MARIA PEREIRA por João Carlos Callixto

1966 - "Assim Sim"

No panorama musical das décadas de 50 e 60, pouca gente terá gravado tantos discos como Maria Pereira, cujo nome é ainda hoje recordado quando alguém pretende cantar muitos fados de uma assentada. A cantora tornou-se de facto conhecida por concertos que chegavam a ter mais de 3 horas, sempre com acompanhamentos dos mais reputados músicos e maestros. É Maria Pereira precisamente o nome em destaque neste “Gramofone”, com um momento captado para um pequeno programa a ela dedicado e emitido pela RTP em 1966.

Na altura, a carreira desta natural de Vila Nova de Cerveira já tinha conhecido largos anos de destaque, entre o fado e a canção ligeira e como membro do elenco do popular programa radiofónico "Companheiros da Alegria", de Igrejas Caeiro. As primeiras gravações de Maria Pereira começam ainda na era dos discos de 78 rotações, para a Valentim de Carvalho, ao lado de músicos como Carvalhinho ou Joel Pina. Em vinil, entre meados da década de 50 e finais da de 60, Maria Pereira grava mais de 40 discos com canções originais, sendo que 20 deles integraram a série “Cor É Vida”, patrocinada pela empresa de tintas Robbialac. Esse era aliás o título da canção-hino da marca, com letra do publicista Gentil Marques e música do maestro Frederico Valério.

Neste ano de 1966, Maria Pereira veria editados dois discos pelo selo Alvorada, sendo que no segundo deles incluía outra rara letra de Gentil Marques, “Évora”, com música de Ferrer Trindade. Nesse EP, a faixa de abertura era “Rebeldia”, versão para um tema aguerridamente defendido por Madalena Iglésias no Festival da Canção desse ano. O maestro era Fernando de Carvalho, desaparecido prematuramente em 1967.

“Assim Sim”, o tema que vamos agora ouvir, não chegou no entanto a ser gravado em disco por Maria Pereira. A letra é de Domingos Gonçalves da Costa (autor também dos textos de “Coração Louco”, “Ai Se Eu Pudesse” ou “Eu Já Não Sei”, este incluído no mais recente álbum de Raquel Tavares, de 2016) e a música é o fado da Idanha, de Ricardo Borges de Sousa, um dos pioneiros na gravação sonora em Portugal. Aqui, Maria Pereira é acompanhada por Jaime Santos, na guitarra portuguesa, e pelo galego Francisco Pérez Andión, mais conhecido como Paquito, na guitarra.

Antes de se afastar do meio musical – onde tinha aliás deixado sementes, com a breve carreira da sua neta Zezinha Pereira, intérprete do sucesso infantil “Os Conselhos da Mamã”, em 1963 – Maria Pereira regista ainda três álbuns entre 1967 e 1969, dois deles em Espanha, vindo a falecer em Lisboa em 2003, aos 88 anos.