Mariana Mortágua mantém tabu mas admite BE no Governo de Costa

por Christopher Marques

O PS cedeu e o Bloco de Esquerda negociou. Em entrevista à RTP, Mariana Mortágua explicou estarem garantidas as três condições mínimas que Catarina Martins tinha imposto a António Costa para começar a negociar. Sobre o acordo, nem mais uma palavra. A deputada não quis acrescentar mais nada, mas, sem nunca ir direta ao assunto, admitiu que há a possibilidade de elementos do Bloco de Esquerda integrarem o executivo.

As condições mínimas tinham sido apresentadas por Catarina Martins no debate com António Costa. O PS cedeu nas condições mínimas e as negociações prosseguiram. Estão assim garantidas três das bandeiras do Bloco de Esquerda: o descongelamento das pensões e as desistências do PS quanto à nova lei dos despedimentos e à redução da Taxa Social Única.

“Cumpridas estas condições, o BE entrou nas negociações com o PS e as negociações estão bem encaminhadas", garantiu Mariana Mortágua, em entrevista ao Jornal 2.

"Temos dito e reafirmamos que não será por falta de vontade do Bloco de Esquerda que não encontraremos uma solução estável de governação alternativa”, explicou a deputada que tem participado nas negociações com o PS.
Pressão de César
Apesar de Mortágua apontar que as negociações estão “bem encaminhadas”, Carlos César pareceu pressionar esta tarde os partidos à sua esquerda. O presidente do PS deu a entender que tudo estava ainda em aberto, apesar de apontar como muito provável a assinatura de um acordo à esquerda.

Aos jornalistas, o presidente do PS insistiu que não derrubaria o executivo de Passos Coelho se não houvesse um acordo já firmado. Na RTP2, Mariana Mortágua classificou estas declarações de “normais”.“Usaremos cada segundo desse tempo para negociar e garantir que este acordo é sólido"

“Queremos que estas negociações possam dar os melhores frutos”, explicou a deputada, tendo mostrado vontade de que as medidas a tomar “melhorem de facto a vida dos portugueses”.

Mortágua afirmou que, até ao debate do programa de governo, o tempo será usado para negociar.

“Usaremos cada segundo desse tempo para negociar e garantir que este acordo é sólido e tem medidas que mudam a vida das pessoas”. Quanto à eventualidade de as forças de esquerda não conseguirem chegar a acordo, Mortágua repetiu que o acordo “não está completamente fechado”, mas insistiu que as negociações “estão muito avançadas”.

“Não será por indisponibilidade do Bloco de Esquerda que Cavaco Silva encontrará qualquer desculpa para não indigitar este governo alternativo”. Um governo para o qual, garante, ainda está tudo em cima da mesa.
 
“O BE não entrou nestas negociações para discutir lugares ou distribuir ministérios. Queremos fechar as medidas políticas”, aferiu.

“A forma como esta maioria se traduz é uma questão que vem depois”. No entanto, sem nunca o dizer abertamente, a deputada dá a entender que o partido está mesmo disponível para entrar no executivo.

“Não será pela indisponibilidade do Bloco de Esquerda que esta alternativa de governação não se concretizará”, afirmou.
"Acenar com fantasmas"
Na entrevista ao Jornal 2, a deputada acusou Cavaco Silva de estar a tentar proteger a direita ao “acenar com fantasmas” como a presença de Portugal na NATO e as obrigações europeias. “Não nos parece que o Presidente tenha legitimidade para discutir programas de governo”, criticou a deputada.

Mortágua garantiu ainda que a saída de Portugal da NATO não está em causa, apelidando o argumento de “desespero de uma direita que tem medo de perder o poder”. Quanto às contas públicas, o partido garante que as propostas “são neutrais”. “As medidas que propomos para acrescentar despesa, propomos também para acrescentar receita”, justificou.
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