Ártico. "A porta do frigorífico do planeta ficou aberta"

por Sandra Salvado - RTP
Kathryn Hansen- NASA/Reuters

A massa de gelo no Ártico está a diminuir e a colapsar. O que há dez anos era considerado extremo é agora tido como normal. O solo está a descongelar cada vez mais rapidamente e a água do mar continua a aquecer. As consequências podem ser drásticas e imprevisíveis, revela um relatório da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos divulgado esta quarta-feira.

Um Ártico cada vez mais quente, onde as temperaturas se elevam duas vezes mais rápido do que no resto do planeta. "O ano de 2017 continuou a mostrar-nos que estamos nessa tendência de aprofundamento. O Ártico é atualmente um lugar muito diferente do que era há uma década", disse Jeremy Mathis, diretor do programa de pesquisa Arctic da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA) e coautor do relatório, de 93 páginas.

O solo do Ártico - permafrost - está a descongelar cada vez mais rapidamente. Cerca de um quarto da superfície terrestre está sob este tipo de solo, em especial nas regiões de altitudes elevadas.

NOAA

O permafrost, encontrado no Ártico, é composto por terra, rochas e gelo permanentemente congelados.

Os investigadores referem que estes fatores representam um “novo normal” para a região, cujas consequências se poderão estender muito para além do território. “A magnitude e o ritmo do aquecimento do gelo marinho e da superfície dos oceanos é algo sem precedentes nos últimos 1,5 mil anos, pelo menos, e provavelmente muito mais”.

Relatórios preliminares de 2017 dos Estados Unidos e do Canadá mostram que as temperaturas do permafrost são "novamente as mais quentes para todos os lugares" medidas na América do Norte, disse o coautor do estudo, Vladimir Romanovsky, professor da Universidade do Alasca em Fairbanks.



 

Cerca de 79 por cento do gelo do Ártico diminuiu em apenas um ano. Em 1985, 45 por cento do gelo do Ártico era grosso, mais antigo, disse a cientista Emily Osborne, da NOAA."O que acontece no Ártico não fica no Ártico, afeta o resto do planeta (…) O Ártico tem uma enorme influência no mundo em geral, disse ainda Timothy Gallaudet, chefe da NOAA.

Uma nova investigação aos últimos núcleos de gelo do Ártico, usando fósseis, corais e conchas como suporte para medidas de temperatura, mostra que as temperaturas do oceano no Ártico estão a aumentar a níveis nunca vistos.

Os cientistas estão preocupados porque a região mais a norte está a aquecer duas vezes mais rápido e atingiu um nível de aquecimento que não há precedentes nos tempos modernos.

As consequências das mudanças climáticas, segundo o relatório, vão desde prejuízos na atividade pesqueira até a um maior risco de incêndios em regiões de altitudes elevadas.

Fotografia: NOAA

NOAA

As consequências previsíveis deste aquecimento, alertam os cientistas, vão desde prejuízos na atividade pesqueira no Mar de Bering até à maior probabilidade de incêndios em regiões de altitudes elevadas.

Em causa estão mudanças que vão afetar a vida de todos. Ou seja, "mais fenómenos climáticos extremos, alimentos mais caros e novos impactos com refugiados, desta vez fugindo das condições e consequências climáticas", explicou ainda o investigador Jeremy Mathis, durante a apresentação do estudo.

"O Ártico tem sido, tradicionalmente, o frigorífico do planeta, mas a porta ficou aberta, e o frio está a perder-se por todo o Hemisfério Norte", concluiu.
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