Superbactéria. Estudo responsabiliza hospitais europeus

por RTP
<i>Klebsiella pneumoniae</i>, espécie de bactéria a ser analisada no Centro Médico de Berkeley, nos Estados Unidos Gary Cameron - Reuters

Um estudo publicado esta segunda-feira na revista científica Natural Microbiolog revelou que os hospitais europeus são os maiores centros de contágio de uma bactéria altamente resistente aos “antibióticos de última linha”. Em 2015, mais de duas mil pessoas morreram infetadas por este microrganismo.

“No caso das bactérias resistentes aos carbapenema, os hospitais são os principais facilitadores da transmissão: mais de metade das amostras que continham o gene da resistência estavam relacionadas com outras amostras do mesmo hospital”, começou por explicar Sophia David, uma das autoras do estudo.

As bactérias estão a espalhar-se de pessoa para pessoa dentro das instituições de saúde”, acrescentou.

Difícil de aniquilar, esta superbactéria contamina, sobretudo, os doentes com deficiências imunológicas pré-adquiridas. Através das constantes mutações genéticas, consegue adquirir uma resistência quase total ao antibiótico mais potente do mercado - carbapenema.

O mais alarmante é que essas bactérias são resistentes a um dos principais antibióticos de última linha", afirmou a cientista Sophia David.

Os autores do maior estudo alguma vez realizado à resistência deste microrganismo afirmaram que os resultados obtidos deveriam “abanar” os responsáveis pelos serviços de saúde.

De acordo com o mais recente estudo publicado na revista cientifica Nature Microbiology, a bactéria Klebsiella pneumoniae provocou a morte de 341 pessoas, há cerca de 12 anos. Em 2015, este número tinha aumentado para os 2094.

“Se não for tomada uma medida para reduzir a disseminação de bactérias resistentes de K. pneumoniae, o problema irá ser cada vez maior“, revelou a cientista.

Da Irlanda a Israel, os cientistas analisaram o código genético deste microrganismo em duas mil amostras de pacientes infetados.

“Pouco mais de metade (52,6 por cento) dos isolados positivos de carbapenema estavam mais intimamente relacionados com outro isolado obtido de um paciente diferente tratado no mesmo hospital. Isso sugere uma transmissão frequente entre pacientes hospitalizados”, lê-se num tweet da cientista.

O que é Klebsiella pneumoniae?


Provoca vários tipos de infeções graves e propaga-se com uma facilidade extrema. Conhecida por conseguir resistir aos antibióticos mais implacáveis, a Klebsiella pneumoniae origina grandes surtos devido à escassez de medicamentos eficazes para a combater.

Esta espécie de bactéria encapsulada – sem ar – pode ser encontrada na água, na terra, em vegetais, nas frutas, nos cereais e até nas fezes.

Basta um vegetal mal lavado ou o consumo de água contaminada para ser possível contrair esta bactéria. Os hospitais também se tornaram num dos locais mais comuns e propícios para ser infetado por este microrganismo.

O aumento da infeção por esta superbactéria pode dever-se “ao uso elevado de antibióticos, à livre circulação de pessoas que podem ser transportadoras dessas bactérias e também por haver alguma quebra das medidas básicas de controlo da infeção”.

Da pneumonia às infeções urinárias, esta superbactéria começa por provocar pequenas dores e calafrios, mas quando se alastra pode chegar a causar a morte do paciente, principalmente em pessoas com o sistema imunológico debilitado.

Estas infeções estão associadas a uma alta taxa de mortalidade", advertiu a cientista Sophia David.

Foi através de uma mutação genética que este microrganismo adquiriu resistência à maioria dos antibióticos. Como se reproduz através de um processo chamado de “conjugação”, esta espécie torna-se peculiar.

Invés de apenas “copiar” e criar “clones automáticos”, esta bactéria adquire as componentes das bactérias com que acasala, adquirindo um novo código genético que a protege contra os antibióticos mais potentes.

A evolução desta espécie, a nível dos genes, permite a este microrganismo produzir uma enzima capaz de “mastigar e destruir” o medicamento quando este entra no corpo humano, tornando-o completamente inútil.O que pode ser feito?
O tratamento pode não ser fácil, logo a prevenção assume um papel bastante importante. O primeiro passo para lidar com bactérias resistentes a medicamentos passa por evitar obtê-las.

O devido isolamento, os cuidados adequados quando se transferem doentes entre hospitais e a monitorização eletrónica das bactérias podem ser algumas das soluções para prevenir um novo surto desta superbactéria.

Com uma boa higiene hospitalar, que inclui a identificação precoce e o isolamento de pacientes portadores dessas bactérias, não só podemos atrasar a disseminação desses patogénicos, mas também controlá-los com sucesso", assegurou Hajo Grundmann, um dos professores da Universidade de Freiburg.

Uma das formas mais simples e eficazes de prevenir este tipo de infeções também pode passar por lavar as mãos adequadamente e utilizar, posteriormente, álcool para as desinfetar.
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