Céus estão a tornar-se mais brilhantes por más razões

por RTP
Com o aumento de iluminação em ambiente noturno, há necessidade de ser reduzida a potência das fontes luminosas e acabar com as luzes que são dispensáveis NASA Earth Observatory/NOAA NGDC

Acreditava-se que a iluminação LED ou diodo emissor de luz, conhecida por ser mais ecológica, pudesse diminuir a utilização de energia ao longo do mundo. Um novo estudo vem revelar que o uso de iluminação LED está a crescer exponencialmente, e por isso também a poluição luminosa.

A luz artificial que existe nas ruas e edifícios à noite reflete brilho para a atmosfera, tornando a noite mais brilhante. Isto faz com que haja mais iluminação em ambiente noturno e, como consequência, exista necessidade em diminuir a potência das fontes luminosas e acabar com as luzes que são dispensáveis.
Globalmente está a haver uma tendência para o aumento da utilização de energia, o que tem contribuído para um enorme aumento da poluição luminosa.
Segundo um estudo da Science Advances, nos países de classe média, a luminosidade cresceu para 15 por cento entre 2012 e 2016 e o PIB aumentou para 13 por cento no mesmo espaço de tempo, sugerindo que o uso da luz exterior está sujeito a um “efeito ricochete”, pois a luz cada vez está mais barata e, por isso, é mais utilizada.

Para Christopher Kyba, líder do estudo, a mudança passa por “repensar a maneira como as luzes estão dispostas”. Assim, como os carros têm luzes “não deveria haver luzes nas estradas”, mas apenas nos sítios em que as pessoas andam a pé e para os ciclistas.

O problema encontra-se não na utilização de luz LED mas sim na instalação de cada vez mais luzes, segundo Christopher Kyba.

O mesmo estudo revelou que as luzes que são refletidas à noite para o céu tornam difícil ver as estrelas. Esta situação é causada pela poluição luminosa e resulta no efeito SkyGlow.

Os autores utilizaram o primeiro radiómetro de satélite calibrado e perceberam que entre 2012 e 2016 a área exterior artificialmente iluminada cresceu cerca de 2,2 por cento ao ano, com um crescimento de radiação de 1,8 por cento ao ano, mesmo com a utilização de luzes LED.

O estudo revelou simultaneamente que a iluminação tem vindo a manter-se estável, o que não é consistente com a escala global de redução de energia que indica um aumento da poluição luminosa. A questão a responder é que se a iluminação diminui, porque aumenta a poluição luminosa?
Iluminação mundialParis, Nova Iorque e São Paulo são dos países que têm maiores níveis de poluição luminosa, explicou o Instituto Cooperativo para Pesquisa do Meio Ambiente (CIRES).

A contrastar encontram-se a Gronelândia, a República Centro-Africana e a Somália que têm um céu 100 por cento limpo de poluição luminosa, devido à baixa densidade populacional e há falta de desenvolvimento tecnológico nestas cidades.

Daqui a uns anos, segundo o estudo, mesmo os países que não têm este problema serão afetados indiretamente. Isto acontece porque a poluição luminosa de uns países irá afetar outros, tal como acontece com os outros tipos de poluição. Por exemplo, a forte iluminação que existe em Las Vegas terá a capacidade de atingir quem está na Califórnia, a mais de 160 quilómetros de distância.

O estudo explicou que existe uma relação entre a maior utilização da iluminação e um maior Produto Interno Bruto (PIB) em países mais pobres e pequenos, do que em países mais ricos e desenvolvidos. Razão pela qual houve um maior aumento da iluminação na América do Sul, África e Ásia, com algumas exceções.

Os “Day/Night Bands” (DNB), que medem o tempo em que as luzes estão acesas numa resolução de 750 metros, capturando emissões de luz tendo em conta as condições de iluminação, revelaram que a radiação diminuiu nas áreas centrais da cidade, mas aumentou nas áreas adjacentes.

A transição para as luzes LED deve-se a uma tentativa de economizar custos e reduzir o consumo de energia, no entanto, a uma escala global, observa-se que as diminuições de energia são compensadas por aumentos de radiação em outras áreas, devido à instalação de iluminação adicional.
Riscos para a saúde
As luzes LED aumentam os riscos para a saúde, podendo provocar diabetes, cancro e depressão. O estudo indica ainda que haverá um ponto em que será difícil distinguir a noite do dia, com consequências para a vida na Terra.

Para os animais também são fatais, podendo desorientar as espécies nos seus padrões de reprodução e de migração, tais como os insetos, anfíbios, peixes, aves, morcegos e outros animais, o que corresponde a “consequências negativas para a flora, fauna, e saúde humana”.
O aumento de brilho no céu também pode afetar o sono, bem como obscurecer as estrelas que as pessoas observam e vários astrólogos se dedicam a estudar.
A poluição luminosa ameaça cerca de 30 por cento dos animais vertebrados e mais de 60 por cento dos animais invertebrados que são noturnos, incluindo plantas e microrganismos.

Segundo o Novo Atlas Mundial da Luminosidade Artificial do Céu Noturno, publicado na Science Advances em 2016, 60 por cento dos europeus e 80 por cento dos norte-americanos não conseguem ver a via láctea durante a noite, situação que tem tendência a piorar.

Esta tendência faz com que oito em cada dez pessoas vivam em zonas com poluição luminosa.

A mudança cultural e o alertar para a urgência em reduzir o impacto da luz e a produção de dióxido de carbono de origem antropogénica, que são os efeitos que derivam de atividades humanas, são outros fatores que ajudarão a diminuir a iluminação noturna e, por consequência, a poluição luminosa.
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