A Terra está a rodar cada vez mais devagar e os dias vão ter mais horas

por Nuno Patrício - RTP
A lua está a afastar-se da Terra a tornar-nos mais lentos. Foto: NASA/DR

Se sente que o dia não tem horas suficientes para fazer tudo o que lhe surge pela frente, saiba que há cerca de 1,4 milhões de anos essa tarefa teria sido muito mais difícil. Isto porque a Terra está a abrandar e a Lua pode ter influência direta nessa tendência.

Trata-se de uma travagem difícil de ver a olho nu, mas de acordo com um novo estudo realizado pelos investigadores Stephen R. Meyers e Alberto Malinverno da Universidade de Wisconsin, em Madison, Estados Unidos, o nosso planeta está a rodar cada vez mais devagar.Uma rotação (360 graus exatos) sobre o eixo terrestre dura 24 horas (23h 56min 4,09s). Mas investigadores da Universidade de Wisconsin teorizam que há 1,4 mil milhões de anos, os dias duravam apenas 18 horas.

Na verdade, e de acordo com a teoria matematicamente sustentada, a Terra antiga tinha os dias muito mais curtos, realizando uma rotação a cada 18 horas e os dias que experimentamos atualmente são cortesia da lua.

A Lua está a afastar-se da Terra
Ainda se lembra da série de ficção científica Espaço 1999, em que a Lua se afasta da Terra devido a uma explosão nuclear em solo lunar? Pois não vai ser preciso utilizar meios artificiais para isso acontecer. A Lua está (naturalmente) a afastar-se da Terra, a uma média de quatro centímetros por ano (3,78 cm/a).


"À medida que a Lua se afasta, a Terra é como uma patinadora giratória que desacelera ao esticar os braços", explica o professor Stephen Meyers, da UW-M. Mas esta é apenas uma parte da relação um tanto intrigante entre a Terra e a Lua.
Atualmente a distância média entre os centros da Terra e da Lua é de 385.000,6 km, mas está a afastar-se da terra cerca de quatro centimetros por ano.

Este afastamento é o resultado de uma dinâmica celestial, de efeito atração-repulsão gravitacional, que todos os corpos exercem sobre os outros no universo, e a Lua e a Terra não são exceção.

Atualmente a distância média entre os centros da Terra e da lua é de 385.000,6 km. A distância real varia ao longo da órbita da Lua, de 356.500 km no perigeu a 406.700 km no apogeu, resultando um intervalo diferencial de 50.200 km.

O estudo, publicado na revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências, revela como como Meyers e Malinverno criaram um método para rebobinar o relógio da Terra vários milhões de anos. O procedimento matemático permitiu uma imagem aproximada do que seria a duração de um dia na Terra há mais de mil milhões de anos, no passado, o que poderá explicar melhor as evidências de mudanças climáticas que ficaram registadas em rochas antigas.

Um facto intrigante nesta teoria: se a Lua e a Terra já estiveram mais próximas, há cerca de 1,4 mil milhões de anos, então por que não se aproximaram ainda mais (efeito gravitacional)?

Certo é que ainda há dados que faltam nesta equação, visto que a Lua tem aproximadamente 4 mil milhões de anos e está provado que desde sempre nos tem por companhia.

Meyers juntou-se a Alberto Malinverno da Columbia University para completar esta “teoria astronómica, dados geológicos e uma sofisticada abordagem estatística” no sentido de criar uma ferramenta que lhes permitisse explicar a incerteza da relação entre a Terra e a Lua ao estudar amostras de rochas.

Com base no novo sistema, eles puderam estudar com precisão camadas rochosas incrivelmente antigas - como a Xiamaling Formation no norte da China, que tem 1,4 mil milhões de anos - para determinar como era a Terra naquele momento da história geológica, incluindo a duração dos dias. E, claro, a distância da Lua.

Mas, se depois disto tudo ainda pensa que perdeu tempo ao ler esta notícia cientifica, pois dê-o como bem empregue. Porque no futuro, os cientistas até podem ter mais tempo no relógio, mas todos os minutos poderão ser curtos para evitar a destruição da vida na Terra, tal como a conhecemos, quando a Lua se for embora de vez.
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