O SENHOR CAPITÃO por Rui Alves

Mário Coluna apresenta-se nervoso para a entrevista, mas o Moçambicano está completamente à vontade no relvado, porque é nesse palco que demonstra a sua grande aptidão para o futebol, depois de quando jovem ter passado pelo boxe e ter experimentado o salto em altura, chega mesmo a bater o recorde de Moçambique.

Quando chega ao Sport Lisboa e Benfica, em 1954, o então avançado centro não se consegue impor e foi Otto Glória, um ano mais tarde, que percebeu que tinha ali um médio que iria comandar o futebol encarnado durante 15 épocas e sempre ao mais alto nível!

Ele, que quando entrou no clube da Luz, era um jovem tímido alcança o respeito e a sua voz é de comando dentro do balneário e durante muitos anos foi o Senhor Capitão. Campeão no primeiro ano de águia ao peito, vence novamente em 1957.

Na década de sessenta, década encarnada por excelência, Coluna conquista oito campeonatos em dez épocas, campeão europeu por duas vezes. Um palmarés que nem Eusébio consegue igualar!

Voltando à entrevista, o Coluna sem jeito para falar para a câmara de filmar e com um enorme respeito para com o seu adversário, estava longe de imaginar que iria ter pela frente um treinador que viria a brilhar nos dois anos seguintes no clube encarnado, Béla Guttmann.

O tal que viria a lançar a maldição que o Benfica nunca mais seria Campeão Europeu.

Para aqueles que já estão à espera, o resultado do encontro entre encarnados e azuis e brancos, foi um empate sem golos e no fim foi o FC Porto que se sagra Campeão Nacional, é o início do enorme jejum do clube das Antas e que durou 19 anos.