Um ano depois do surto de legionella a culpa continua solteira

Há cerca de um ano, morreram 14 pessoas e 403 foram infetadas em Vila Franca de Xira com legionella. Foi o segundo maior do surto desta doença do mundo.

Sandra Salvado, Pedro Pina, Nuno Patrício, Osvaldo Costa Simões /
O Ministério Público recebeu 209 queixas-crime, mas ainda não foi deduzida qualquer acusação.

Apesar de o processo continuar em segredo de justiça, a RTP apurou que a Polícia Judiciária ainda está a ouvir depoimentos.

Um ano depois, a Polícia Judiciária ainda está a ouvir testemunhas. Em 7 de novembro de 2014, o concelho de Vila Franca de Xira vivia o segundo maior surto de legionella do mundo

De acordo com o último relatório público do surto de legionella, tinham sido registados 375 casos de doença e 12 óbitos, números que entretanto aumentaram ligeiramente para 14 óbitos e 403 casos.


Francisco George, da Direcção-Geral de Saúde, lembra que "foi possível perceber qual era o problema e descobrir num tempo muito rápido qual era a fonte da infeção e encontrar uma explicação para terem surgido de forma explosiva mais de 400 casos de pneumonias graves".

No relatório da Direção Geral de Saúde com a data de 21 de novembro de 2014, dá-se por demonstrada a correspondência da estirpe de bactérias isoladas numa das torres de arrefecimento da empresa Adubos de Portugal, com a estirpe identificada em secreções brônquicas de doentes.

As freguesias de Forte da Casa, Póvoa de Santa Iria e Vialonga, das mais afetadas pelo surto, foram regressando à normalidade, mas a vida nunca mais foi a mesma.

Maria Isabel Raimundo tem 65 anos, vive na Granja, em Vialonga. Diz:
"Nunca mais fui trabalhar. A minha médica disse-me para eu me deixar disso porque tinha que fazer força. Eu vendia fruta e hortaliça na praça. Tinha que fazer muita força para carregar as caixas e aquilo é muito frio (...) Se faço alguma coisa, tenho sempre uma pontada nas costas".

Irene Alegre, de Forte da Casa, com 64 anos de idade, também afirma: "Desde que tive legionella, sinto que não sou a mesma pessoa porque estou muito bem e, de repente, dá-me uma fraqueza esquisita que me faz ir para a cama".

As queixas de Maria Rosa, da Póvoa de Santa Iria, são semelhantes: "Já estive internada mais duas vezes com pneumonia porque uma simples corrente de ar que eu apanhe provoca-me logo pneumonia. Tenho de ter muito cuidado com as mudanças de temperatura".

A RTP contactou esta sexta-feira a empresa Adubos de Portugal, que remeteu para mais tarde eventuais declarações.

Na altura, cinco empresas de Vila Franca de Xira foram alvo de mandados da Inspeção-Geral do Ambiente e do Ordenamento do Território, tendo sido obrigadas a parar a laboração.

O Ministério Público recebeu 209 queixas-crime, mas quase um ano depois ainda nenhuma acusação foi deduzida pelo Departamento de Investigação e Ação Penal.
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