Comprar um animal ameaçado é tão mau como matá-lo, defendem especialistas
Banguecoque, 13 mar (Lusa) - A procura crescente de animais exóticos, como sapos venenosos, tartarugas ou chimpanzés, está a ameaçar algumas espécies de extinção, alertam especialistas e ativistas, que comparam a prática à caça ilegal de animais protegidos.
"Muitas pessoas não percebem que comprar um animal de estimação pode ter um grande impacto na conservação das espécies, de facto pode ter o mesmo impacto do que matar um elefante", alertou Chris Shepherd, da associação Traffic, numa altura em que delegados de 178 países discutem em Banguecoque o comércio e detenção de espécies ameaçadas de extinção.
Ao comprar um animal em vias de extinção, a pessoa está "a retirá-lo do mundo selvagem". "Matá-lo ou metê-lo numa jaula, do ponto de vista da conservação, tem exatamente o mesmo resultado", disse.
Pode até ser pior, alertam os especialistas, já que por cada animal numa loja ou numa casa - dos pequenos répteis aos chimpanzés -, dez outros poderão ter morrido na captura ou no transporte.
Segundo Shepherd, a procura de animais selvagens para serem usados como animais de estimação está a crescer e envolve um maior leque de espécies do que alguma vez se viu, pelo que a lista de espécies ameaçadas pelo comércio é maior do que nunca.
Os preços elevados, impulsionados por colecionadores na Europa, nos EUA e na Ásia, atraem grupos criminosos para o comércio ilegal de espécies ameaçadas.
Como parte dos esforços para inverter a tendência, a Convenção Internacional sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (CITES), a decorrer em Banguecoque, já aumentou a proteção de dezenas de tipos de tartarugas e cágados, mas estes estão longe de ser as únicas vítimas daquele comércio.
Aranhas, cobras, escorpiões, escaravelhos, aves exóticas e até felinos de grande porte estão entre as espécies procuradas e há hoje mais espécies no comércio de animais de estimação do que no comércio de carne e de medicamentos.
Ian Redmond, fundador da Parceria para a Sobrevivência dos Grandes Primatas (Grasp), celebridades como o ícone da música pop Michael Jackson, que tinha um chimpanzé chamado Bubbles, também têm culpas.
"Se fores um fã do Michael Jackson, porque não quererás imitá-lo?", disse, alertando que embora os primatas possam parecer felizes na televisão, é fácil perceber que não o são ao conhecer a complexidade da sua vida social em liberdade.
Além disso, defendeu o zoólogo Ron Orenstein, consultor da associação Humane Society International, as pessoas que compram estes animais não procuram um animal de companhia: "Colecionam-nos como selos e estão preparados para pagar preços elevados por um animal raro".
Por exemplo, a tartaruga de pescoço de cobra da ilha de Roti, altamente ameaçada, pode custar dois mil dólares o espécime, o que a torna ainda mais ameaçada.
"Porque é rara, torna-se ainda mais rara", ironizou Orenstein.
A mensagem de Shepherd para quem esteja a pensar comprar um animal sem ter garantias de que não foi roubado do mundo selvagem é clara: "É simples, não comprem".