MARIA JOÃO, por João Carlos Callixto

"Blue Moon" - 1988

Maria João é um dos nomes mais celebrados e ousados no âmbito das linguagens jazz em Portugal, sempre disposta a experimentar e a fazê-lo sem quaisquer barreiras. Neste “Gramofone”, em que surge acompanhada por Carlos Bica (contrabaixo) e por Peter Walter (piano), recuamos a 1988, ano em que a cantora grava o seu primeiro disco sem o seu grupo. Trata-se do álbum “Looking for Love”, ao lado da pianista japonesa Aki Takase, e que abria simbolicamente com versões de “Estranha Forma de Vida” e de “My Favorite Things”.

Nesta década de 80, Maria João foi também pioneira ao ser a primeira mulher a registar um álbum de jazz em Portugal. Depois de Rão Kyao ter sido o primeiro no campo masculino - com “Malpertuis”, em 1977 - seria a vez de 1983 ver a edição de “Quinteto Maria João”, álbum homónimo do grupo formado pela cantora e por António Ferro (baixo), Mário Laginha (piano), Carlos Manuel Vieira (bateria) e Carlos Martins (saxofone, clarinete). Assinando com a firma Rádio Triunfo, que adquirira a editora Orfeu, foi precisamente com este histórico selo que o álbum seria publicado no final desse ano.

“Blue Moon”, a canção de Richard Rodgers e Lorenz Hart trazida a este “Gramofone”, integrou precisamente o álbum de estreia de Maria João, ao lado de standards como “Stormy Weather” ou ainda de originais de António Ferro. O disco foi produzido pelo jornalista, radialista e editor Bernardo de Brito e Cunha, contando com Moreno Pinto atrás da mesa de gravação.

No ano de 1984, a cantora participou num álbum que transformava as canções dos Abba num musical infantil. Tem por título “Abbacadabra - Conto Musical” e a ideia foi dos franceses Alain Boublil e Daniel Boublil, aqui numa adaptação de Nuno Gomes dos Santos. Maria João surgia ao lado de vozes como as de António Manuel Ribeiro, Fernando Correia Marques, Lenita Gentil, Samuel e Suzy Paula ou ainda dos apresentadores televisivos Helena Ramos e José Nuno Martins.

“Cem Caminhos”, em 1985, seria o segundo álbum do Quinteto Maria João e trazia o americano David Gausden no lugar de António Ferro. Desta vez, ao lado de revisitações de “My Favorite Things”, “Take Five” ou “Lush Life”, havia lugar para mais originais. Mário Laginha assina aqui a sua primeira composição gravada em disco, “Areias de Laga”, a partir de um poema de Eugénio de Andrade, autor também musicado por Carlos Martins, em “Cantar”.

O grupo acaba por se desmembrar e, a partir da década de 90, Maria João assina diversos trabalhos - como "Danças" (1995), "Cor" (1998) ou "Undercovers" (2002), reconhecidos dentro e fora do país. Sempre inquieta, a cantora surge em 2023 de novo ao lado do projecto Ogre com o disco "Songs for Shakespeare".