CAETANO VELOSO E GILBERTO GIL por João Carlos Callixto

4 Ago 1969 - "Alfômega"

Hoje passamos o Atlântico aqui no “Gramofone”. Guiados por Caetano Veloso e Gilberto Gil, assistimos à chegada do tropicalismo a terras portuguesas, embora por via do exílio forçado decretado pelas autoridades brasileiras da época aos dois músicos. O programa, nesse ano de 1969, era o “Zip-Zip”, conduzido por Carlos Cruz, Fialho Gouveia e Raul Solnado, e que constituiu uma autêntica revolução televisiva pelo formato e pelos convidados. Por lá passaram muitos cantautores, então em início de carreira, mas também músicos de rock e outros.

Os dois arautos do movimento tropicalista – mas que não o viam como tal, já que não queriam ter qualquer tipo de espartilhos – tinham-se estreado nos discos alguns anos antes. Gilberto Gil foi o primeiro, em 1963, com o EP “Sua Música, Sua Interpretação”, ainda longe do que lhe conheceríamos – mas já suficientemente marcante para Caetano ser seu fã. Dois anos depois, é a vez deste último chegar aos discos, com o single “Samba em Paz”. Em álbum, a estreia de ambos ocorre no mesmo ano, 1967 - “Louvação”, de Gilberto Gil, e “Domingo”, disco que apresenta Caetano e Gal Costa, então musa do tropicalismo.

Após um período intenso quer em termos de edições discográficas como de presenças em Festivais da Canção como ainda de “happenings” na TV, e no auge da popularidade, ambos são presos em Dezembro de 1968 pelo regime militar brasileiro. Em 1969, com a condição de saírem do país, são libertados e é a caminho de Londres que a RTP os apanhou e lhes dedicou grande tempo de antena nessa ainda Primavera de Marcello Caetano.

A canção “Alfômega”, com a sua letra em jeito quase de poesia visual, veio a ser incluída no segundo álbum a solo de Caetano Veloso, publicado nesse mesmo ano de 1969. O tema foi escrito por Gilberto Gil e ambos cantariam depois material em inglês, fruto da sua relação forçada com um país em explosão musical. Cinquenta anos depois, continuam a criar “sem lenço e sem documento”!