Conversa Capital com Vítor Bento, Presidente da Associação Portuguesa de Bancos

por Antena1

Foto: Antena1

Os bancos estão disponíveis para continuar a pôr em prática medidas que o Estado considere úteis para apoiar a economia, mas não há necessidade de fazer regressar as moratórias.

Em entrevista à Antena1 e ao Jornal de Negócios, o presidente da Associação Portuguesa de bancos, Vitor Bento, considera que mais cedo ou mais tarde, é inevitável a subida das taxas de juro para combater a inflação, seguindo a tendência já posta em prática pelos Estados Unidos.

E, apesar de perceber que a medida pode prejudicar o crescimento económico e aumentar o incumprimento, Vítor Bento lembra que a subida das taxas de juro devia ter estado sempre presente nos cálculos das famílias e das empresas. Diz mesmo que seria imprudente não o terem feito, porque o cenário que se está a viver de taxas baixas e até negativas durante tanto tempo, era anormal. Vítor Bento acredita que quanto mais cedo se combater a inflação melhor porque, caso contrário, depois serão necessárias medidas mais duras. Admite que possa aumentar o incumprimento num cenário de recessão, mas os bancos estão preparados para o que possa vir a acontecer: “Estão capitalizados para enfrentar um choque dessa natureza”, diz. Ainda assim, não vê necessidade de um regresso das moratórias.

Vitor Bento não se pronuncia sobre a possibilidade de emissão conjunta de divida pela UE, defendida por Durão Barroso para financiar os custos de energia. Admite que o aumento da energia pode trazer perda de rendimento para o país, mas pede contenção nas medidas porque, afirma, às vezes as soluções tornam-se mais complicadas do que o problema. Lembra também que este choque é um choque tradicional, diferente do que aconteceu na pandemia, cujas consequências podem ser duradouras, e por isso sugere também prudência nas medidas a adotar.

Apesar das adversidades do momento, Vitor Bento acredita que no atual contexto de crise económica, Portugal tem algumas vantagens em ser periférico, porque a onda de choque demora mais tempo a chegar e nalguns casos tem efeitos menores. O presidente da APB não acha implausível, tal como referiu o ministro das Finanças, que Portugal continue a registar uma recuperação significativa.

Para o próximo governo, Vitor Bento espera ver na pasta das Finanças mais do que um técnico, um bom político, com capacidade de gestão e de liderança. A Associação Portuguesa de Bancos pretende vir a reunir-se com o novo ministro das Finanças para reivindicar o fim do adicional de solidariedade no próximo orçamento do Estado, uma vez que o fundamento para ser cobrado, deixou de existir. Vitor Bento pretende ainda defender junto do governo o fim da contribuição para o Fundo de Resolução, que prejudica os bancos portugueses, face aos que operam fora do país. Ainda assim, admite que poderá não existir vontade política para acabar com a contribuição para o fundo de resolução.

Entrevista conduzida pelos jornalistas Rosário Lira, da Antena1 e Hugo Neutel do Jornal de Negócios
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