Pó une o Saara à floresta tropical da Amazónia

O deserto do Saara e a Amazónia, apesar de terem um oceano pelo meio, estão ligados e complementam-se - tudo por causa do pó, muito pó.

Nuno Patrício, RTP /
NASA Earth Observatory

A agência espacial norte-americana (NASA) estudou durante vários anos os ventos que circulam entre a troposfera e a estratosfera, uma região que se localiza entre os cinco e os 15 quilómetros de altitude.

Os chamados ventos alísios e os contra-alísios, ou de oeste, sopram em várias regiões do globo terrestre, mas entre faixas de latitude bem definidas.

Foi precisamente através do estudo destes fluxos de ar que a NASA, pela primeira vez, quantificou e construiu num modelo 3D o que transporta a massa de ar que sopra de leste para oeste acima do equador.

O estudo agora apresentado numa representação de vídeo mostra como o maior deserto do planeta está alimentar a maior floresta tropical.
Créditos de vídeo e fotos: NASA's Goddard Space Flight Center

Segundo a NASA, os ventos alísios transportam através da poeira e numa viagem transatlântica minério de fósforo, um precioso elemento e um nutriente essencial que age como um fertilizante e que, devido a forte pluviosidade na Amazónia, não existe em quantidades suficientes para a manutenção do ecossistema verdejante do Continente Americano.



Os dados agora revelados e modelados em 3D foram obtidos a partir dos instrumentos a bordo do satélite de observação Calypso entre 2007 e 2013.

Em média são transportadas desde o Continente Africano cerca de 182 toneladas de poeira por ano, de tal forma que é possível observar do espaço uma nuvem de poeira a atravessar o oceano.

Destas, cerca de 27,7 milhões de toneladas chegam ao outro lado do Atlântico - uma quantidade suficiente para encher 104.908 camiões.



É precisamente nesta migração de poeira que o fósforo extraído do Saara é transportado para a floresta amazónica. Segundo dados revelados pela NASA, a quantidade estimada de fósforo transportada é de cerca de 22.000 toneladas por ano, um valor que corresponde aproximadamente à que foi perdida durante as chuva e inundações na floresta tropical.

Um fenómeno em que a natureza demonstra que nem tudo o que parece rico o é. E que o que parece pobre pode ser vital para a manutenção de um ponto de vida essencial no planeta num sistema de equilíbrios planetários.
Ventos alísios e de oeste
Os alísios são ventos que sopram dos trópicos para o equador e ocorrem permanentemente nas regiões subtropicais, sendo muito comuns na América Central.

Este ventos são o resultado da ascensão de massas de ar que convergem de zonas de alta pressão (anticiclónicas), nos trópicos, para zonas de baixa pressão (ciclónicas) no Equador, formando um ciclo.

São geralmente ventos secos, que muitas vezes provocam tempestades no deserto de areia.

Os ventos contra-alísios, ou de oeste, sopram do Equador para os trópicos, em altitudes elevadas. Ocorrem em duas faixas do globo divididas pela linha do Equador e formam-se pelo aquecimento do ar. Estes ventos secos dissipam a cobertura de nuvens, permitindo que mais luz do Sol aqueça o solo. 
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