Microplásticos contaminam bivalves no Estuário do Tejo

por Nuno Patrício - RTP
Foto: Mizaweb - Direitos Reservados

O Estuário do Tejo está cheio de micropartículas plásticas. Este é o resultado de um novo estudo liderado pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa que encontrou grandes quantidades de fibras artificiais nos lodos do estuário.

O investigador Pedro Miguel Lourenço, do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da ULisboa, avisa que se trata de micropartículas que estão a entrar na cadeia alimentar da fauna local.

"Há casos em que os bivalves perdem a capacidade de filtrar os alimentos, inflamações, perda de capacidade reprodutiva e morte por envenenamento, quando expostos a estes plásticos", refere o investigador Pedro M. Lourenço.

Embora não sejam totalmente claras as consequências da ingestão deste tipo de material sintético, para os animais, alguns estudos laboratoriais mostraram que em altas densidades é um problema potencialmente grave e que deverá ser monitorizado no futuro.


  Só a Reserva Natural do Estuário do Tejo tem uma área de 141,9 Kms2, que estando integrada no estuario geral poderá estar contaminada com quase dois milhões de partículas de plástico só no primeiro centímetro de sedimento estuarino.
Neste estudo do departamento de Biologia Animal da ULisboa, os investigadores alertam para o facto de os dois bivalves estudados no Tejo - a lambujinha e o berbigão - serem alvo de grande procura e captura.

O investigador Pedro Lourenço refere que o estudo não incide nas consequências que podem advir do consumo das duas espécies de bivalves apanhadas e que, apesar de estarem contaminadas com microplástico, entram regularmente na cadeia alimentar humana.

"As duas espécies estudadas são consumidas pelo homem, são apanhadas em grande quantidade no estuário do tejo e ao consumirem estes bivalves vão estar a consumir microplásticos".

Fibras podem ter origem nas lavagens
Estas fibras, de dimensões reduzidas, segundo o estudo agora divulgado e descrito no artigo "Plastic and other microfibers in sediments, macroinvertebrates and shorebirds from three intertidal wetlands of southern Europe and west Africa", são na sua maioria provenientes de têxteis sintéticos.



No caso do Tejo, suspeita-se que sejam provenientes de lavagens das roupas sintéticas que são posteriormente ingeridas tanto pelos bivalves e anelídeos que habitam o fundo do estuário como pelas aves que se alimentam desses animais.

"No caso do Estuário do Tejo, o valor médio é de 75 mil fibras por metro quadrado. Uma garrafa de litro que estivesse cheia de sedimento do Tejo, se fosse retirado esse sedimento, encontraríamos entre 50 mil a 100 mil pequenos fragmentos de plástico".


O estudo, iniciado em 2012, foi liderado por Pedro M. Lourenço, investigador do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, e por Catarina Serra Gonçalves, na época estudante do mestrado em Biologia da Conservação de Ciências ULisboa.

O estudo agora publicado visou avaliar a abundância de microplásticos no estuário do Tejo e em duas zonas costeiras da África Ocidental ( Banc d’Arguin na Mauritânia e o arquipélago dos Bijagós na Guiné-Bissau), reconhecidas pela sua importância para a biodiversidade, em particular para os muitos milhares de aves limícolas que nelas passam o inverno.

Este trabalho contou ainda com a colaboração da investigadora Teresa Catry e do professor José Pedro Granadeiro, ambos do Departamento de Biologia Animal de Ciências ULisboa, e de Joana Lia Ferreira, investigadora do Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
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