MARIA DO ESPÍRITO SANTO por João Carlos Callixto

28 Dez 1969 - "A Alicita Costureira"

O nome de hoje no “Gramofone” é um daqueles casos em que a carreira se desenrola ao longo de um período mais ou menos curto e com reconhecimento junto do público da época mas que depois, por diversas razões, acaba por ficar afastada das memórias mais actuais. Para isso contribui quase sempre também a não redisponibilização oficial das gravações efectuadas por esses intérpretes, como é então o caso da nossa voz de hoje: Maria do Espírito Santo. Ao longo de toda a década de 60, tanto cantou fado, folclore como a dita canção ligeira, gravando uma dezena de discos em nome próprio – quase todos em formato EP, então o mais popular da indústria fonográfica.

Começando a destacar-se na Emissora Nacional no final dos anos 50, Maria do Espírito Santo concorre ao 2.º Festival da Canção Portuguesa, que teve lugar em 1960, no Porto. Aí se classifica em 2.º lugar com "Lisboa Enamorada", com letra de Fernanda Santos e música da antiga cantora Corina Freire. A gravação desta canção será a sua primeira incursão em disco, por via da etiqueta Alvorada, da Rádio Triunfo, com quem assina contrato. No mesmo ano, é publicado o seu primeiro disco em nome próprio, “Berlenga Maravilhosa”. A música de Shegundo Galarza dava assim título ao EP, mas o acompanhamento coube não ao conjunto deste pianista basco e sim ao sexteto de José Mesquita – que assinava outra das canções do disco, “Indecisão, com letra de Aníbal Nazaré.

No ano seguinte, Maria do Espírito Santo grava dois discos, surgindo aí os primeiros fados no seu reportório gravado. Alves Coelho Filho, Frederico de Brito ou António Mestre são os autores (nos dois primeiros casos, também das letras), cabendo aqui o acompanhamento à orquestra de João Nobre (no primeiro disco) e às guitarras de Francisco Carvalhinho e Martinho d’Assunção. Também em 1962, a cantora participa no 3.º Festival Hispano-Português de Aranda del Duero com duas canções, “Canção do Douro” (de Eurico Cebolo) e “Quero Ir ao Douro” (de António Garrido Canega). Com a primeira destas, classifica-se em terceiro lugar no evento, a classificação mais elevada de um português nesse ano. No entanto, Maria do Espírito Santo não grava nenhuma das duas canções, cabendo a Gina Maria essa missão.

O último disco da cantora gravado para a Alvorada foi publicado em 1963, e trazia um fado-canção que César Morgado tinha primeiro gravado: “Sou Fadista, Sim Senhor”. Tal como todas as outras músicas desse EP, a autoria das mesmas é de João Nobre, que mais uma vez dirigia a orquestra. Mas seria de novo ao lado dos guitarristas Francisco Carvalhinho e Martinho d’Assunção que Maria do Espírito Santo grava o seu único álbum, publicado pelo selo americano Monitor e partilhado com o fadista Manuel Fernandes.

Com uma interrupção em 1966, por via de um EP publicado pela Valentim de Carvalho, só em 1969 é que Maria do Espírito Santo voltaria às edições discográficas regulares. Desta vez, é a Riso & Ritmo a sua casa editora, reflectindo a ligação da cantora ao círculo de Francisco Nicholson, Armando Cortez e Eugénio Pepe – ideólogos também do programa com o mesmo nome, na RTP. As imagens deste “Gramofone” são, aliás, oriundas do especial do Natal de 1969 que marcou também o fim das emissões do “Riso & Ritmo”. A canção “A Alicita Costureira” (com letra de Francisco Nicholson e música de Eugénio Pepe) integrou o primeiro dos três discos que Maria do Espírito Santo gravou para o selo RR, sendo o segundo constituído por folclore dos Açores e o terceiro e último de novo por fado e fado-canção – incluindo aliás "Fado da Minha Revolta", um original do cantautor Vieira da Silva. Estávamos então em

1970, numa altura em que não só a canção portuguesa se transformava por dentro mas em que também Maria do Espírito Santo abandonaria as gravações – com apenas 32 anos.