Investigação Sexta às 9: rede de corrupção para além das messes da Força Aérea

por Sandra Felgueiras

Foto: Reuters

Será bem maior a dimensão do alegado esquema de corrupção na Força Aérea. Em entrevista exclusiva à RTP um graduado que trabalhou na secção de aquisições revela que a rede agora descoberta é muito mais abrangente. Diz que acontece também no Exército e que não se circunscreve aos bens alimentares.

Ao programa Sexta às 9, que pode ver na íntegra esta noite logo a seguir ao Telejornal, um graduado que trabalhou na secção de aquisições da Força Aérea, no campo de tiro de Alcochete, assume que a corrupção agora descoberta, e que deu origem à detenção de 6 miltares, é transversal às várias seções de compras da Força Aerea mas também ao Exército.

"A rede começava desde o fornecedor até à cadeia de comando dentro das unidades, logicamente. Os fornecedores tinham que ser sempre coniventes com as situações a nível dos preços praticados no fornecimento, a nível das faturas quando elas existiam, que eram apresentadas com valores muito superiores à mercadoria fornecida. E lógico que a partir daí a máquina estava muito bem oleada"

Estes atos de corrupção são transversais aos três ramos das Forças Armadas ou acontecem apenas na Força Aérea?

"Eu conheço dois ramos das Forças Armadas. Conheço a Força Aérea e conheço o Exército. Acontecia muitas vezes em muitas unidades do Exército esse tipo de situações. Os alimentos e outros tipo de produtos eram fornecidos através da manutenção militar, mas na realidade não eram utilizados a nível militar mas saiam depois para o circuito civil através dos militares que estavam colocados, nomeadamente a nível das chefias, nos pelotões de reabastecimento e depósitos de géneros"

Por aquilo que me conta esta questão da messe e dos actos de corrupção que envolvem os gerentes de messe está muito longe de ser o único acto de corrupção que acontece no interior das Forças Armadas? Estende-se a tudo o que envolve central de compras?

"As messes limitam-se simplesmente à parte alimentar."

Chegou a presenciar alguma entrega de dinheiro?

"Sempre em dinheiro vivo. Sempre em dinheiro vivo. Nunca houve cheque. Não havia cheques nem transferências para não haver pistas, logicamente. Cheguei, cheguei a ver, principalmente no final de cada trimestre e no final do ano, determinados donos de empresas que se dirigiam à pessoa responsável pela área de compras na unidade da Força Aérea onde prestei serviço, que lhe davam envelopes com notas. E, lógico, nós estávamos na secção e víamos, apercebíamo-no disso"

Porque é que nunca denunciou estes casos?

"Eu denunciei o esquema. E na altura em que denunciei fui afastado. Porque vim a saber mais tarde que o meu graduado, a pessoa que estava acima de mim e ao qual eu denunciei a situação, porque nunca pactuei com essas situações, também fazia parte do esquema. E como também era parte interessada optou por me afastar e eu fui colocado noutra secção. Naquelas secções que ninguém quer"
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