Covid-19. Cerca de 80 milhões de bebés em risco de falhar vacinação

por Andreia Martins - RTP
Reuters

De acordo com estimativas da Organização Mundial de Saúde, cerca de 80 milhões de bebés em todo o mundo podem ficar sem vacinação contra doenças como a difteria, sarampo ou a poliomielite, devido à disrupção dos serviços de saúde por causa da pandemia de Covid-19.

Os dados da agência da ONU para a saúde mostram que a imunização de rotina para bebés com menos de um ano está a ser fortemente afetada. A OMS estima que 80 milhões de bebés poderão falhar ou terão já falhado vacinação crucial para evitar a disseminação de outras doenças como a poliomielite, sarampo, febre tifoide, febre amarela ou cólera.

A situação de pandemia, que afeta vários países e regiões do planeta, veio causar uma disrupção sem precedentes na vacinação desde os anos 70, altura em que se generalizaram os programas nacionais de vacinação.

Em comunicado, a OMS diz que mais de 53% dos 129 países analisados deram conta de disrupções “moderadas a severas”, ou mesmo a suspensão total dos serviços de vacinação entre os meses de março e abril de 2020.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, alerta que a imunização pela vacinação “é uma das ferramentas mais poderosas e fundamentais para a prevenção de doenças na história da saúde pública”.

“A disrupção destes programas devido à pandemia de Covid-19 ameaça várias décadas de progresso na luta contra doenças que podem ser eliminadas com a vacina, como o sarampo por exemplo”, acrescentou o responsável.   

As razões que explicam a interrupção ou menor acesso a estes serviços são variadas, refere a Organização Mundial de Saúde. Se por um lado há pais que receiam sair de casa e levar os filhos a centros de saúde, por receio de contaminação, há também a questão da falta de equipamentos de proteção individual e de uma menor disponibilidade por parte dos profissionais de saúde para a vacinação, perante a necessidade de destacar mais recursos humanos na resposta à pandemia.

Noutros casos, a ausência de vacinação deve-se aos atrasos no transporte das vacinas. De acordo com a UNICEF, houve em março e em abril um atraso significativo na entrega de vacinas em alguns países e locais de vacinação devido às medidas de bloqueio impostas em várias partes do mundo, nomeadamente com a diminuição drástica de voos.

“Não podemos permitir que a nossa luta contra uma doença venha por em causa os progressos alcançados a longo prazo na luta contra outras doenças”, enfatizou a diretora executiva da UNICEF, Henrietta Fore.

A vacinação contra duas doenças - o sarampo e a poliomielite - foi particularmente afetada: pelo menos 27 países viram suspensas as campanhas de imunização contra o sarampo e 38 países os programas de vacinação contra a poliomielite.

A própria Organização Mundial de Saúde ordenou no final de março a suspensão temporária de campanhas de vacinação contra a poliomielite em vários países, por receio que grandes aglomerados de pessoas levassem a uma maior transmissão da Covid-19.
Avaliar o risco
Numa altura em que vários países começam a levantar as medidas de restrição e em que a imunização contra outras doenças não pode ser colocada em risco, a OMS recomenda, no entanto, que os países retomem as campanhas de vacinação com avaliações de risco específicas e adaptadas aos países e regiões.

Por exemplo, as autoridades sanitárias devem olhar para a dinâmica local da transmissão da Covid-19 ou para a capacidade dos respetivos sistemas de saúde em dar resposta às necessidades atuais.

De forma a recuperar o tempo perdido nos últimos meses, a Organização Mundial da Saúde vai divulgar na próxima semana novas guidelines para que os países mantenham ou retomem os programas de vacinação de forma segura.

Em comunicado, a OMS assinala que se realiza no início de junho, em Londres, uma cimeira global sobre vacinação que vai contar com a presença de vários doadores internacionais com vista ao financiamento da Gavi, a aliança global para vacinação que junta parceiros públicos e privados, com especial foco na imunização nos países mais pobres.

A preocupação com o impacto da Covid-19 na vacinação tem também sido registada em Portugal. A Direção-Geral da Saúde fez já vários apelos ao longo dos últimos meses para que a vacinação, sobretudo das crianças, não seja descurada em tempos de pandemia.

De acordo com os dados das autoridades de saúde, o número de vacinas administradas em Portugal em abril caiu para quase metade em comparação com o mesmo mês em 2019. Em março, a queda foi de 13 por cento. 
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