África. Centenas de pessoas fogem de centros de quarentena por falta de condições

por Joana Raposo Santos - RTP
O continente africano possui, até ao momento, mais de 111 mil casos de infeção pelo novo coronavírus. Foto: Baz Ratner - Reuters

As fracas condições sanitárias dos centros de quarentena improvisados em países africanos estão a levar a que centenas de pessoas fujam das instalações onde deveriam cumprir o isolamento obrigatório, numa altura em que o número de casos de Covid-19 em África ascende a mais de 130 mil.

No Malawi, país da África Oriental, mais de 400 pessoas repatriadas da África do Sul e de outras regiões fugiram na semana passada de um centro de quarentena montado num estádio da cidade de Blantyre.

De acordo com as autoridades de saúde e a polícia locais, a ausência de equipamentos de proteção individual impossibilitou que a fuga fosse evitada.

Pelo menos 46 das pessoas que escaparam desse centro improvisado testaram positivo para a Covid-19. De acordo com a imprensa local, algumas dessas pessoas disseram ter subornado a polícia para conseguirem fugir.

Outro incidente em Malawi aconteceu na cidade de Mwanza, junto à fronteira com Moçambique, de onde 26 pessoas fugiram enquanto aguardavam os resultados dos testes de diagnóstico à Covid-19. Houve ainda oito pessoas infetadas a fugirem de um outro centro de isolamento em Blantyre. No Quénia houve pelo menos uma fuga em larga escala. Noutros países africanos, como Gambia, Gana, Nigéria, Uganda e Namíbia, também foram registadas fugas de pessoas em quarentena.

No Zimbabué, a polícia anunciou recentemente a fuga de 148 pessoas de centros de isolamento onde estavam a cumprir quarentenas de 21 dias, obrigatórias para todos os que regressem ao país vindos do estrangeiro.

“A segurança foi aumentada nos centros de quarentena e estamos a tomar medidas para reparar as paredes e as vedações de segurança de algumas das instalações”, garantiu um porta-voz da polícia do Zimbabué.

A ministra da Informação desse país, Monica Mutsvangwa, tinha já dito no início do mês de maio que os locais utilizados como centros de isolamento, entre os quais escolas, faculdades e hotéis, iriam ver a segurança aumentada. O Governo sugeriu ainda que existem seguranças a aceitar subornos dos infetados e suspeitos de infeção por Covid-19 nesses centros para que os deixem sair mais cedo.
Falta de condições nos centros de isolamento
Quase todos os 75 novos casos de Covid-19 registados no Zimbabué na semana passada foram detectados nesse tipo de centros de isolamento em pessoas que tinham regressado de países vizinhos, nomeadamente África do Sul e Botswana.

As queixas sobre a falta de condições nas instalações são generalizadas, mas o Presidente do Zimbabué, Emmerson Mnangagwa, já alertou que os repatriados não devem esperar luxos. “Podemos tentar cuidar deles, mas não podemos fornecer instalações semelhantes a hotéis de cinco estrelas”, explicou esta semana.

Norman Matara, secretário-geral da Associação de Médicos do Zimbabué, contou ao Guardian que o distanciamento dentro dos centros é praticamente impossível, o que representa um risco acrescido para quem lá permanece e para o país em geral.

“É perturbador. Revela que há pessoas a serem infetadas em centros de quarentena. As pessoas não deveriam partilhar os mesmos espaços nem comer em zonas de refeição sobrelotadas”, defendeu o responsável.
Obrigados a pagar pelas despesas
No Quénia, onde pessoas também já fugiram deste tipo de centros, a organização não-governamental Human Rights Watch denunciou a falta de condições das instalações e a ausência de camas, comida, água e bens de higiene. Algumas das pessoas lá colocadas queixaram-se à ONG de que não lhes eram comunicados os resultados dos testes à Covid-19 e que os funcionários não utilizavam equipamentos de proteção.

“Dormi numa cama sem colchão e sem nada para me tapar”, contou um homem de 22 anos à Human Rights Watch. “Disseram-me que tinha de pagar pela água”.

Outras pessoas descreveram condições semelhantes e contaram ainda que, quando alguém não consegue pagar as despesas que lhe são cobradas pelos centros, as autoridades prolongam o período de quarentena para mais de 30 dias em vez dos 14 obrigatórios.

O continente africano possui, até ao momento, mais de 111 mil casos de infeção pelo novo coronavírus. O número pode ser, no entanto, muito superior, uma vez que a testagem nesses países é baixa. Há já mais de 47 mil pessoas recuperadas no continente, enquanto o número de óbitos está perto dos três mil.
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