Subitamente, Carlos Lopes renasce das cinzas!

Aos 35 anos de idade, o atleta do Sporting bate o recorde da Europa dos 10 mil metros que pertencia a outro Sportinguista, Fernando Mamede. A alucinada corrida faz-se com os melhores do mundo como Henri Rono (recordista mundial), Salazar (que assumiu que queria atacar o recorde do mundo), Peter Clark, Peter Koech entre outros.

Com mais de 10 segundos a menos em relação ao recorde do Queniano, a loucura estava instalada aos 5 mil metros. Nos últimos 200 metros, Lopes parecia um relâmpago, a velocidade que ninguém imaginava num trintão arrasa com os adversários.

Mas para alcançar esta proeza, Carlos Lopes passou por 5 anos de angústia. O primeiro atleta Português a ganhar uma medalha olímpica, recorre aos lendários poderes curativos de Kiyoshy Kobayashi. O atleta leonino recusara-se a ser operado à crónica lesão do tendão de Aquiles e submete-se durante dois anos e meio às mãos e agulhas do milagreiro japonês.

"Foi com muito sofrimento, mas garantiu-me que ia correr. E assim foi" recorda Carlos Lopes.

Mestre de judo, a divulgação desta arte marcial faz com que Kobayashi aterre em Portugal. A paixão do pai do Judo português é imediata, amante da vida social que é intensa, junta-se as sardinhas, o cozido à portuguesa, a carne de porco frita e o vinho português. A estadia em Portugal deste kamikaze frustrado prolonga-se por mais de meio século.

"A vida é um encadeamento de acasos bons e maus, ..." Florbela Espanca.

Kobayashi, recrutado pela força aérea nipónica, tentou ser um kamikaze (kami, deus; kase, vento) pára-quedista. Sem medo da morte, iria abraçar uma bomba antes de se atirar sobre o alvo. Participa em três missões suicidas, mas não era ainda a hora, depois das avarias do avião que o transportava, o terceiro voo seria decisivo, despenha-se e Kobayashi é obrigado a saltar de pára-quedas sobre um arrozal.

Este encadeamento sem lógica, nem razão viria a resultar na conquista da primeira medalha de ouro olímpica do desporto Português.