Crânio com 55 mil anos sugere cruzamento entre Sapiens e Neandertais

por Nuno Patrício, RTP
Nikola Solic, Reuters

Um pedaço de crânio com cerca de 55 mil anos sugere um possível cruzamento entre o Homo Sapiens e o Homo Neandertalensis - uma descoberta que pode revolucionar a história científica da árvore e da evolução humanas.

Escavações no norte de Israel, perto do Mar Galileu, deram lugar a uma descoberta surpreendente.

Durante a execução de escavações com um buldózer na região de Manot, em Israel, foi posta a descoberto uma gruta que estava soterrada e escondida no interior da terra, que continha restos de ossadas presumivelmente humanas.



As descobertas fósseis, recuperadas e analisadas, revelaram ter cerca de 55 mil anos mas a maior surpresa é o formato do pedaço de crânio encontrado.



A descoberta foi agora divulgada na página eletrónica da revista Nature.

Hershkovitz Materia, antropólogo e autor do achado, diz que o interessante desta descoberta é este pedaço de crânio, datado entre 60.000 e 50.000 anos, ser considerado como pertencente à classe dos homens modernos, o primeiro encontrado fora da África.



"Este é o período temporal em que os modelos apontam para o surgir dos homens modernos na história da evolução da humanidade. Ou seja, os primeiros antepassados de todas as civilizações da vida moderna", refere o antropólogo.



Este achado vem mostrar mais uma vez que a evolução humana é como um filme censurado, uma história ao qual são retirados alguns pedaços por motivos mais púdicos.

Por exemplo, diz Materia, um desses pedaços mostra a nossa espécie a ter relações com uma outra espécie diferente. Seria como um ser humano actual ter relações com um primata e dessa relação nascer uma cria.

Um fator cientificamente pouco provável, mas certamente reprovável para a cultura humana atual. Mas “foi o que aconteceu a Neandertais e Sapiens há dezenas de milhares de anos. Nós ainda não sabemos todos os detalhes do que aconteceu”, refere Hershkovitz Materia na Nature.

Agora, este novo achado fóssil pode recuperar um pouco do “filme” que conta o que somos e como nos formamos. Um “filme” que demonstra que ambas as espécies viveram como caçadores nómadas muito próximos uns dos outros.

Infelizmente diz o antropólogo, o filme a partir dos 50 mil anos a.C. volta a ter partes em branco. Os Neandertais desaparecem e surge informação que coloca o Homo Sapiens em África.

Cinco mil anos depois, a raça Sapiens começam a deslocar em direcção à Europa, enquanto outras espécies enfrentam a extinção, mas as causas são conhecidas.
O primeiro híbrido humano-primata
A dúvida na comunidade científica persiste: será este crânio um dos primeiros híbridos Sapiens e Neandertais? É uma possibilidade, assinalada no estudo assinado por Hershkovitz na revista Nature, juntamente com outros 23 investigadores de Israel, Estados unidos, Alemanha e Áustria.

O crânio tem uma morfologia muito semelhante à dos fósseis de humanos modernos presentes em África e mais tarde na Europa - um fator que reforça a teoria de que este indivíduo era descendente de um ramo Sapiens na evolução humana, que saiu de África há cerca de 70.000 anos.

Estes dados vêm reforçar a teoria de que existiam alguns ramos Sapiens mais evoluídos do que outros mais primitivos, há 100.000 anos, encontrados na mesma área.

No entanto, muitos são os investigadores que alertam e chamam a atenção que é impossível saber se esta ossada pertence a uma das primeiras crianças entre ambas as espécies, analisando apenas a forma do crânio.

A única maneira de saber é através da análise do ADN, defendem, muito embora não seja fácil, devido à possibilidade de o clima desta região israelita ter modificado e destruído com o tempo todo o material genético.

Os autores do estudo, no entanto, conservam alguma esperança, porque a entrada principal para a caverna, bloqueada há mais de 30.000 anos, ficou selada, transformando-se numa "cápsula do tempo".
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