MANUEL FERNANDES por João Carlos Callixto

2 Out 1965 - "Pinóia"

Manuel Fernandes é um fadista que hoje em dia poucos recordarão, apesar de entre o final das décadas de 40 e de 80 ter tido uma carreira bem popular e sempre pontuada por gravações discográficas. Recentemente, em 2014, a Fundação Manuel Simões – cujo patrono é o empresário com o mesmo nome, que nos anos 50 editou alguns dos primeiros discos de Manuel Fernandes no selo Estoril – editou o livro de cariz biográfico “Manuel Fernandes - Uma História por Contar”, da autoria do jornalista Nuno Lopes e da fadista Julieta Estrela. E há, de facto, muitas histórias por contar na vida deste fadista.

Mostrando a paixão por cantar ainda em criança, na juventude a sua voz vai ganhando admiradores. O seu jeito popular estava também presente nas temáticas dos fados, sendo um dos mais conhecidos “A Vassourinha” – que grava mais do que uma vez ao longo da carreira e que vem a dedicar à filha. No seu primeiro disco, gravado em 1953 para a Valentim de Carvalho, essa é aliás a canção do lado B – a letra é de Domingos Gonçalves da Costa. A acompanhá-lo, estão Francisco Carvalhinho, Pais da Silva e o hoje centenário Joel Pina. Um segundo disco, publicado em simultâneo e com a mesma equipa, junta “Que Importa” e “Voz do Fado”, após o que Manuel Fernandes se muda para a editora de Manuel Simões.

Na Estoril, Manuel Fernandes edita vários discos de 78 rotações, com canções como “Rapaz da Golegã”, “Canção do Emigrante”, “Sabe-se Lá” ou “Gaiata Morena”, ora com guitarras ora com orquestra dirigida por Belo Marques. Seria esse o caso do seu primeiro vinil em nome próprio, um EP publicado em 1957 e que juntava as canções “Aí Vem a Ana” e “Um Lar Português” (ambas com letra de Maria Nelson e música de Jaime Santos) e “Fado do Bairro Alto Velhinho” e “Fado É Fado” (letras de Silva Tavares e música de António Melo). No ano seguinte, encontramo-lo já noutra casa editorial, a Rádio Triunfo, que através do recém-inaugurado selo Alvorada lhe publica quase de seguida três EPs – “Janela da Minha Vida”, “Velho Fado” e “Marcha Fadista”. No segundo destes trabalhos, inclui ainda boleros, como “Viver Não Custa” (de Alves Coelho Filho e Fernando de Carvalho).

Sempre muito requisitado pelo meio discográfico, Manuel Fernandes grava ainda no final dos anos 50 dois discos noutra editora portuense, a Rapsódia. Já nos anos 60, passa também pelo selo Orfeu, de Arnaldo Trindade, onde chega a gravar um EP em desgarrada com a fadista Mariana Silva. Mas seria de facto na Alvorada que então regista mais trabalhos, incluindo a canção deste “Gramofone”. Com letra e música de Frederico de Brito (conhecido como o "poeta chauffeur") e com direcção de orquestra do maestro João Nobre, “Pinóia” integra assim o EP "Casinha dum Pobre”, publicado em 1962. Na segunda metade dos anos 60, Manuel Fernandes assina pela editora Estúdio, de Emílio Mateus, e aí regista vários trabalhos. No álbum “O Passado e o Presente”, editado em 1973 pela Zip-Zip, e em que é acompanhado pelo Conjunto de Guitarras de Jorge Fontes, junta precisamente canções novas com outras já clássicas do seu reportório. Até meados dos anos 80, ainda passa pelas editoras Vitória, Roda e Metro-Som, registando nesta última um derradeiro álbum, “De Sucesso em Sucesso!...”.

Mas neste “Gramofone” recuamos de novo aos anos 60, com imagens da série de ficção "Histórias Simples da Gente Cá do Meu Bairro", de Varela Silva. Ao lado do actor e declamador, estavam neste episódio os actores Alberto Ghira e Catarina Avelar, mostrando um episódio da lisboa bairrista de outros tempos mas que importa hoje conhecer.