JULIETA BRIGUE, por João Carlos Callixto

"Pescador Que Vais p'ró Mar" - 6 Ago 1979

O âmbito do fado tem no seu âmago talentos que o tempo foi esquecendo mas que os mais apaixonados não esquecem. Será esse o caso do nome de hoje no “Gramofone”, Julieta Brigue, uma das vozes a ser chamada ao programa “Fado Vadio”, onde a RTP fez experiências a cores antes do início das emissões regulares nesse formato.

Nascida em Arganil em 1932, Julieta Brigue classifica-se em 2.º lugar na Grande Noite do Fado de 1947. com apenas 14 anos. Seria no início da nova década de 50 que a fadista grava os seus primeiros discos, ainda em 78 rotações e para a etiqueta Melodia, da Rádio Triunfo. A estreia dá-se em 1953, com um disco com “A Ti Manuel dos Santos” e “Hei-de Esquecer-te”, e que trazia como acompanhantes dois nomes de primeira água: José Nunes e Júlio Gomes. No campo autoral, os três discos partilhavam a autora Helena Moreira Viana, que assinou no segundo registo, ainda em 1953, um “Fado Julieta”, com letra de Fernando Santos. Em 1954, é publicado o último dos registos de 78 rotações, com “Fado da Feia” e “Padre Nosso Avé Maria”.

Numa fase de transição para os discos de vinil, quatro das canções destes primeiros discos de Julieta Brigue são reeditadas em 1959 em dois EPs publicados já pelo selo Alvorada, um deles partilhado com o cantor Carlos Fernando (ex-vocalista do Conjunto de Mário Simões) e o outro com a também fadista Estela Alves. Seria preciso depois esperar por 1965 para que surgisse no mercado o primeiro disco de vinil com novas canções na voz de Julieta Brigue. Acompanhado pelo Conjunto de Guitarras de Raul Nery, este EP que abria com “Casa Sombria” trazia fados com música de Helena Moreira Viana, Casimiro Ramos, Vianinha e Joaquim Campos.

Sete anos depois, em 1972, Julieta Brigue regressa aos discos, desta vez na editora Rapsódia. Aí o acompanhamento é de António Chainho e de José Maria Nóbrega e é precisamente nesse disco que está incluído o fado trazido a este “Gramofone”. “Pescador Que Vais p'ró Mar” é um original de Eduardo Damas e de Manuel Paião (uma das duplas de maior sucesso da música portuguesa), tendo sido originalmente gravado em 1968 pela fadista Maria da Nazaré. Na mesma altura, surge também no mercado um LP de título “O Fado”, em que Julieta Brigue canta versões de dois clássicos da nossa canção: “Recado a Lisboa”, de João Villaret, e “Amar”, com poema de Florbela Espanca e música de Teresa Silva Carvalho, que a popularizou.