Varoufakis conta Portugal entre "os mais enérgicos inimigos" da Grécia

por RTP
Jean-Paul Pelissier, Reuters

O ex-ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, já na sexta feira à noite considerava inaceitáveis os termos do pacto que Tsipras se preparava para assinar. Os que Tsipras acabou por assinar foram ainda mais gravosos. A rota de colisão está definida.

Na sua primeira entrevista desde a demissão, concedida ao site New Statesman, Varoufakis considera os termos aceites pelo Governo de Atenas na sexta feira à noite como "absolutamente impossíveis, totalmente inviáveis e tóxicos" e classifica-os como "o tipo de propostas que se faz ao interlocutor quando não se quer um acordo".

Para Varoufakis,  "este país [Grécia] tem de parar de adiar e de fingir, tem de parar de tomar novos empréstimos fingindo que resolve o problema, quando não o resolve; quando torna a sua dívida ainda menos sustentável e atira o fardo para cima dos pobres, criando uma cirse humanitária".

O ex-ministro lembra que, no momento em que o Syriza chegou ao Governo, teria sido fácil chegar a um acordo de curto prazo, com "três ou quatro reformas" aceites pelo Governo grego e, em troca, uma flexibilização das restrições de crédito impostas pelo Banco Central Europeu (BCE). Mas, acrescenta Varoufakis, "o outro lado insistiu num 'acordo abrangente', o que significava que eles queriam falar sobre tudo. E a minha interpretação é que, quando se quer falar sobre tudo, não se quer falar sobre coisa nenhuma".

Olhando para trás, para os vários meses de negociações que conduziu, Varoufakis diz que "não houve absolutamente nenhumas posições [novas] apresentadas por eles".

As suas recordações sobre a interlocução com o homólogo alemão Wolfgang Schäuble são particularmente penosas. Este manteve-se entrincheirado numa posição do tipo: "Não estou a discutir o programa - este foi aceite pelo anterior Governo [grego] e não podemos permitir que uma eleição mude coisa nenhuma".

"Neste ponto", recorda ainda Varoufakis, "eu disse-lhe: 'Bom, talvez então devamos simplesmente deixar de realizar eleições em países endividados', e não houve resposta. A única interpretação que tenho da visão deles é: 'Sim, seria uma boa ideia, mas seria difícil. Portanto, ou vocês assinam ou estão fora'".

O ex-ministro grego conta que tentou apresentar os seus argumentos, baseados no estudo do impacto económico das decisões a tomar, mas que ninguém no Eurogrupo se interessou em discutir esses argumentos. "Era como se não tivesse falado. O que eu digo era independente do que eles diziam. Eu podia até ter cantado o hino nacional sueco - a resposta teria sido a mesma".

Neste ponto da evocação das discussões, Varoufakis refere que os países de quem esperaria mais compreensão pela posição grega foram precisamente os seus "mais enérgicos inimigos". Refere-se aqui a Portugal, Espanha, Itália e Irlanda, e explica a sua hostilidade porque, "se nós conseguíssemos negociar com êxito um acordo melhor, isso liquidá-los-ia politicamente: teriam de explicar ao seu próprio povo por que não negociaram como nós fizemos".

Varoufakis descreve o processo negocial como uma série de manobras dilatórias e de armadilhas por parte das "instituições", para depois concluir: "Tramaram-nos".
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