Angolanos retidos em Luanda queixam-se da escassez de transportes interprovinciais

por Lusa
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Cidadãos "retidos" em Luanda devido ao estado de emergência veem-se a braços para regressar às províncias de origem, no âmbito do levantamento da cerca sanitária interprovincial devido ao novo coronavírus, queixando-se da "falta de transportes" e dos preços.

Com o alargamento do estado de emergência para mais 15 dias, que teve início em 11 de abril, as autoridades angolanas decidiram levantar a cerca sanitária para possibilitar que cidadãos viagem para as províncias de origem.

Sábado e domingo foram os dias eleitos para a mobilidade excecional de passageiros a nível das províncias angolanas, dias em que terminais de transportes rodoviários, sobretudo em Luanda, registaram "enchentes anormais".

O Presidente angolano, João Lourenço, diante do cenário de procura de bilhetes e lugares para viagens interprovinciais decidiu na noite de domingo alargar até a meia-noite de hoje o levantamento da cerca sanitária.

No derradeiro dia de exceção para viagens interprovinciais, em Luanda, vários cidadãos ávidos em regressar às províncias de origem queixam-se do reduzido número de transportes nos terminais rodoviários e dos elevados preços.

Luciano Ndau, "retido" em Luanda nos últimos 15 dias por conta do primeiro turno do estado de emergência, que visa contar a propagação da covid-19, contou à Lusa que teve uma "quarentena difícil", sobretudo devido a "falta de alimentação".

Ansioso em regressar ao Huambo nesta "janela de oportunidade" queixou-se do elevado preço da passagem, entre os 15.000 e os 18.000 kwanzas, referindo que não conseguiu viajar no fim de semana devido às enchentes.

No terminal Interprovincial AFC-Cris, no município angolano de Viana, em Luanda, Estêvão Domingos também falou em "enormes sacrifícios" enfrentados durante a quarentena na capital angolana.

"Fiquei aqui, cumpri o estado de emergência com muitas dificuldades, porque não moro aqui, principalmente com a alimentação, por ser Luanda uma cidade muito cara e passei os 15 dias com muito sacrifício", lamentou.

Com as malas feitas para regressar à província do Huambo, o estudante, que aplaudiu o levantamento da cerca sanitária, falou igualmente em escassez de transportes, sendo que os que aparecem "cobram entre os 15.000 e os 20.000 kwanzas".

"E não temos essas condições criadas, estamos aqui desde manhã com fome e sol e é muito complicado", desabafou, manifestando, no entanto, crença em seguir viagem ainda hoje "apesar dos transtornos".

Nelson Paulino, da direção do terminal Interprovincial AFC-Cris, confirmou a "agitação de passageiros verificada no fim de semana", referindo que o dia hoje está relativamente calmo, mas com limitações de motoristas.

Segundo o responsável, os meios de que dispõem seguem "rigorosamente" as medidas do estado de emergência, como lotação de apenas um terço de passageiros, sustentando que o `handicap` reside na "disponibilidade dos motoristas".

"Agora a complicação que temos é que muitos motoristas que vivem aqui em Luanda já não querem arriscar viajar para o Huambo com receio de já não regressaram e os que estão a viajar são apenas os motoristas que vivem no Huambo", afirmou.

Medidas de higienização, como a lavagem das mãos são seguidas pelos passageiros que são igualmente controlados por um técnico de vigilância sanitária.

Já no terminal do "Ti Show", também em Viana, passageiros também relataram dificuldades para embarcar para a província angolana do Huambo, como a comerciante Melita Albina, que se queixou dos "poucos dias do levantamento da cerca sanitária".

"Os dias que o Governo nos deu são poucos, depois aqui em Luanda tem muita população, sabíamos apenas que o último dia seria ontem e agora hoje já não tem táxi e estamos aqui à espera desde manhã", lamentou.

No entanto, com a viagem confirmada de regresso à província angolana de Malanje, estava o camponês Pedro Zumba, retido 15 dias em Luanda por decidir visitar os filhos.

"Sábado e domingo houve muito engarrafamento, não tivemos hipótese, fomos à procura dos bilhetes de passagem, não conseguimos, mas como aumentaram mais um dia hoje vou já viajar", disse à Lusa no terminal interprovincial da TCUL, no munucípio do Cazenga.

A "satisfação" por regressar a casa, em Malanje, foi igualmente manifestada por Lucrécia Arsénio Negrão, que narrou dificuldades no decurso da quarentena na capital angolana, afirmando ter noção da "letalidade" do novo coronavírus.

Angola, que cumpre hoje o terceiro dia da extensão de mais quinze dias de estado de emergência, conta com 19 casos positivos da covid-19, entre os quais 13 ativos, dois óbitos e dois recuperados.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 114 mil mortos e infetou mais de 1,8 milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

Em África, há registo de 788 mortos num universo de mais de 14 mil casos em 52 países.

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