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Clã Espírito Santo foi o maior financiador das campanhas de Cavaco

por Paulo Alexandre Amaral, RTP
José Manuel Ribeiro, Reuters

As audições que estão a decorrer no Parlamento para esclarecer os contornos do processo que levou ao desmoronamento do império Espírito Santo chamaram a atenção para os donativos do círculo Espírito Santo depositados nas sedes da campanha eleitoral do atual Presidente da República. De um total de 1.497.128 euros, Cavaco Silva contou com 250 mil euros de próximos de Ricardo Salgado, ou seja, um sexto do financiamento total da campanha, excluindo os cerca de 300 mil euros da subvenção estatal. Uma ajuda financeira que fora já registada nas presidenciais de 2006.

Os dados estão no Tribunal Constitucional e foram puxados nestes dias pelos media: entre os candidatos das Presidenciais de 2011, Cavaco Silva foi o nome escolhido pela família Espírito Santo para os cheques de donativos de maior montante. Já em 2006 os Espírito Santo entregaram à campanha do Presidente da República 152 mil euros, sendo nessa primeira eleição uma das principais financiadoras de Cavaco Silva


De um total de 1.497.128 euros, Cavaco Silva contou com 250 mil euros do círculo próximo de Ricardo Salgado. É uma ajuda que representa um sexto do financiamento total da campanha, excluídos os cerca de 300 mil euros da subvenção estatal. Uma ajuda financeira que fora já registada nas presidenciais de 2006.

Com o valor máximo permitido por lei - 25.560 euros - surgem na lista de donativos de Cavaco vários membros dos Espírito Santo: Ricardo Salgado, o patriarca; António Roquette Ricciardi, ex-administrador da Espírito Santo Financial Group e pai de José Maria Ricciardi; José Manuel Espírito Santo, vice-presidente da Espírito Santo Financial Group.

Mas não foi apenas a família Espírito Santo que ajudou a financiar a campanha de Cavaco Silva, também o círculo que gravitava em torno do grupo banqueiro que se afundou este verão colocou a maior parte das fichas num segundo mandato do Presidente da República.

O Observador assinala entre estes os casos de Pedro Queiroz Pereira, presidente da Semapa e anterior colaborador e acionista de referência do BES, Amílcar Morais Pires, membro da comissão executiva do BES, e Joaquim Goes, membro da comissão executiva do BES que chegou a ser apontado para a sucessão a Ricardo Salgado. José Guilherme é o empresário que deu a Ricardo Salgado uma prenda de 14 milhões de euros.

O mesmo site lembra ainda o caso da família de José Guilherme: 100 mil euros depositados na sede de campanha de Cavaco em valores entregues por várias mãos. O empresário doou 25 mil euros, a mulher outros 25 mil, o filho, Paulo Jorge Veríssimo Guilherme, 25 mil, e Ilda Maria Veríssimo Guilherme Silva Alberto, familiar que tem a função de gestora da empresa de José Guilherme, mais 25 mil euros.

Já em 2006 a família dos construtor civil da Amadora havia doado para Cavaco Silva, na altura com maior parcimónia: 20 mil euros de José Guilherme, 20 mil da mulher e 15 mil do filho.

“Em 2006, José Guilherme doou 20 mil euros para a campanha de Cavaco Silva, num cheque que chegou à campanha no dia 9 de janeiro de 2006, o mesmo em que sua mulher (Beatriz Conceição Veríssimo) doou igualmente 20 mil euros. Passados 11 dias foi a vez do filho de José Guilherme, Paulo Guilherme, doar 15 mil euros”, assinalava em agosto o Diário de Notícias.
Campanha de 2006 com ajuda dos Espírito Santo
Os donativos confiados por Ricardo Salgado e vários administradores do Banco Espírito Santo à campanha de 2006 de Cavaco Silva andaram à volta de 152 mil euros, o que representa sete por cento do financiamento total obtido. O patriarca dos Espírito Santo endossou na altura o cheque máximo permitido por lei: 22.482 euros.

Outros quatro administradores do Grupo Espírito Santo, entre os quais António Ricciardi (ex-presidente do BES), José Manuel (ex-administrador) e Manuel Espírito Santo (ex-presidente da Rioforte), também optaram pelo donativo máximo na campanha que levou Cavaco Silva a Belém pela primeira vez. José Maria Ricciardi ficou-se pelos 15 mil euros. Em janeiro de 2004, o semanário Expresso noticiava que Cavaco Silva tinha sido o convidado de um jantar em casa de Ricardo Salgado - no qual estiveram também presentes Durão Barroso e Marcelo Rebelo de Sousa. Homem forte do BES teria então pressionado Cavaco a candidatar-se a Belém nas eleições agendadas para 2006.

A estes valores juntam-se os donativos máximos doados por Rui Duarte Silveira (ex-presidente da Assembleia-Geral da ESAF), José Manuel Ferreira Neto (ex-presidente do Banco Internacional de Crédito SA, participada a 100 por cento pelo BES) e de Mário Mosqueira, acionista histórico do GES já falecido.

“Além de serem homens-fortes do universo BES, os cheques deste três destacados membros chegaram à campanha no mesmo dia dos de Ricciardi e Ricardo Salgado, 21 de novembro de 2005”, sublinhava o Diário de Notícias em finais de agosto passado.

Mas não foi o BES a única instituição bancária a fazer donativos à campanha de Cavaco Silva. João Rendeiro, na altura líder do BPP, também enviou um cheque com o valor máximo permitido por lei (22.482 euros); Horácio Roque, à data líder do BANIF, ofereceu 20 mil euros; e Paulo Teixeira Pinto, então presidente do BCP, doou cinco mil euros.

Nessa primeira eleição para Belém, Cavaco Silva não foi o único candidato a receber apoio financeiro à candidatura por parte da banca. Outros banqueiros optaram então por dividir os seus donativos, apoiando Cavaco Silva e Mário Soares.

Um desses banqueiros foi Jardim Gonçalves (antigo homem-forte do BCP), que dividiu 20 mil euros pelos dois candidatos. José Oliveira e Costa (ex-presidente do BPN) doou 15 mil euros para a campanha de Cavaco Silva e 2.500 euros para a campanha de Mário Soares. Abdul Vakil (ex-presidente do BPN) doou 5.000 euros a Cavaco Silva e 2.500 à campanha de Mário Soares.

(c/ Cristina Sambado, RTP)
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