Turquia intercepta milhares de migrantes no mar e em terra

por Graça Andrade Ramos - RTP
Um refugiado protesta contra o encerramento das fronteiras na Europa Alkis Konstantinidis - Reuters

Um total de 1.734 migrantes e 16 traficantes de pessoas foram detidos na Turquia durante esta sexta-feira, numa operação de grande envergadura que envolveu forças policiais terrestres, a guarda-costeira e a Marinha turcas além de helicópteros. A operação centrou-se na cidade de Dikili, na costa turca do mar Egeu.

A interceção dos migrantes e dos traficantes deu-se em poucas horas.

Os detalhes sobre a operação foram revelados ao início da noite num comunicado das forças de segurança da Turquia.

Os migrantes, intercetados já no Mar Egeu e em hostels e ruas da cidade na costa turca, estavam a ser encaminhados para um recinto desportivo em Dikili, afirmou à agência Reuters um alto responsável de segurança local.

As detenções coincidem com o acordo em Bruxelas esta sexta-feira, entre a União Europeia e a Turquia, que prevê a devolução à Turquia de todos os migrantes que cheguem a Lesbos depois de domingo dia 20 de março.

O prazo terá provocado uma corrida dos migrantes para tentar alcançar a ilha grega antes da data.

Os migrantes detidos são sobretudo da Síria e do Afeganistão e vão ser questionados para ser confirmada a sua identidade, a proveniência e para decidir a sua sorte.

"Penso que há muitas pessoas a fugir da guerra para a Europa e penso que isso pode ser um problema," reconheceu à Reuters, um dos detidos, Issam Katib, de 27 anos e oriundo de Damasco.

Katib acredita ainda que, uma vez na ilha grega de Lesboas, os migrantes seriam livres para circular na Europa, uma ideia muito comum entre os migrantes.

"Se a Turquia nos der o direito de escolher o país para vivermos, é ok, mas penso... Na Grécia temos o direito de escolher," disse ao repórter da Reuters. "precisamos todos (de ir) de uma forma legal, talvez não pelo mar," conclui.
Líbia pode ser nova rota
O acordo europeu com a Turquia procura encerrar definitivamente a principal rota usada por milhares de pessoas para entrar na Europa, através dos Balcãs.

Mais de um milhão atravessaram a Turquia e depois o Mar Egeu em 2015 para alcançar a ilha de Lesbos. Depois de transportados para Atenas seguiram a pé para o centro da Europa, a maioria para a Alemanha.

Atualmente cerca de 13.000 pessoas estão amassadas num campo improvisado junto à aldeia grega de Idomeni, na fronteira entre a Grécia e Macedónia, impedidos de prosseguir caminho devido ao encerramento das fronteiras e às barreiras erguidas pelos países do centro da Europa.

Federica Mogherini, responsável pela diplomacia da União Europeia, escreveu entretanto aos líderes europeus, lembrando que o encerramento da rota dos Balcãs através do acordo com a Turquia, poderá fazer os traficantes de pessoas virarem a sua área de 'negócio' para a Líbia, onde mais de 450.000 pessoas deslocadas e refugiadas podem ser "potenciais candidatos para viajar para a Europa."

Mogherini aconselha a União Europeia a preparar para o país uma missão civil de segurança para apoiar a polícia local, incluindo a guarda das fronteiras e as operações de contra-terrorismo.
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