesa mostra maioria contra o consumo de carne de cão

por RTP
Cães destinados a abate, no festival de Yulin Kim Kyung-Hoon, Reuters

O debate público foi desencadeado por um festival gastronómico de Yulin, uma pequena cidade na região de Guangxi, no sudoeste da China. Entretanto, uma sondagem desmente o estereótipo do chinês "comedor de carne de cão".

O festival de Yulin fora iniciado por comerciantes da cidade, com o fito de atrairem o turismo e dinamizarem o negócio. Mas um dos principais argumentos das pessoas inquiridas para rejeitarem o festival é o de este dar "mau nome" ao país.

Durante o festival são habitualmente abatidos e comidos milhares de cães e gatos. Organizações de protecção dos animais referem o número de 10.000 abatidos diariamente durante o festival e perguntam-se de onde vêm. Um dos fenómenos que acompanha o mercado de carne de cão e gato é o roubo em larga escala de animais de companhia.

Por outro lado, as organizações de protecção dos animais, aliadas às de defesa dos consumidores, põem em causa a qualidade sanitária da carne abatida para: é que não existe uma indústria chinesa que alimente esse comércio, nem é fácil que venha a criar-se, porque um cão ou um gato só ao fim de um ano de crescimento são comestíveis, ao passo que um porco - mais precoce - pode sê-lo ao fim de três meses. Numa palavra, o roubo de cães e gatos compensa muito mais do que a sua criação industrial.

Daqui resulta também que a vacinação dos animais obtidos por vários meios, incluindo o roubo, não é rentável, por sair muito mais cara que a vacinação de espécies herbívoras. E resulta que os apreciadores de carne de cão e gato podem facilmente ser envenenados pelos restos, que ficam no organismo dos animais, do cianeto utilizado para facilitar a sua captura e com que muitas vezes são mortos. O consumo da carne de cão e gato coloca portanto problemas sérios de saúde pública.Desmentida a idiossincrasia do povo comedor de cães
Acontece que o festival promovido pelos empresários locais não tem raízes tão sólidas na cultura chinesa como à primeira vista possa supor-se. Segundo o oficioso Renmin Ribao, os inquiridos pela sondagem, com idades entre os 16 e os 50 anos, manifestaram-se por larga maioria a favor da proibição daquele festival gastronómico: nada menos de 64 por cento preconizam a proibição.

Uma maioria menos confortável, de 51,7 por cento, incluindo entre os habitantes da cidade de Yulin, é a favor da proibição completa da venda de carne de cão. Outra maioria é a dos que declaram nunca ter comido carne do melhor amigo do Homem: 69,5 por cento.

No mesmo sentido, a recente iniciativa legislativa do deputado Zheng Xiaohe, apresentada em Março, com vista a proibir a venda de carne de cão e gato foi apoiada por uma petição on-line com oito milhões de subscritores.

A aparente viragem na opinião pública chinesa anda de mãos dadas com um número elevado, e crescente, de animais de companhia nos lares chineses. Segundo uma sondagem de 2015, eles atingem cerca 30 milhões nas cidades.
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