ROQUIVÁRIOS por João Carlos Callixto

27 Jun 1982 - "Cristina (Beleza é fundamental)"

O chamado “boom” do rock português de 1980, alavancado pelo sucesso comercial e crítico dos UHF e de Rui Veloso, trouxe consigo uma série de novos artistas que tentavam “cavalgar” essa onda com graus de sucesso semelhante. A indústria discográfica nacional, percebendo o filão, assinava com grupos já existentes mas que nunca tinham chegado a gravar e assinava também com novas formações. Foi esse o caso do grupo neste “Gramofone”, em 1981. Oriundos de Almada, os Roquivários (que então usavam a designação Rock & Varius, deixando aí patente a diversidade das suas influências musicais) assinam logo nesse ano com a editora Rádio Triunfo, do Porto.

Dos membros iniciais do grupo, dois deles tinham passado musical já conhecido: o saxofonista Mário Gramaço, próximo do jazz e que tinha integrado a Orquestra Girassol e gravado o único disco do projecto em 1978; e o baterista Fernando Rabanal, que tinha feito parte do projecto de rock progressivo Aranha ao lado do guitarrista Luís Firmino. Nas guitarras, estavam Juca (filho de Carlos Costa, do Trio Odemira) e Luís Jorge Loução, enquanto que no baixo estava Midus. Paulo Corvall, também baixista, acabou por se concentrar nas letras, sendo dele a quase totalidade dos textos do álbum de estreia, “Pronto a Curtir”. Produzido por Pedro Castro (fundador dos Petrus Castrus na década anterior), trazia canções como “Ela Controla” ou “Betty Punk”. No entanto, o single “Totobola”, editado ainda em 1981 e já sem Juca na banda, acaba por alcançar mais sucesso.

Com a Valentim de Carvalho a demonstrar interesse em assinar com os Roquivários, o ano de 1982 surgia como auspicioso. Em Maio, é editado o segundo álbum, homónimo, e todo o reportório é da autoria de Mário Gramaço e de Jorge Loução. Abrindo com “Mês de Abril”, seria “Cristina (Beleza É Fundamental)” a captar as atenções de uma maior franja de público e a ser o tema escolhido para single. Editado em Junho, o grupo vinha assim promovê-lo pela primeira vez ao programa “Passeio dos Alegres”, de Júlio Isidro, de onde são as imagens deste “Gramofone”. Desta vez, a produção do álbum coube a José Moz Carrapa, então membro dos Salada de Frutas.

O sucesso não trouxe, no entanto, a continuidade dos Roquivários, que cumpre alguns contratos para espectáculos e se desfaz alguns meses depois. Mário Gramaço é requisitado por músicos como Dany Silva, Frodo, Carlos Mendes, Dora ou Mafalda Veiga, enquanto Midus se lança numa curta carreira a solo em 1985 com “Lá Longe” e participa no Festival RTP da Canção de 1988 com “Amazónia”, estabelecendo-se depois como baixista profissional em Inglaterra. Em 1988, Jorge Loução funda os Graffiti com membros do Grupo de Baile, editando um único álbum. Dos dois álbuns dos Roquivários, só o primeiro foi reeditado – em 2008, pela Valentim de Carvalho.