Costa elege governo de gestão como "pior das soluções"

por Ana Sofia Rodrigues - RTP
Hugo Correia - Reuters

Na Grande Entrevista da RTP e no dia em que o Presidente da República lembrou que ele próprio liderou um governo de gestão durante cinco meses, António Costa veio dizer que esta é a pior das soluções e que não há razão para criar “crises políticas artificiais”. O líder socialista reitera que a sua solução de governo traz garantias de estabilidade e governabilidade e considera que o Cavaco Silva tem condições para empossar um Executivo com apoio parlamentar à esquerda.

Seria um “erro muito grande” que criaria um efeito penalizador na economia, dificuldades para a aprovação de um Orçamento do Estado. É esta a visão expressa por António Costa sobre um eventual governo de gestão. O líder socialista considerou que um executivo com capacidades governativas limitadas de nada serviria ao país e diz mesmo que “não percebe a dúvida”. “Até o PSD está de acordo”, ironiza Costa.

António Costa defende que o Presidente da República é “dono do seu calendário” e respeita as funções do Chefe de Estado. No entanto, é assertivo quando argumenta que “não há razões para crises políticas artificiais” nem para arrastar o país para uma situação de indefinição.

“Se o Parlamento estivesse num impasse, poderia pôr-se essa questão”, avalia Costa ao mesmo tempo que argumenta que a solução de acordo à esquerda cumpre todos os requisitos de estabilidade e governabilidade.
“Não é um golpe de Estado”
Quando questionado sobre as recentes acusações feitas por Pedro Passos Coelho, que acusou Costa de “golpista” e de tentar chegar ao poder de forma “fraudulenta”, o secretário-geral socialista afirma que o primeiro-ministro “só se pode queixar de si próprio” ao não ter conseguido chegar a uma solução de governo estável.

Algo que o PS diz ter conseguido. “Não é um golpe de Estado. Resulta do voto dos portugueses”, afirma Costa.

António Costa criticou ainda o tom das declarações da coligação de direita, que estão a criar “crispação e agressividade artificial”. Palavras “incendiárias” no entender de Costa, que contrastam com o que deveria ser o dever de serenidade e sangue frio.

O secretário-geral diz que o momento é o de criar condições de governo e por de lado a crispação política.
Confiança na aprovação do Orçamento
António Costa veio reforçar a confiança na capacidade de cumprir nos quatros anos de legislatura o défice abaixo dos limites impostos pelos compromissos europeus. E garante ainda que há condições para aprovar um Orçamento do Estado, algo que está fora dos acordos escritos com BE, PCP e Os Verdes. “Eles conhecem a nossa estratégia orçamental e nós conhecemos o limite para termos o Orçamento aprovado”, garante Costa.

Adverte que o acordo à esquerda revela uma alteração da “amplitude e ritmo” dos compromissos, mas Costa ressalva que os compromissos de cada partido não estão em causa.

“Não vamos diluir a identidade de qualquer um de nós”, mas as bases estão delineadas para o entendimento quanto à política a seguir. "Não é por isso um governo de coligação, é um governo do PS que é viabilizado com apoio parlamentar maioritário e em que os diferentes partidos se comprometem a colaborar", refere Costa.

António Costa defende ainda que a coerência e garantias de estabilidade estão, assim, garantidas no próprio programa de governo do PS.
Privatização da TAP pode ser revertida
Quando questionado sobre a possibilidade de reverter ainda a privatização da TAP, António Costa disse ser "possível e razoável" Estado manter 51% da companhia.

"É possível com toda a serenidade, no quadro da lei e em negociação com os compradores, alcançar o objetivo que propomos no nosso programa de governo, que o Estado mantenha 51% do capital da empresa", disse Costa na entrevista à RTP.

No entanto, António Costa nada disse sobre se já falou ou não com o consórcio que já assinou com o atual Governo a compra da TAP.

Já quanto ao Novo Banco o secretário-geral socialista declarou ser de evitar "alienações precipitadas" e pediu que fossem retiradas do combate político as questões do sistema financeiro.

No entanto, Costa considerou ser de uma "enorme imprudência a forma como se anunciou" que a resolução do BES "não teria qualquer risco" e reclamou do Governador do Banco de Portugal “plena informação sobre a situação”, algo que não aconteceu até agora, no entender de Costa.
Longe do radicalismo ideológico
Sobre as contas presentes no programa de Governo socialista, António Costa reiterou muitas das afirmações daquele que é apontado como ministro das Finanças caso o PS forme governo. O líder socialista referiu-se por diversas vezes à entrevista da semana passada de Mário Centeno à RTP.

No essencial, considera que Portugal vai conseguir reduzir o défice para aqueles que são os limites impostos pelos compromissos internacionais. “Mas não vai atrás do radicalismo ideológico do atual governo”, salienta Costa.

Quanto à diminuição da carga de impostos, António Costa reitera que há esse compromisso para a legislatura e assegurou que não haverá prolongamento da austeridade. Essa estratégia “não tem tido sucesso”, reitera o socialista.

Quanto à forma de conseguir o crescimento económico pretendido, António Costa refere não só o estímulo ao consumo, mas também o apoio ao investimento, defendendo que os dois têm de caminhar em conjunto.

António Costa avança que, se for indigitado primeiro-ministro, "num prazo muito curto" está em condições de apresentar o seu governo. No entanto, o socialista diz que não fará convites antes de o Presidente da República o encarregar de formar um executivo.

Veja aqui a entrevista integral de António Costa à RTP
pub