SECOS & MOLHADOS por João Carlos Callixto

11 Fev 1974 - "Rosa de Hiroshima"

Depois de há tempos o ter feito com os Mutantes, hoje o “Gramofone” viaja de novo até terras de Vera Cruz. Em cartaz, estão os Secos & Molhados, um dos fenómenos do Brasil na primeira metade da década de 1970.

O grupo foi fundado pelo português João Ricardo, que vivia no Brasil desde 1964. Filho do poeta João Apolinário, autor de livros como “Morse de Sangue” ou “Primavera de Estrelas” e cujos textos foram cantados por Luís Cília ou Francisco Fanhais, a prisão do pai e o consequente exílio levariam a família a estabelecer-se no Brasil.

Os Beatles e o movimento da Jovem Guarda despertam a criatividade de João Ricardo, que colabora com a imprensa e com a TV do Brasil. Em 1970, funda o grupo Secos & Molhados com outros músicos, mas é com Ney Matogrosso e Gerson Conrad, chegados em 1971 e 1972, que o grupo chega à sua formação consagrada.

As linguagens do glam rock associam-se a uma postura de intervenção, quer visualmente (nos adereços ousados dos músicos) quer literariamente. Além de João Apolinário, também Fernando Pessoa foi musicado pelos Secos & Molhados, embora os autores brasileiros estivessem em destaque, com Manuel Bandeira, Oswald de Andrade ou Cassiano Ricardo. A experimentação era a lingua franca do grupo, e no seu caldeirão tanto cabiam motivos mais próximos da cultura popular portuguesa – como no sucesso “O Vira” - ou outros abertamente rock, como “Mulher Barriguda” ou “Assim Assado”.

No momento de hoje, captado no Brasil pela RTP para o programa “Dó Lá Si”, ouvimos “Rosa de Hiroshima”, com poema de Vinicius de Moraes e música de Gerson Conrad. O tema faz parte do primeiro álbum do grupo, homónimo, editado em Agosto de 1973, e que foi um enorme sucesso, com 300 mil cópias vendidas nos primeiros dois meses, número que rapidamente chega a 1 milhão de exemplares – tudo isto em plena Ditadura Militar no Brasil.

A cantiga é sempre uma arma – que o digam os Secos & Molhados, pela voz de Ney Matogrosso!