Sonda `InSight` chega hoje a Marte para ouvir e conhecer o seu interior

por Nuno Patrício - RTP
NASA/DR

Já falta pouco para a sonda norte-americana InSight (discernimento ou introspeção em português) 'amartar' no planeta vermelho- uma missão da NASA que visa saber mais sobre o interior de Marte.

Após sete meses de viagem entre a Terra e Marte, a uma velocidade de cerca de 10 mil km/h, a NASA tem agora uma nova prioridade: colocar o novo laboratório robótico no solo marciano em segurança.

Uma operação que os engenheiros e cientistas da Agência Espacial Norte Americana programaram no computador da sonda, e agora apenas depende das contas realizadas - sete minutos de descida vertiginosa sobre o planeta, a que apelidam de ”sete minutos de terror”.


Sete anos, sete meses e sete minutos de terror


O novo laboratório espacial concebido pela NASA demorou sete anos a ser construído. Depois para chegar a Marte levou sete meses de viagem. Mas, como se diz na gíria popular que não há duas sem três, o último sete (minutos) vai ser de angústia.

Este é o tempo que pode deitar tudo a perder e destruir todo um programa espacial programado para os próximos dois anos em Marte. Mas que tempo é este tão dramático e porquê? Sete minutos é precisamente o tempo que demora a capsula que transporta a sonda InSight a sair de órbita do planeta vermelho e instalar-se comodamente no solo marciano. "Com Marte, nada é dado como garantido. A ouvir a verdade é difícil", resume Thomas Zurbuchen, diretor científico da NASA.

De acordo com a NASA, a InSight vai entrar na atmosfera de Marte por volta das 19:47 (hora de Lisboa), de forma muito oblíqua, para evitar destruição da carga.

A fricção que a cápsula de proteção vai produzir na atmosfera elevará a temperatura rapidamente a 1.500° C, uma temperatura que será suportada pelo escudo térmico reforçado.

A uma velocidade estimada de 20.000 km/h, a sonda ainda resguardada no escudo térmico terá de observar um retângulo pré-programado na Terra, de 10 quilómetros numa área pré-estabelecida de um total de 24, numa ampla planície, de nome Elysium Planitia. "É como marcar um golo a 130 mil quilómetros de distância", diz a NASA.

A cápsula térmica vai proteger a sonda da alta temperatura provocada pela frição na atmosfera marciana. NASA/DR

Quatro minutos e cem quilómetros mais abaixo, é disparado um pára-quedas automático que travará brutalmente a descida. Nessa altura, a sonda irá separar-se do escudo térmico, as três pernas de pouso abrirão e o pára-quedas soltar-se-á.

"Estaremos em queda livre por um breve momento, o que é absolutamente aterrorizante para mim", diz Tom Hoffman, líder do projeto InSight da NASA.

É então altura de o sensor de altitude atuar e ligar os 12 retropropulsores que vão permitir à sonda abrandar a velocidade até aos 8 km/h, num momento em que a sonda ainda com a deslocação pesará mais de 365 quilos.

Às 19:54, cerca de sete minutos após o primeiro contato com a atmosfera, a InSight deveria finalmente 'amartar'.

A boa nova só chegará oito minutos após a sonda estar instalada em solo marciano, momento em que anunciará ao criador, instalado no Jet Propulsion Laboratory (JPL) em Pasadena, Califórnia, Terra, que chegou bem e está pronta para trabalhar.

"Com Marte, nada é dado como garantido. Ouvir a verdade é difícil", resume Thomas Zurbuchen, diretor científico da NASA.

Desde 2012 que a NASA não envia nada para Marte. Mesmo depois de várias missões, o único objeto terrestre a funcionar em solo marciano é o rover Curiosity. Os russos bem tentaram, assim como os europeus: nenhuma missão foi bem sucedidaUma missão para escutar o interior de Marte
Se tudo correr como programado, a aterragem realizada com sucesso, os cientistas da missão espacial a respirar de alivio, vira-se então a página e passa-se à verdadeira função para a qual ao laboratório robótico foi programado.Levará ainda dois a três meses para o braço robótico da InSight colocar os instrumentos da missão na superfície. Durante este tempo, os engenheiros vão monitorar o ambiente e fotografar o terreno em frente à sonda. Esta missão consiste num vai e vem de informação, entre o que se tem no terreno e o que se pretende fazer.

Na Terra, no centro JPL, a equipa de operações de superfície irá configurar os instrumentos, através de uma réplica funcional do InSight numa "caixa de areia (simulada) de Marte" coberta, que será construída o mais fielmente possível, para coincidir com o local de pouso da missão em Marte.

Só depois disso é que a equipa cientifica verificará se os instrumentos podem ser implantados com segurança.

A sonda InSight deve então colocar os sensores no chão vermelho, escutar e estudar o interior de Marte. Uma investigação que pretende desvendar um pouco mais os mistérios da formação deste planeta. Esse conhecimento permitirá, em comparação, compreender melhor a formação da nossa própria Terra, pois este será até agora o único planeta rochoso de que podemos estudar o interior.


Uma vez que a posição final de cada instrumento é decidida, levará várias semanas para levantar cada um com cuidado e calibrar as suas medições. Então a ciência realmente estará em andamento.

Conheça em promenor a sonda da NASA InSight (clique na foto) - NASA/DR

A sonda norte-americana leva a bordo um sismógrafo francês, com uma proteção em formato de cúpula, que será colocada diretamente sobre a superfície de Marte e ouvirá as vibrações mais ínfimas, tais como ondas de choque provocadas pela queda de meteoritos, tremores de terra, ou deslocamentos tectónicos provenientes dos movimentos de magma nas entranhas do planeta.

Além do sismógrafo, a sonda transportará até à superfície uma pequena sonda perfuradora alemã (HP3), que tal qual um berbequim vai cavar entre 3 a 5 metros abaixo da superfície de Marte, para medir a temperatura interna.

A sonda foi lançada para o espaço no dia 05 de maio, pelo foguetão Atlas V e estima-se que a missão dure dois anos após a instalação do laboratório robótico na superfície de Marte.
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