JOÃO HENRIQUE, por João Carlos Callixto

"Esta Festa das Cidades" - 21 Fev 1972

Nascido em Janeiro de 1950 em Dili, Timor Leste, João Henrique chega a passar fugazmente por uma das últimas encarnações dos Sheiks, no final da década de 1960. No entanto, o seu percurso construiu-se maioritariamente a solo e, especialmente, como escritor de canções, em grande medida ao lado de Fernando Guerra. Apesar de ter participado mais do que uma vez no Festival RTP da Canção, hoje em dia muito poucos o recordam e a sua obra só esporadicamente tem voltado a ser gravada - como aconteceu com “Romântico”, canção que escreveu com Guerra para o cantor Tony de Matos, em 1984, e para a qual Nuno da Câmara Pereira fez em 2021 uma nova versão, incluída no seu álbum “Cartas d'Amor - Nuno da Câmara Pereira Canta Tony de Matos”.

Como autor, a estreia de João Henrique tem lugar em 1971, com duas canções escritas para o álbum "Eu, Paulo de Carvalho", o primeiro do cantor e músico. “Don't Leave Me Alone” e “You Must Be Free, Bird” fazem parte de um disco integralmente cantado em inglês e que a editora Movieplay tentava também promover a nível internacional. A estreia de João Henrique como cantor a solo dá-se no ano seguinte, precisamente com o momento recordado neste “Gramofone”. Estamos no 9.º Festival RTP da Canção, onde se classifica em 5.º lugar com “Esta Festa das Cidades”, que seria publicada em single pela Movieplay. A letra é de José Jorge Letria e a música de Nuno Gomes dos Santos e Nuno Nazareth Fernandes, exactamente o mesmo trio responsável pelo original do lado B, “... E a Festa Continua”.

Ainda em 1972, é publicado o segundo disco de João Henrique, também um single e contando igualmente com direcção musical de Thilo Krasmann. “Tanto Faz / Canto para Mariana” trazia duas canções com letras de José Carlos Ary dos Santos e música do próprio João Henrique. Nos trabalhos seguintes, dois singles editados em 1975 pela Orfeu, de Arnaldo Trindade, o parceiro de João Henrique é outro cantor e escritor de canções: Jorge Palma. “A Ceia” e “Eu..? (Poderei Ser)” trazem ainda nos respectivos lados B “Deitei ao Mar uma Rede” e “Minha Imagem, Minha Dor”, sendo todas elas da autoria de João Henrique, com a excepção da canção que abria o segundo destes singles, uma co-autoria com Palma.

Participando nos coros de discos de Tonicha ou de José Jorge Letria, João Henrique regressa ao Festival RTP da Canção de 1977 como elemento do quinteto Fantástica Aventura. Os outros membros eram José Campos e Sousa, Judi Brennan, Daphne e Francisco Graça e juntos defenderam “A Flor e o Fruto”, de António Avelar de Pinho e Nuno Rodrigues. Acabariam em 4.º lugar, num ano em que cada canção tinha dois intérpretes - para esta, seria o Conjunto Maria Albertina a apresentar uma segunda leitura. O grupo grava ainda um álbum, “As 7 Canções”, que reunia precisamente as suas versões de todas as canções a concurso.

“África Senhora”, em 1978, seria o primeiro álbum a solo de João Henrique. Com excepção de um original de Fernando Guerra, todas as outras canções são da autoria de João Henrique (uma delas ao lado de Nuno Nazareth Fernandes), sendo que há duas com letras de Joaquim Pessoa e uma de Carlos Fernando Santos. No campo dos músicos, participam aqui os elementos da Sigma Band e ainda Rão Kyao ou José Cabeleira. João Henrique publicaria ainda um outro álbum, “Ponha Aqui o Seu Pezinho” (1980), constituído integralmente por canções tradicionais portuguesas adaptadas por si e por Shegundo Galarza. Já em 1985, “Dez Dedos Dez Segredos” trazia dez versões musicais de textos de Maria Alberta Menéres, numa altura em que o trabalho de estúdio ocupava já de forma dominante a vida de João Henrique.