MANUEL FREIRE por João Carlos Callixto

19 Out 1978 - "Que Faço Aqui?"

O movimento dos cantautores, na recta final da década de 60, tem um importante momento de visibilidade com o programa televisivo “Zip-Zip”, em 1969. Aí surge aos olhos de muita gente o talento de Manuel Freire, que leva ao programa a “Pedra Filosofal”, de António Gedeão, com música sua, e cuja edição em single inaugura o catálogo respectivo do selo discográfico Zip-Zip.

Nascido em Vagos, o cantor tinha-se estreado em disco em 1968, pela etiqueta Tecla, do maestro Jorge Costa Pinto. “Eles” ou “O Sangue Não Dá Flor”, ambas com letra e música do próprio Manuel Freire, vêem a sua divulgação comprometida, com discos apreendidos e faixas proibidas na rádio.



Mas os grandes autores começam desde logo a fazer parte do reportório do cantor, com “Livre”, de Carlos de Oliveira, e os seus célebres versos “não há machado que corte / a raiz ao pensamento”, “Lutaremos Meu Amor”, do então já desaparecido Daniel Filipe, ou “Trova do Emigrante”, de Manuel Alegre.

Nos discos que grava na primeira metade da década de 70, Manuel Freire trabalha com orquestradores como Thilo Krasmann e José Calvário, depois de inicialmente ter sido a guitarra de Fernando Alvim o seu principal suporte. Em 1972, pela primeira vez, interpreta músicas de outro autor: no caso, Manuel Jorge Veloso, que escreve os temas do filme “Pedro Só”, de Alfredo Tropa.


Neste ano de 1978 que visitamos hoje, chegam os primeiros discos de Manuel Freire pós-revolução: um deles é o LP “Devolta”, preenchido por músicas de Luís Cília e que contava também com produção deste pioneiro da nossa canção de combate. O outro é precisamente um single com as canções compostas por Freire para "Os Emigrantes", do dramaturgo polaco Sławomir Mrożek. Contando com arranjos do maestro Sílvio Pleno, “Que Faço Aqui” e “Um Dia” eram os momentos inicial e final dessa peça que João Lourenço levou à cena no Teatro Experimental do Porto, e que contou com os actores João Perry e António Montez.

Mais recentemente, Manuel Freire dirigiu os destinos da Sociedade Portuguesa de Autores e gravou novos discos dedicados à poesia de José Saramago e de Vitorino Nemésio. Mas agora, recordamo-lo em 1978, num momento pouco divulgado da sua obra, com letra e música próprias: “Que Faço Aqui”!